sábado, 18 de julho de 2009

OSCAR SANTANA: HOMEM DE CINEMA


OSCAR SANTANA

Falar em Oscar Santana é falar de cinema baiano, pois um pioneiro como Roberto Pires, Rex Schindler, Braga Neto, Luis Paulino dos Santos... Se o cinema baiano tem seus primórdios e a presença de Alexandre Robatto Filho, dominando a cena nos anos 30 e 40, é, porém, a partir dos meados do decurso dos 50 que se começa a pensar na constituição de uma cinematografia, com o curta Um Dia na Rampa, de Luis Paulino dos Santos, e as experiências de Roberto Pires (O Calcanhar de Aquiles, entre outros), que, trabalhando na ótica de seu pai, conseguiu inventar uma lente cinemascope que denominou de igluscope – referência e homenagem à empresa cinematográfica Iglu Filmes – com a qual filmou Redenção a partir de 1956 – e que somente ficou pronto três anos depois, em 1959. Oscar Santana trabalhou junto com Pires nesse filme pioneiro, que abriu os olhos de outras pessoas interessadas em cinema na Bahia, porque Redenção, em cartaz no Guarany, era uma realidade.

Redenção foi deflagrador do chamado Ciclo Bahiano de Cinema, que apareceu entre 1959 e 1963, quando se estabeleceu uma efervescência criadora com a proliferação de vários longas-metragens, chegando mesmo o historiador francês Georges Sadoul a escrever em Les Lettres Francaises que a Bahia era a “Meca do cinema brasileiro” Oscar Santana estava presente em tudo e, porque homem de mil instrumentos, muito ajudou a consolidar este período único na história do cinema bahiano, participando como assistente, ator e diretor de seus próprios filmes. Lembro-me dele fazendo um falso aleijado em A Grande Feira (1961), de Roberto Pires.

Oscar Santana também é pioneiro no cinejornalismo, criando, com outros, A Bahia na Tela, na época em que as “atualidades” eram imprescindíveis como complementos nacionais antes do longa-metragem. Mas a grande façanha de Oscar Santana foi ter sobrevivido à derrocada do Ciclo – que acabou por causa da dificuldade de vencer a barreira da distribuição mesmo em território nacional: o capital investido não retornava. Criando a Sani Filmes, continuou – e continua – a fazer cinema até hoje. Levou, por muitas décadas, sendo o único empresário baiano bem sucedido na área de cinema, com documentários premiados pelo apuro técnico, alto grau de carpintaria e artesania.

O Ciclo Bahiano de Cinema surgiu como reflexo de um momento histórico altamente favorável, quando em Salvador havia um movimento muito grande em torno das artes. Era o período JK no qual os artistas estavam entusiasmados. Com o Ciclo, tentou-se criar, aqui, uma indústria de cinema, com continuidade na realização de filmes. Assim, apareceram produtores como Rex Schindler (o maior de todos e o mais importante, pois também argumentista e realizador), Braga Neto, David Singer, Palma Netto, Winston Carvalho, que financiaram filmes para Glauber Rocha, Roberto Pires, entre outros. E algumas empresas se estabeleceram (Iglu, Polígono, Winston Cine Produções, a de Palma Netto...). O sucesso do Ciclo atraiu para o deslumbrante décor baiano, cineastas do eixo Rio-São Paulo e estrangeiros que, aqui chegando, ficaram encantados com tanta luminosidade. No meio de tudo isso, movimentava-se Oscar Santana.

Que tem um longa no Ciclo Bahiano de Cinema: O Caipora (1963), filme produzido por Winston Carvalho, com um elenco da terra: Carlos Petrovich, Milton Gaúcho, Maria Conceição, Adélia Prado, Leonel Nunes, entre outros. A preocupação temática de Oscar Santana seguia a linha do social predominante na época: a procura da abordagem de problemas referentes ao drama do homem brasileiro. Petrovich faz o papel-título, o de um homem amaldiçoado pelo azar, considerado “caipora”, uma pessoa rejeitada no seu meio interiorano, que acaba por se enredar no amor proibido: apaixona-se pela bela filha do coronel (Gaúcho tem, aqui, um de seus momentos memoráveis com este desempenho de “homem-mau”). A fotografia capta a luz com grande maestria. O Caipora, exibido em dois cinemas soteropolitanos -vi-lo no antigo Tupy e fiquei admirado com a iluminação e o preto e branco - fez sucesso.

Foi preciso esperar quase 12 anos para Oscar Santana poder realizar o seu segundo longa: O Pistoleiro, que reflete o drama de um homem condenado a ser um matador profissional.A artesania de Oscar Santana, sua acuidade na construção da narrativa, a preocupação em bem contar a história através dos elementos da linguagem cinematográfica, estão bem marcadas em O Pistoleiro.
Que, lançado no auge da Embrafilme, teve, nesta, o impulso distribuidor tão necessário à circulação dos filmes, pois não adianta produzir se o filme ficar pronto, se não se tem uma distribuidora eficiente para marcá-lo em boas salas de exibição.Entre O Caipora e O Pistoleiro, abriu a Sani e neste interregno nunca parou de fazer cinema. Até que, em 1982, produziu o premiado O Mágico e o Delegado para Fernando Cony Campos (baiano de Castro Alves) dirigir. Com muitos projetos na cabeça, Oscar Santana não pára. Pioneiro do cinema baiano, conseguiu, com êxito, ultrapassar todos os obstáculos e continuar em ação.Oscar Santana é, por assim dizer, um homem-cinema, porque da sétima arte entende de tudo.

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