Por Leonardo Freitas
Em 2006, durante a turnê do álbum “A Foreign Sound”(único do cantor em inglês), o diretor Fernando Grostein Andrade documentou a passagem de Caetano Veloso por países como Brasil, Estados Unidos e Japão. A ideia era fazer um grande making of, porém o material bruto resultou em 57 horas de gravação e o resultado dessa edição pode ser conferido em Coração Vagabundo (2009), que estreia no país dia 24 de julho.
Revelando a intimidade do cantor e compositor baiano, o documentário acompanha incessantemente o músico durante a visita a cidades como São Paulo, Nova York, Tóquio e Kyoto, além de contar com a participação de cineastas como Pedro Almodóvar e Michelangelo Antonioni, da modelo Gisele Bündchen, da atriz Regina Casé e do músico escocês David Byrne.
Produzido por Paula Lavigne e Raul Doria, Coração Vagabundo se concentra em mostrar o reconhecimento de Caetano Veloso no exterior, dando margem para criar uma maior proximidade com sua vida íntima e profissional.
Percorrendo ruas e lugares dos países pelos quais passou, desvendamos certas curiosidades dessas culturas ao mesmo tempo em que suas declarações tocam em diversos temas, como cinema, MPB e a fama – tanto nacional como internacional. Inclusive, isso é visto nas pessoas que cruzam seu caminho fora do Brasil, reconhecendo-o pela sua importância histórica musical, seja nas ruas de Nova York ou, até mesmo, em um templo budista no Japão.
Com seu jeito naturalmente humilde, calmo e elegante, o filme é um deleite para os ouvidos, em que acompanhamos Caetano cantando em inglês, espanhol e italiano, sendo entrevistado por emissoras norte-americanas e se apresentando em locais como o Carnegie Hall, na qual dividiu o palco com David Byrne, grande admirador não só de Caetano, mas da música brasileira em si.
A intimidade com a ex-mulher Paula Lavigne também é retratada, exibindo um Caetano bem-humorado, brincalhão, com uma alma quase infantil algumas vezes. Tais registros são, em certos momentos, tomados por períodos de melancolia do artista, que interage boa parte do tempo com diretor e câmera, quase como um bate-papo com os espectadores. À vontade, Caetano discorre de assuntos mais complexos, como a impressão que as pessoas têm dele, de imaginarem que vão encontrar uma estrela inatingível quando, na verdade, ele é apenas um cara comum.
Mas o ponto principal do filme, acredito, é tratar da música (seja ela brasileira ou não) em relação ao mundo e ao próprio Brasil. Em uma declaração polêmica, Caetano afirma, por exemplo, que a música norte-americana é a mais importante do século 20. A declaração lhe rendeu uma crítica formal do músico Hermeto Pascoal, que discordou completamente de sua opinião.
Recheado de canções como “Proibido proibir”, “Michelangelo Antonioni” (música em italiano que Caetano dedicou ao cineasta), “O estrangeiro” e “Terra”, o filme conta com as internacionais “Blue skies”, “If it´s Magic”, “So in Love”, “Nothing but flowers”, além da canção que dá título ao filme, em versões interessantes e que misturam ritmos musicais como o reggae e pitadas de música eletrônica.
No entanto, Coração vagabundo perde pontos pela sua câmera frenética, que causa incômodo ao espectador, com imagens tremidas que ultrapassam o suportável. Nos quesitos favoráveis, temos a proximidade com o músico, a escolha musical da trilha e, especialmente, as considerações de Caetano sobre essa não-aceitação dos estrangeiros em relação à música popular brasileira (que existe, mesmo não sendo explicitada no documentário).
Simples, com uma boa edição e musicalmente interessante, Coração Vagabundo merece ser conferido.
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