Os mais críticos diriam que a Bahia e o mundo, passados 40 ou 20 anos, continuam os mesmos. Razoável ou não, a afirmação se confirma em dois dos maiores filmes baianos, clássicos incontestáveis do cinema underground . Meteorango Kid - O Herói Intergalático (André Luiz Oliveira, 1969) e Superoutro (Edgar Navarro, 1989), realizados há respectivamente quatro e duas décadas, continuam muito atuais.
As duas fitas tratam dos dramas de dois personagens perdidos diante de suas épocas e ilusões, que se desfacelam à sua frente sob o aspecto de inadequação no mundo e os transformam em impecáveis anti-heróis. O louco vivido magistralmente por Bertrand Duarte e sua tentativa alucinada de compreensão do mundo que de aventura em desventura desemboca na tentativa de voar ; o alienado Lula, jovem de família burguesa que faz da sua inconsequência válvula de escape e contraponto à hipocrisia ao seu redor, finalizando com a metáfora da negação de sua pomposa festa surpresa de aniversário.
Desde o primeiro, o Brasil viveu uma ditadura militar, a juventude testou os limites dos costumes, a tecnologia saltou com sua força andróide. O óbvio seria pensar, ao imaginar um olhar que de fora observasse, que este encontraria uma outra sociedade e, alma dela, outros jovens, outros ideais. Ao assistir os dois filmes, porém, fica a lacuna: o que mudou desde então nos discursos, nas ações, nas brigas e anseios dos jovens? Não é uma pergunta fácil, mas é possível arriscar com grande chance de acerto
Pouca coisa mudou. Com o decréscimo, porém, que não há uma ditadura militar, como em 1969, e nem o fim dela, em 1989, amplificando os significados. De uma incipiente estética pop, estilizando o trash e bradando discursos em letreiros/outdoors, câmera inquieta, montagem rápida e som caótico, até mesmo tecnicamente os ideais parecem os mesmos. Mas eles fizeram há tanto tempo…
E o que dizer então da falta de recursos? Hoje, não sem certa razão, jovens cineastas usam a falta de apoio como desculpa para a falta de produção. Mas e a falta de criatividade? E o peito para ser marginal e vencer a barreira do dinheiro? E a criatividade não seria a forma mais eficiente e original de vencer essas limitações?
Não se vê hoje, no cinema baiano, filmes que tenham potência e fôlego para serem lembrados daqui a 40 ou 20 anos além do retrato estático de uma época, e nem vale a pena falar deles, basta conferir com seus próprios olhos. Superoutro e Meteorango Kid, ao contrário, continuam em movimento, assim como os Novos Baianos, parte da trilha de Meteorango (com músicas de Morais Moreira e Paulinho Boca de Cantor) e toda a música e cultura tropicalista, revisitada com afinco pela juventude atual.
Talvez porque pouca coisa tenha mudado realmente. Hoje não se produz nada tão forte, e a molecada tinha mesmo bala na agulha e coragem de ser marginal, outsider, rebelde. Coragem de peitar os seus tempos e incongruências.
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