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sábado, 10 de janeiro de 2009

O CORNETEIRO LOPES

Diretor Lázaro Farias


Wladimir Cazé - Correio da Bahia

Curta-metragem mostra batalha baiana travada entre portugueses e brasileiros pelo domínio do país

Episódio pouco conhecido da Independência do Brasil, a Batalha de Pirajá vai ser reeencenada no curta-metragem O Corneteiro Lopes, primeira película de ficção do diretor baiano Lázaro Faria, que terminou de ser rodado na quarta-feira passada, com filmagens na Igreja da Conceição da Praia (Cidade Baixa). O roteiro - escrito por Faria com a colaboração de Paulo Caldas, Manuela Dias, Claudio Nigro Luis Wanderhausem - foi um dos ganhadores do Prêmio Coni Campos 2002 de Cinema da Secretaria da Cultura e Turismo da Bahia. "Foi uma luta insana, mas cumprimos o prazo e conseguimos momentos maravilhosos", diz o diretor, que recebe esta semana o copião e, na seqüência, começa a montagem. O lançamento está previsto para o próximo dia 2 de julho.

O filme (em 35mm e dolby digital) terá custo total de mais de R$150 mil, sendo que R$70 mil são provenientes do prêmio governamental. O projeto também prevê um DVD - com o curta, o making of e depoimentos de historiadores, militares e educadores -, que será distribuído em escolas e bibliotecas. Estão no elenco o ator português Nuno Lopes (da novela global Esperança) e os brasileiros Leandro Firmino da Hora (o Zé Pequeno de Cidade de Deus), Thalma de Freitas (da também global Laços de família), Gideon Rosa e Paolo Ferreira.
Ocorrida na madrugada de 7 para 8 de novembro de 1822, nos arredores de Salvador, a Batalha de Pirajá foi decisiva para a rendição das tropas portuguesas sitiadas na cidade. Embora a independência do Brasil tivesse sido decretada dois meses antes, a ordem de entrega do comando da Bahia ao imperador Pedro I não fora reconhecida pelo general português Madeira de Melo, que assumiu o controle de Salvador. O filme vai mostrar a batalha da artilharia com que os portugueses tentaram surpreender os brasileiros e furar o cerco montado pela resistência local, liderada pelo general francês Labatut.
Durante essa batalha, o corneteiro português Luiz Lopes, que integrava as tropas de Labatut, recebeu a ordem de tocar uma "retirada", mas - até hoje não se sabe por que - tocou a ordem de "avançar cavalaria degolando". O toque assustou o exército lusitano e mudou o desfecho do conflito. O palco de guerra foi reproduzido cenograficamente nas proximidades de Arembepe. "Reproduzimos com 35 figurantes uma situação que envolveu 12 mil pessoas", disse Faria ao Folha.
O Exército apoiou a produção, através da 6ª Região Militar, que ofereceu ajuda em logística, fardamento de época, armas e pessoal de figuração, além de peritos em explosões. O especialista em efeitos especiais Farjala, da TV Globo, foi convocado para as filmagens. A trilha sonora está a cargo de Bau Carvalho (guitarrista dos Lampirônicos), que vai gravar uma versão moderna do Hino ao 2 de julho.
Mistério histórico - O roteiro foi baseado numa entrevista que o historiador Cid Teixeira concedeu ao diretor, também autor do argumento. "Pesquisei em Portugal, na Torre do Tombo e no Museu Ultramarino e não encontrei muita informação sobre Lopes. Cid Teixeira foi a pessoa que deu mais subsídios para o roteiro, inclusive elementos imaginativos", diz Faria.
Como o motivo histórico para Lopes ter desobedecido a ordem de Labatut é desconhecido, o filme conta uma versão romanceada, que inclui uma escrava por quem ele estaria apaixonado. Segundo Faria, Luiz Lopes tinha cerca de 40 anos e há 20 morava no Brasil, onde veio tentar a sorte na carreira militar. "Ele não tinha interesse em voltar a Portugal e se os portugueses ganhassem a batalha, certamente seria enforcado como traidor. Isso era motivo suficiente para chutar o pau da barraca", interpreta o diretor. "O fato é que os toques de ''retirada'' e ''avançar cavalaria degolando'' são totalmente diferentes. Não há a possibilidade de ter sido engano", opina.
Faria já dirigiu vídeos publicitários e institucionais e estreou na ficção com O segredo do faraó (1998). Também cuidou da produção e da direção de fotografia do curta Lua violada, de José Umberto Dias, produzido com o prêmio da Secretaria de 2001.