Cheguei no Capão em 1986, 6 pequenas casas de forasteiros novos moradores no vale, uma delas do pai de Waldemar, ali era o embrião de uma comunidade alternativa que agregava a cultura indígena impregnada nos conhecimentos dos nativos com o espirito livre e as diversidades dos viajantes que aqui iam se aportando.
Logo, com os casais que fundaram o Lotheloren atraindo novos viajantes que se tornariam moradores, nos tornamos referencia mundial em comunidade, a ideia de um Capão auto sustentável era o objetivo da nossa comunidade, o respeito incondicional ao próximo, o ambientalismo na veia e a confraternização universal ditando as regras, e assim nasceu o que se pode chamar de estilo “capônico” de se viver.
20 anos depois passamos a nos tornar também referência em cura pela natureza, Dr. Áureo se tornou uma referencia do naturismo, varias clinicas especializadas em terapias holísticas agregaram esta cultura ao nosso estilo “capônico”, e continuamos nossa jornada evolutiva como indivíduos que buscam o desconhecido, a cura da alma, a farmácia da natureza, a liberdade...
Os moradores construíram a escola de seus filhos, e ainda em 1995 havia a fagulha da motivação coletiva para a comunidade e com muito sacrifício a comunidade construiu o coreto da praça...
Esse era o Capão de ontem...
Hoje, há poucos meses, diante de uma má gestão da coleta de lixo no vale, saía com minha namorada de madrugada limpando os jiraus, ensacando adequadamente o lixo espalhado por maus educados e ornamentando os jiraus com grama, pedras com pinturas rupestres e envernizando as estruturas de madeiras... De madrugada, anonimamente...
Em 48hs roubaram 37 placas de grama do jirau dos Campos, ali eu percebi que os moradores do vale não eram mais os mesmos, não foram turistas que roubaram 37 placas de grama, para colocarem em mochilas e irem fazer trilhas, foi morador que roubou o que já era da comunidade toda.
Que tipo de morador passou a ter o vale do ano 2000 em diante?
Tentei acender mais uma luz no vale em 2019, tentei implantar o “Amazônia Forever”, o projeto vencedor do maior concurso do Banco mundial, era simples, bastava cada pousada, cada hotel, disponibilizar de vez em quando em suas áreas de entretenimento cursos de ambientalismo, assim direcionaríamos o turista do Capão, chamaríamos de preferência os que já são despertos, ao invés de ficar recebendo gente que temos de dizer para não jogar lixo nas trilhas...
A velha guarda, meus amigos de 35 anos de Capão me disseram: - O Capão não é mais o mesmo Edie...
Eu, enganado, achei que eles haviam enriquecido e esquecido o espirito comunitário que os trouxeram aqui, mas eles estavam certos...
O Capão de hoje demora anos para construir um banheiro para os turistas da praça, a 20 anos construiríamos em um fim de semana de mutirão comunitário, o Capão de hoje permite que uma obra pública que veio verba para uma empresa capacitada construísse o calçamento da ladeira de acesso a vila, fosse feita por funcionários da prefeitura relocados de suas funções e o responsável pela obra era o porteiro noturno de uma escola, ao invés de um engenheiro no local conforme a lei obriga e eu mesmo procurei para apontar as falhas estruturais durante a bizarra execução do calçamento. O capão de ontem jamais permitiria isso, as mulheres retadas do Capão não deixariam...
No Capão de hoje roubam o sino da pizzaria do morador ilustre que tanto nos orgulha, o próprio Dr. Áureo me contou que doeu mais o socorro na ambulância nos buracos até o asfalto do que a própria fratura nos quadris...
Eu, de 1986 pra cá nunca fiquei 3 meses sem vir no Capão, morei aqui por 4 vezes e em breve, assim que isso mudar eu volto, aqui é o meu lar e o lar de muita gente do bem, gente feliz, que transborda amor, que confraterniza, que alegra a vida do próximo.
Essa corja de "pombo sujo" vai e o Capão fica, faça a sua parte, não adote um pombo sujo em suas hospedarias, casas de aluguéis e afins...
*Edie Meireles é empresário e ambientalista.
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