terça-feira, 27 de junho de 2023

EXTRA, EXTRA:

 


Paola Publio (Casa Afrânio Peixoto), Alexandre Aguiar ( Pres.CECE OAB,/ BA)  Domingos Leonelli e Ronaldo Senna

Por Alexandre Aguiar 

EXTRA, EXTRA:  O encontro do Eco Socialista Criativo Domingos Leonelli com o Homem que entrevistou o Diabo

É necessário pedir licença as pessoas mais velhas, mais novas e as pessoas iguais, antes de adentrar no assunto deste pequeno artigo de opinião, que traz a narrativa  do encontro entre o político Domingos Leonelli e o antropólogo Ronaldo Senna, na cidade de  Lençóis, a pretexto de abordar aspectos da vida cultural, política, social e econômica do povo brasileiro, no contexto do Estado da Bahia, sobretudo, do ponto de vista da liberdade de expressão, para levantar premissas no campo da ontologia e das linguagens simbólicas, que visam esclarecer ambiguidades do cotidiano, de interesse da cultura e dos direitos culturais, porém menos importantes do ponto de vista da religião ou da concorrência política.         

Acontece que demonstrando um olhar enigmático, Domingos Leonelli chegou em Lençóis na Chapada Diamantina e mesmo sem planejamento, terminou sendo alvo de uma atração magnética, pelo spin dos elétrons, comum entre as pedras de diamantes, em sintonia com o ditado popular de que “as pedras se encontram”,  nesta celebração junina cercada de mistérios e incertezas, em que após  passagem pelo Largo do Tamandaré, na encruzilhada do meio da rua das Pedras, ao se deixar levar pela própria sorte, o confrade acaba indo parar no quintal da residência do líder da reação sertaneja (1919- 30) o Coronel Horácio de Matos.

Sentando em uma cadeira, sem fazer qualquer esforço, lá estava com um sorriso maroto, o cientista social e antropólogo Ronaldo Senna, isso mesmo, o homem que entrevistou o diabo em carne e osso, o que segundo o próprio, devido as ironias do destino, aconteceu por três ocasiões, sendo duas vezes como Lúcifer, nas pessoas de Bel de Deus e Orosimbo Gonçalves, em Feira de Santana - BA e Poços de Caldas - MG e uma última vez, personificado com a alcunha de Sr. Lúcio, na pessoa de Pai Miranilson, em Lençóis –BA, local do decisivo encontro cosmológico do astral, nas alucinações do desejo, que podem se realizar com maior facilidade (diálogos, SENNA) se o pedido for feito com fé, durante a execução de dois saltos mortais sequenciais e acrobáticos de um capoeirista.

Provocado, o Constituinte de 1988, disse que: “- A serpente que rompeu a casa do ovo ainda está ouriçada”, o que transpareceu aos interlocutores da Chapada Diamantina que os socialistas brasileiros parecem estar estudando alquimia para encantar a caninana de uma vez por todas, porém, contudo, os chapadeiros fizeram conversas ao pé de ouvido com o corajoso encantador de araboia, Domingos Leonelli, para encomendar das entranhas do Brasil profundo, com fé e confiança nas rezas das benzedeiras e no roncar dos tambores de homens livres, todas depositadas na cruz do Morro do Pai Inácio, com algumas bramuras mundanas, da interdisciplinaridade entre filosofia, ciências humanas, sociais  e as sociais aplicadas.   

Supostamente para fazer valer a Carta e superar a maldição que se abateu nas Lavras Diamantinas, Exu quer de seu filho o pagamento das enxadas, enxadões e enxadetes em substituição aos almocafres,  peneiras, bateias e cerca de 18 toneladas de armamento e munição que o coronel Horácio entregou na Campanha de Desarmamento do Sertão, no que entendia ser um incremento da cultura do garimpo e pecuária com a agricultura, porém, ao invés disso o impronunciável, ou seja, o capiroto, coisa ruim,  lhe pagou com um tiro pelas costas, numa história recoberta por mentiras, onde ficam inventando que foi preciso uma bala de prata dormir nas partes de uma Yalaorixá da Bahia por sete dias e sete noites, para assassinar Horácio de Queiroz Matos, na cidade do Salvador, em 15 de maio de 1931.    

Esta é, em destaque, a grande covardia, que arruinou a aristocracia dos diamantes e o povo da civilização lavrista de diamantes e carbonatos da Bahia, levando as cidades dos garimpos da Chapada Diamantina à miséria e pobreza, privados da coragem, bravura e astucia do grande líder e chefe Horácio, o verdadeiro governador do Sertão, então é uma obrigação irrenunciável, orientar a bancada socialista no Congresso Nacional a garantir três museus em Lençóis, sendo eles: (1) o museu da residência de Horácio, (2) o museu dos diamantes (antiga prefeitura/IPHAN), (3) o museu da diversidade de crença, culto e fé (Chalé de Exupério e Francina), este último em homenagem aos Professores Ronaldo Senna e Maria Andrade.

A dívida da república com a civilização dos diamantes não é pequena, então é preciso ter consciência de garantia dos direitos culturais  e do patrimônio cultural (Art. 215 e ss. da CF) como instrumento de combate a fome e erradicação da pobreza, tomando o poder dos corpos garimpeiros e de seus descendentes, como espaços de poder, em sintonia com as orientações do filósofo francês Michel Foucault, em palestra sobre as Malhas (Camadas) do Poder, ministrada na faculdade de filosofia e ciências humanas de São Lazaro em 1976,  onde ao ser perguntado sobre a liberdade de expressão dos corpos dos capoeiristas baianos, Foucault disse que neste sentido, “a liberdade nunca é demais”.  

Em relação a aula baiana sobre Malhas do Poder de Michel Foucault (UFBA/1976), o contexto autoritário, colonialista de exploração, racista, machista, homofóbico, misógino, de guerra às drogas, punitivista e de repressão da Ditadura Civil Militar (1964-85), atrapalhou os baianos na hora de compreender com precisão o ensinamento do livre pensador francês, para nos tornar possível difundir com mais assertividade, desde aqueles dias de medo no Estado da Bahia, a promoção de investimentos públicos adequados nos corpos que livremente se expressam através das artes, inclusive, com o domínio da sexualidade, para nos desvencilhar do sexo, bem como, o investimento no patrimônio cultural material e imaterial, de modo a promover geração, distribuição e circulação de riquezas.

Estratégia de investimento semelhante já adotada nos Estados Unidos da América - EUA em 1933, após a quebra da bolsa de valores de Nova York, com a WPA (Work Progress Administration)  em que a administração do progresso pelo trabalho, adiante inspirou a China em 1992, que uns poucos anos após o massacre da Praça da Paz Celestial, decorrente dos protestos políticos na Pequim de 1989, anima o setor cultural  de maneira focal na revolução simbólica, que apelidaram de revolução mística, a partir do horóscopo Chinês, para amenizar o impasse político, o que desde a abertura de 1978 com Deng Xiaoping permite aos Chineses anunciar em 2018, com Xi Jinping, ou seja, 40 anos depois, o alcance da retirada de cerca de 800 milhões de Chineses da extrema pobreza.

Para ficar eternizado como o mago da liberdades no Sertão da Bahia, Domingo Leonelli, ainda terá que se virar nos 30, para encontrar tesão aos 77 do segundo tempo, encantar a indústria de produção e distribuição do cinema e audiovisual brasileira, para inserir o chefe Horácio de Matos, o jagunço Montalvão e João Requizado, o cangaceiro solitário, este último roteizizado por Orlando Senna, em homenagem ao escritor lavrista Américo Chagas, nas plataformas de streaming do Mundo, com o encaminhamento e aprovação da PEC da Sofrência e a subscrição pela bancada socialista estadual da Bahia, de um requerimento de concessão do titulo de cidadão baiano ao cearense Francisco Humberto Cunha Filho, autor da teoria dos direitos culturais, fundamentos e finalidades:

“Direitos culturais são aqueles afetos às artes, às memórias coletivas e aos fluxos de saberes, que nos permitem conhecer honestamente o nosso passado, compreender e interferir ativamente no nosso presente, antever e quem sabe até planejar o nosso futuro, sempre preocupados com o desenvolvimento, a dignidade da pessoa humana e a paz.” (CUNHA FILHO, 2018)   

No bicentenário da independência da Bahia, torna-se então uma tarefa foucaultiana, a reconfiguração do poder, para romper o imobilismo social imposto as Lavras Diamantinas com o encantamento definitivo da serpente, na precisa atuação do Eco Socialismo Criativo, para esgarçar suas habilidades, onde a pertinência teórica e emblemática implica em migrar do pensamento eurocêntrico, com a atração dos demais partidos, ao ajuste prioritário da revolução simbólica, através da qual o orixá Xangô deseja o riso do orixá Exú para libertar o Brasil, a partir do investimento nuclear no campo dos novos direitos ou direitos emergentes, em que a visão de mundo afro-indígena-brasileira poderá revelar qual é a cara, a veia e a cor do país, na certeza de que nossa revolução cultural simbólica mais parece ser coisa de inquices e caboclos, do que propriamente de horoscopo.

SOBRE O AUTOR: AGUIAR, Alexandre Almeida é advogado, palestrante e assessor jurídico, especialista em Direito Previdenciário, participa no Grupo de Estudos e Pesquisas em Direitos Culturais GEPDC/UNIFOR, Presidente da Comissão Especial de Cultura e Entretenimento da OAB/BA (2022 – 24)

 

REFERÊNCIAS 

 

AGUIAR, Alexandre Almeida. Direitos Culturais: Que tal uma “PEC da Sofrência” para o povo deixar de sofrer? Disponível em: < https://www.conjur.com.br/2023-jun-08/alexandre-aguiar-tal-pec-sofrencia > Acesso em: 27/06/2023;

 

CUNHA Filho, Francisco Humberto. Teoria dos Direitos Culturais: fundamentos e finalidades. 2ª ed. Editoras Sesc: São Paulo, 2018;

 

                  . Direitos Culturais como Direitos Fundamentais no Ordenamento Jurídico Brasileiro. Brasília: Brasilia Jurídica, 2000;

 

MILANEZ, Nilton. Foucault na Bahia: a liberdade nunca é demais. Documentário, Laberdisco. Disponvel em: < http://nilton-milanez.blogspot.com/2017/01/foucault-na-bahia-liberdade-nunca-e.html > Acesso em: 27/06/2023;

 

SENNA, Ronaldo e outro. A Remissão de Lúcifer: o resgate e a ressignificação em diferentes contextos afro-brasileiros. Feira de Santana: Editora UEFS, 2002.

 

 

 

 

 


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