quarta-feira, 25 de julho de 2012

O QUE É CINEFILIA?

Beto Magno e Jorge Mello (JM). Para os que nasceram na era do vídeo, e, agora, do disquinho mágico, nada muito surpreendente. Mas para aqueles, como eu, que nasceram em priscas eras, em meados do século passado (1950, para ser mais preciso), com o tempo passando rápido - ó, tempo, suspende o teu vôo! -, o advento do VHS foi uma surpresa, e a do DVD, com tantos dreyers e bergmans, minnellis e langs, hawks e fellinis, espalhados por aí, quase um assombro. Alguém já disse que foi pelo assombro que o homem começou a filosofar, mas, isto, outra história. Acontece que, antigamente, as imagens em movimento somente eram possíveis de ser contempladas no escurinho das salas exibidoras, havendo, para isso, de se pagar um ingresso. A televisão, naquela época, era muito ruim em termos de imagem. Assim, havia duas características no que diz respeito à psicologia da recepção: a inacessibilidade e a impossibilidade de o espectador intervir na temporalidade. Na primeira, quando dentro do cinema, e sala enorme, com quase dois mil lugares, verdadeiros palácios, a imagem que se via na tela era algo mágico, inacessível. Lembro-me que havia um senhor que vendia fotogramas de filmes na Praça da Piedade (aqui em Salvador), e que também oferecia para compra uma lata que, devidamente furada, continha, em uma de suas extremidades, uma lente de óculos que permitia ver os fotogramas com mais nitidez do que a olho nu. Se um determinado filme era exibido e, por acaso, estivesse doente ou viajando, retirado de cartaz, podia perdê-lo para sempre, excetuando-se os grandes sucessos que sempre eram recolocados. E, na segunda característica, a impossibilidade de intervenção na temporalidade. Projetado o filme, este se desenrolava na tela - ou no écran, como se dizia então, e ninguém podia pará-lo, retrocedê-lo, avançá-lo, salvo se entrasse na cabine de projeção e, revólver em punho, ameaçasse o operador. Mas a inacessibilidade e a temporalidade se tornaram favas contadas com o surgimento do VHS e do DVD. Há, inclusive, creio, uma perda da aura cinematográfica. Se os disquinhos funcionam como o resgate do cinema, por outro lado, no entanto, perdeu-se a magia do espetáculo, visto em comunhão numa platéia. O indivíduo hoje já nasce vendo imagens em movimento e, por isso, elas se tornaram vulgares no sentido de corriqueiras. Quando me contaram que, nos Estados Unidos, inventaram um aparelho pelo qual se podia ver filmes, que ficavam dentro de uma caixinha, não acreditei. Era o vídeo que então estava inventado e restrito ao território de Tio Sam. Precisei, como São Thomé, ver para crer, o que aconteceu em torno da metade dos anos 80, quando comprei o meu primeiro aparelho de VHS, um Sharp, que me deu muito trabalho de sintonizar. E as cópias eram péssimas. Precisou-se esperar que o DVD surgisse para que o cinema recebesse uma punhalada nas costas (na região pulmonar). E atualmente ir ao cinema é entrar num festim diabólico onde reinam as pipocas, as conversinhas fora de hora, os celulares que, atendidos, infernizam o espectador que queira contemplar o filme. O público de cinema, no Brasil, pelo menos, se tornou uma espécie de patuléia desvairada. Repito sempre que o ir ao cinema hoje é uma das fases do shoppear. Não se vai mais ao cinema, esta a verdade, mas aos shoppings. Até mesmo nas salas ditas alternativas o público se comporta com apatia e as pessoas gostam mais de aparecer, porque, na sua grande maioria, pseudo-cinéfilos, pseudo-intelectuais. Mas vou contar uma história. Corria o ano de 1973. Estava no Rio de Janeiro a passar as férias de julho. O jornal da época era o Jornal do Brasil, com seu excelente Caderno B. Neste, tomei conhecimento que Ladrões de bicicleta ia ser exibido na Cinemateca do Museu de Arte Moderna numa única sessão pela tarde. Conhecia muitos filmes, nesta ocasião pré-vídeo, de ouvi dizer e de leitura, alguns importantes com muitas informações. Era o caso de Ladri di biciclette, de Vittorio De Sica, que nunca tinha visto por falta de oportunidade e, também, porque nunca foi exibido em Salvador durante o meu itinerário existencial (depois passou algumas vezes). Assim, fiquei a postos, esperando o horário, com certa expectativa, aliás, que não tenho mais para quase nada. Chovia fino. Entrei na sala da saudosa Cinemateca. Mas, quando saí, um toró se abateu sobre a cidade, que ficou completamente engarrafada. Difícil pegar um táxi. Depois de algum padecimento embaixo da marquise do museu, resolvi ir andando do Flamengo, onde fica este, até Laranjeiras, onde estava hospedado. Cheguei encharcado e, no outro dia, com febre alta, ameaçado de pneumonia. Mas estava feliz por ter visto Ladri di biciclette. Atualmente, tenho-o em VHS e DVD, que fica guardado, parado. Não seria mais possível um sacrifício tal para ver um filme. Tenho um amigo, por exemplo, que ia sempre a Paris para se meter na Cinematheque Française e ficar o dia todo vendo obras clássicas. Hoje tem um home theater em sua casa e há anos que não viaja. Viajava somente para ver filmes. A cinefilia, como se praticava antigamente, está morta, e bem enterrada. André Setaro

terça-feira, 10 de abril de 2012

ENCONTRO DE MESTRES


Orlando Senna, Ricardo Miranda, José Walter Lima, Roberto Farias, Miguel Littin e Zelito Viana. Foto histórica de um almoço realizado em São Paulo

Por André Setaro
Uma constatação no momento presente é a de que, desde os anos 80, o cinema perdeu o status político que tinha nas décadas de 50, 60, principalmente, e na de 70. Havia uma vontade de conscientizar platéias e, com o cinema, mudar o mundo. Na Argentina, Fernando Birri (Mi hijo El Che), Fernando Solanas (no seu antológico Hora de los hornos: Notas y testimonios sobre el neocolonialismo, la violencia y la liberación, 1968, Perón: La revolución justicialista, 1971)), no Chile (Miguel Littin), na Italia (Francesco Rosi, Elio Petri, entre tantos), no Brasil (Glauber Rocha, Ruy Guerra...). A indústria cultural de Hollywood engoliu, porém, a cinematografia italiana, por exemplo, e o ímpeto transformista perdeu o seu ânimo, ainda que existam, atualmente, vozes isoladas que clamam por um cinema de denúncias, a exemplo do americano Michael Moore. Ir ao cinema, nos efervescentes anos 60, era um ato político, e o travelling, segundo Godard, uma questão de moral.

Descendente de imigrantes gregos e palestrinos, o chileno Miguel Littin, que esteve há poucos meses no Brasil para o lançamento de Dawson Ilha 10, pode ser considerado uma das reservas morais do bom cinema político latinoamericano. Seu cinema é um cinema de denúncia, sim, mas sem apelar para o panfleto, e sempre à procura de um tom para a disposição de sua fabulação. Salvador Allende, o presidente que foi assassinado durante o golpe em setembro de 1973, foi quem o indicou para a direção da companhia cinematográfica Chile Films, depois do grande sucesso alcançado por seu primeiro longa O Chacal de Nahueltoro, de 1969, que causou grande impacto na sociedade chilena por denunciar a situação de marginalidade dos homens do campo.

Com a intervenção armada, patrocinada por Kissinger & Nixon, Littin se viu obrigado a abandonar o seu país, levando nos braços os negativos de La tierra prometida, cuja finalização somente foi conseguida em território cubano. Um homem de esquerda, portanto, um cineasta enragé, mas que, nos seus filmes, demonstra a ideologia por meio do poder de convencimento de suas imagens. Uma característica bem acentuada de suas constantes temáticas é a recriação de fatos reais para mostrar, sempre, a opressão sofrida pelo seu povo. No exílio após a ascensão de Pinochet, estabeleceu-se primeiro no México e depois na Espanha. A sua carreira cinematográfica, no entanto, ainda que enfrentando muitos obstáculos, continuou, chegando, inclusive, a ter, em 1981, seu filme Alsina e el condor indicado para concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

Miguel Littin, num ato de bravura e coragem, apesar dos conselhos dos amigos, que o desestimulavam, resolveu voltar ao Chile e durante dois meses, escondido, conseguiu filmar a vida de seus compatriotas sob a opressão de uma ditatura sanguinária naquele que é talvez a sua obra-prima: Acta general del Chile. A experiência, inclusive, virou tema de um livro-reportagem do colombiano Gabriel García Márquez, que escreveu nos anos 80 A aventura de Miguel Littín clandestino no Chile. Feito com a colaboração de equipes estrangeiras, Acta general del Chile resultou numa película em duas versões: uma de quatro horas, para ser exibida, em partes, na televisão, e outra, de duas horas, para o cinema.

Cineasta do figurativo, realista, que procura, em seus filmes, ser fidedigno ao real que reconstrói, o cinema de Miguel Littin , sobre conter um potencial ideológico e de denúncia de um estado de coisas, prende-se mais ao elo semântico do que ao elo sintático (compreendido este como a linguagem, a maneira de o realizador articular a sua narrativa). Antes de passar o recado em suas obras, Littin persegue a consciência da verdade, a exatidão dos fatos narrados, ainda que reconstituídos. Um western marxista, como Atas de Marusia (Actas de Marusia, 1975), é exemplar nesse sentido. No México, além deste, realizou mais quatro filmes de sucesso e iniciou, junto com Luis Buñuel e outros cineastas, um movimento para afirmação de uma identidade para o cinema latino-americano, de que resultou o Festival do Cinema Iberoamericano de Huelva.

Segundo palavras de Antonio Skarmeta, "Miguel Littín teve uma vida excepcional como criador de uma filmografia marcante na história cinematográfica latino-americana. Ele esteve permanentemente comprometido com uma visão autêntica de questões e personagens chilenos, utilizando-se de uma linguagem original e bela. As críticas nacionais e internacionais avaliaram seu trabalho algumas vezes e indicaram-no para Palma de Ouro, em Cannes, e para o Oscar em duas ocasiões."

"Seu filme El Chacal de Nahueltoro é uma inquestionável obra-prima na história da cinematografia mundial e ainda hoje é considerado como uma importante forma de militância contra a pena de morte nos centros internacionais judiciais, universais e políticos que discutem a causa."

Em Dawson - Ilha 10, uma co-produção entre Brasil (leia-se José Walter Lima e sua produtora VPL), Chile e Venezuela, baseado no livro Isla 10, de Sergio Bitar, que foi aprisionado na ilha quando do golpe de Pinochet no Chile, Littin procura mostrar o sofrimento de ministros e ex-colaboradores de Allende que foram aprisionados na ilha após a intervenção militar. Mas o que poderia ter resultado num filme maniqueísta, ainda que a notória aversão do autor à ditadura instalada, desdobra-se numa espécie de estudo de comportamentos de homens numa situação-limite, procurando sempre o viés do humanismo. Afinal de contas, Littin vê todos os seus personagens como chilenos que se debatem numa desumana guerra civil. O acúmulo de personagens, todavia, faz com que o filme se disperse e se dilua, perdendo, com isso, uma maior estruturação psicológica dos alguns personagens chaves, como o arquiteto, interpretado pelo baiano Bertrand Duarte (O homem que não dormia, O Superoutro), o próprio Bitar, feito pelo ator chileno Benjamin Vincuña, entre outros. Em alguns momentos, o acúmulo citado prejudica a clareza da exposição.

Há, por outro lado, momentos de humanismo, quando um soldado oferece uma fruta a um dos prisioneiros, a se ver no gesto, a solidariedade e, ao mesmo tempo, a brutalidade a que foram conduzidos chilenos obrigados, mesmo sem vontade explícita, a representar o papel de opressores. Ou na cena em que o sargento pede ao arquiteto para ir buscar um presente que sua esposa lhe mandou - um pote de geléia com pão - e ambos, sentados na escadaria da igreja, solidarizam-se no compartimento do alimento. Ou, pouco antes, quando os dois pulam na escada da igreja reconstruída e riem como crianças. No campo de concentração da Dawson, cada prisioneiro é despersonalizado e recebe o nome de Ilha. O nome do filme, Ilha 10, refere-se ao nome do prisioneiro com este número, que é o ministro das Minas e Energia, Sergio Bitar, que, quando na ilha escreveu um diário no qual Littin se baseou para fazer o filme.

Entre a narrativa e a fábula, Miguel Littin, em Dawson - Isla 10, dá mais impulso à segunda, e a utilização dos elementos da linguagem cinematográfica é feita de um modo suave a fim de que o aspecto figurativo do real seja preponderante. A beleza da ilha é flagrada com especial sentido de composição pela iluminação discreta de Miguel Littin Ioan (filho do diretor). Mas como ressalta o seu pai: "A presença visual de três níveis de realidade é uma parte fundamental da narrativa de Dawson Ilha 10. Passado, presente e futuro fazem parte de uma mesma verdade: dignidade. Isso aparece através da presença humana no primeiro nível da história. A verdade se torna evidente através de uma fotografia que olha para o ser humano com uma aproximação lúcida. Realismo, mas não naturalismo. Busca e recriação, não é imitação sem expressividade. "Se história conta o heroísmo diário daqueles que resistiram e derrotaram a pressão, a abordagem visual deve ser rigorosa e de acordo com a natureza do relato."

quinta-feira, 29 de março de 2012

OLHOS DE ÁGUIA (O FILME)


OLHOS DE ÁGUIA: Walasi è um rapaz recém chegado do Brasil e vai morar num apartamento conturbado cheio de usuarios de drogas. Ele vai a uma festa e conhece um vidente que lhe transmite uma mensagem , por conicidencia vai a uma igreja evangelica e conhece o irmao do vidente que diz a mesma mensagem que o confunde. Walasi sai do apartamento onde eh atinjido por um grande crime. Filme que mistura mesagens religiosas e a epidemia do craque da comunidade brasileira que vive nos EUA.
Dirigido por Alex Ferro.
com Robson Lemos,Claudia Beleli,Leila Ribeiro,Simoneide Almeida,Wendel Kuat Ferrari,Ze Pereira.

terça-feira, 27 de março de 2012

FILME FEITO POR ATORES BRASILEIROS NOS ESTADOS UNIDOS

http://www.youtube.com/watch?v=dxLrG5Rhht0&feature=shareo

RAZOR é a obra de PLINIO MARCOS: NAVALHA NA CARNE traduzida em ingles, este trailer é da peça que o filme será gravado em junho de 2012.

DOCUMENTÁRIO SOBRE RAUL SEIXAS



Elenco: Depoimentos de Paulo Coelho, Nelson Motta, Tom Zé, Pedro Bial e Caetano Veloso.
Direção: Walter Carvalho e Evaldo Mocarzel
Gênero: Documentário
Duração: 100 min.
Distribuidora: Paramount Pictures
Estreia: 23 de Março de 2012
Sinopse: Documentário sobre vida e obra do maior ícone do rock brasileiro, desvendando suas diversas facetas, suas parcerias com Paulo Coelho, seus casamentos e seus fãs, que ele continua a mobilizar 20 anos depois de sua morte

quarta-feira, 14 de março de 2012

CURSO DE CINEGRAFISTA / OPERADOR DE CAMERA DE VIDEO PROSSIONAL

CAP ESCOLA DE TV E CINEMA DA BAHIA




CURSO CINEGRAFISTA / OPERACAO DE CAMERA PROFISSIONAL
Inicio: 19 / 03
Datas do curso: 19/03 – 20/03 – 21/03 – 22/03 – 23/02 ( de segunda a sexta das 19 as 22h) e 24/03 (sábado das 9 as 13h)
Conteúdo: curso prático – o aluno aprende a operar câmera profissional de TV;planos e movimentos de câmera; lentes, noção básica de iluminação, etc.
Professor: Kleiton Cintra
Investimento: R$ 450,00
Forma de Pagamento:
* em até 2x de R$ 225,00 (cheque ou cartão)
* R$ 385,00 a vista

Kleiton Cintra, gravando projeto do governo da Bahia
CAP ESCOLA DE TV E CINEMA DA BAHIA (71) 3240.3964

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

WALTER LIMA



Por André Setaro

Cineasta, pintor, e, principalmente, agente cultural, José Walter Pinto Lima, mais conhecido como Waltinho, já está a fazer quase meio século de vida cinematográfica na província da Bahia. Conheço-o desde meados dos anos 60, quando participava ativamente de grupos ligados a cinema e era frequentador das sessões do saudoso Clube de Cinema da Bahia. Para ser exato, vim a conhecê-lo quando de um curso de cinema na Escola de Sociologia e Política (fechada logo depois pela ditadura), em 1967, que ficava logo no princípio da Ladeira da Barra. Um curso de um mês, mas que reuniu quase todas as pessoas interessadas pela arte do filme. Yves de Oliveira, sociólogo, diretor da escola, aceitou a sugestão de Carlos Alberto Vaz de Athayde e cedeu uma sala para a realização do curso, que foi ministrado pelo próprio Athayde, Orlando Senna, e Carlos Vasconcelos Domingues. Walter Lima, nesta época, estava envolvido com as filmagens de O carroceiro, de seu amigo Ney Negrão, que se encontrava em processo de pós-produção.

Assistente de direção do consagrado Meteorango Kid, o herói intergalático, de André Luiz Oliveira, no qual também aparece como ator, Walter Lima pautou sua vida no desejo de fazer cinema. E o fez, apesar de todas as dificuldades da expressão cinematográfica numa cidade como Salvador. Foi o primeiro a gravar em VHS um documentário de collage chamado Brasilianas. Seu registro sobre o músico Walter Smetak, O alquimista do som, é hoje um documento sobre o extraordinário instrumentista. Outro filme de Walter, uma ficção meio godardiana, Nós, por exemplo, tem Edgard Navarro como um dos intérpretes. E, recentemente, reconstituiu um longa que estava inacabado há vinte anos: O império do Belo Monte, com acréscimos atuais, mas conservando as tomadas do pretérito, que mudou de nome e foi apresentado como Antonio Conselheiro, o taumaturgo do sertão.

O cinema de José Walter Pinto Lima é um cinema com fortes acentos de Glauber Rocha e Pier Paolo Pasolini, como pode ser observado em Antonio Conselheiro, o taumaturgo do sertão, obra poemática, cujo ritmo se estabelece mais pela retórica do que pela fabulação. Admirador de Jean-Luc Godard, a influência deste não se faz notar na obra citada, porque uma temática mais chegada aos arroubos glauberianos, que pedia um discurso cinematográfico mais retumbante em sua sintaxe, que acumula materiais de procedências diversas: animação, fotos, narração em off em alguns momentos, declamações poéticas etc.

Mas o que gostaria de ressaltar em José Walter Pinto Lima é seu lado de gestor cultural. Muita gente não sabe (ou finge não saber), mas Waltinho, desaparecido o Clube de Cinema da Bahia sob a regência de Walter da Silveira (que morreu em novembro de 1970), foi quem deu continuidade à sua proposta de difusão do bom cinema através da exibição de filmes no Auditório da Biblioteca Central, que depois, em 1986, viria a se chamar Sala Walter da Silveira.

Iniciadas as exibições no Auditório da Biblioteca Central em 1977, a princípio feitas na bitola de 16mm e apenas uma vez por semana, os primeiros anos foram tímidos em termos de programação, ainda que, no ano seguinte, já se projetasse em 35mm e de quarta a domingo. Foi a partir do advento de Walter Lima como Coordenador da Imagem e do Som (antigo nome para o diretor do atual DIMAS) que houve um impulso considerável. Walter Lima conseguiu ampliar os dias de exibição e trazer para a Bahia mostras de cineastas como Jean-Luc Godard, Luis Buñuel, Robert Bresson, Sergei Eisenstein, entre tantos, e, principalmente, a partir da denominação de Sala Walter da Silveira, esta virou um cinema lançador de filmes raros e expressivos que não interessavam ao mercado exibidor.

Naquela época, anos 80, não havia ainda o DVD nem mesmo o VHS, e a nova geração não conhecia os filmes de um Godard, de um Buñuel, de um Bergman etc. O cinéfilo ficava ao sabor das circunstâncias do mercado exibidor. Conhecia-se mais cinema pela leitura de livros e revistas (falo do cinema mais autoral) do que pela visão dos próprios filmes. Se hoje, por exemplo, é muito fácil se ver qualquer filme (basta baixá-lo da internet em 5 minutos com computador de banda larga com 2MB) ou ir à locadora mais próxima, há vinte anos, perdido o filme no seu lançamento, dificilmente se teria a oportunidade de vê-lo novamente. Quando Walter Lima exibiu, por exemplo, Deus e o diabo na terra do sol, de Glauber Rocha, o público lotou completamente o auditório, com gente saindo pelo ladrão.

José Walter Pinto Lima, promotor cultural, realizou um grande trabalho à frente da Coordenação da Imagem e Som da Fundação Cultural do Estado da Bahia. Ninguém mais, depois dele, ousou tanto e promoveu tantos eventos. Os concursos de roteiros, outro exemplo, foram iniciados por ele, antes dos editais governamentais do terceiro milênio. A origem do tão festejado Três histórias da Bahia está num concurso de roteiros para a premiação de uma trinca de curtas que depois foram reunidos no longa citado.

E, para não esquecer, Walter Lima conseguiu solucionar um impasse quase intransponível para que a Sala Walter da Silveira pudesse lançar filmes. A burocracia estatal, como se sabe, trabalha na base de empenhos e demora para pagar. E as distribuidoras não aceitavam lançar filmes na sala dos Barris. Walter conseguiu uma reformulação para que fosse aberta uma exceção e da renda da bilheteria pudesse ser retirada a parte que cabia a distribuidora sem a necessidade do pachorrento empenho. A gestão seguinte, porém, desfez a exceção tão necessária, ocasionando a decadência da Sala Walter da Silveira, que não pode mais lançar filmes novos nem velhos de distribuidoras comerciais, contentando-se com filmes de embaixadas e consulados, apesar dos esforços do atual programador Adolfo Gomes, crítico e estudioso do cinema. Sobre a Sala Walter da Silveira e essa questão do empenho, e a tentativa de desburocratixzação de Walter Lima, escreverei um artigo à parte.

E o Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual, que agora se chama Cine Futuro? É simplesmente o maior festival de cinema da Bahia e um dos eventos mais importantes do Brasil. Quem, senão Walter Lima, conseguiria trazer nomes tão importantes como Costa-Gavras, Miguel Littin, o biógrafo de Truffaut, o redator-chefe do Cahiers du Cinema, entre tantos outros. Na última noite do seminário do ano passado, impressionado fiquei com o depoimento de Bertolucci, que, convidado para o Cine Futuro, não pôde comparecer, mas mandou uma gravação que foi exibida. Ele diz: "Fiquei triste em não poder aceitar o convite de meu velho amigo Walter Lima!"

Com esta, acho que disse tudo.


P.S: José Walter Pinto Lima foi um dos produtores de Dawson - Ilha 10 (Dawson - Isla 10), do chileno Miguel Littin, uma produção internacional

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

AS INCONSTÂNCIAS DO CINEMA BAIANO



Por André Setaro

Apesar de já ser considerada uma centenária cinematografia, a rigor, no entanto, ouso dizer que não existe um cinema baiano, mas filmes baianos, porque, para a existência de um cinema baiano, por exemplo, haveria de se ter uma produção sistemática e continuada. A questão é polêmica e não o objetivo desse artigo, porém.
Admitindo-se a hipótese de que o cinema baiano está a fazer 101 anos, o que se pode dizer é que a trajetória dessa cinematografia que se quer, às vezes até a fórceps, baiana, é um itinerário de frustrações e marcada por fases e por períodos de completa inatividade no plano da criação cinematográfica.
O ponto de partida se dá com Regatas da Bahia, em 1910, e, a partir de então, Diomedes Gramacho, José Dias da Costa, Luxardo, entre outros, fazem filmes documentários que se caracterizam pelo registro de vistas, acontecimentos sociais, inaugurações disso e daquilo, chegando-se, mesmo, na segunda década do século passado, ao estabelecimento de laboratórios que objetivam a feitura de fitas. Mas Gramacho, o principal documentarista do período, entra em crise depressiva por causa de um incêndio e joga, em estado de desespero, todo o seu material na Baía de Todos os Santos.
As pesquisas até agora são infrutíferas em relação aos filmes porventura produzidos na Bahia antes da década de 1930. Considera-se como o grande pioneiro do cinema baiano o documentarista Alexandre Robatto, Filho, cujos registros, quase na sua totalidade, são recuperados pela Fundação Cultural do Estado da Bahia. Robatto é, praticamente, o único nome que vigora no panorama cinematográfico soteropolitano em duas décadas: as de 30 e de 40. A sua obra consiste basicamente de documentários que registram as exposições de pecuária, eventos históricos, amenidades sociais etc, a exemplo de A volta de Ruy (1949), A guerra das boiadas(1946), A chegada de Marta Rocha (1955), Quatro séculos em desfile (1949), entre muitos outros, como filmes em 8mm que documentam os carnavais baianos nos clubes sociais nos anos 40, com sabor pitoresco e um resgate memorialista. Seu filme mais bem acabado, esteticamente, é Entre o mar e o tendal (1953), quando se pode observar um cuidado na construção de uma estrutura narrativa mais dinâmica.
Os anos 50 registram o advento do Clube de Cinema da Bahia, idealizado pelo advogado Walter da Silveira, que congrega, no espírito de uma velha província, os intelectuais e os universitários de sua época. O mercado exibidor somente oferece o cinema hollywoodiano, e Walter da Silveira apresenta a estética eisensteiniana, o expressionismo alemão, o neorrealismo italiano, o realismo poético francês, a avant-garde dos anos 20, a escola documentarista inglesa de John Grierson, Paul Rotha etc. Alguns dos assíduos frequentadores do Clube se entusiasmam e, assombrados, decidem fazer cinema, a exemplo de Glauber Rocha, que, no dia da morte de Walter da Silveira (novembro de 1970), escreve artigo no já extinto Jornal da Bahia para lamentar a perda do amigo e ressaltar que foi ele quem o fez descobrir o cinema como expressão de uma arte.
Alguns curtas são feitos nesta década: Um dia na rampa (1955), de Luis Paulino dos Santos, O pátio e Cruz da praça, ambos de Glauber Rocha, e Roberto Pires prepara, desde 1956, Redenção, o primeiro longa baiano, que somente pôde lançar três anos depois, em 1959, porque realizado com poucos recursos e com filmagens aos fins de semana. Redenção é um acontecimento histórico, e desperta, em outros, a vontade de estabelecer, na Bahia, uma infra-estrutura cinematográfica para se ter uma produção sistemática e continuada. Surge, então, o produtor Rex Schindler que, com outros produtores associados (David Singer, Braga Netto…), banca a estréia de Glauber Rocha no filme de longa duração, Barravento (1959), para, a seguir, produzirA grande feira (1961) e Tocaia no asfalto (1962), ambos dirigidos por Roberto Pires. Neste momento, princípio da década de 60, é que se dá início ao chamado Ciclo Baiano de Cinema, a mais importante fase do cinema feito nestas plagas soteropolitanas, que inclui muitos outros filmes, entre os quais, O caipora (1963), de Oscar Santana, Sol sobre a lama (1964), de Palma Netto e Alex Viany, O grito da terra(1964), de Olney São Paulo entre outros. Todos os filmes citados são bancados por produtores baianos e podem ser consideradas obras genuinamente baianas.
O surto underground, que se estabelece a partir de 1968, com influências marcantes do carro-chefe O bandido da luz vermelha, vem determinar uma espécie de ruptura com as propostas temáticas do Ciclo Baiano de Cinema, quer do ponto de vista sintático (da linguagem), quer do ponto de vista semântico. Entre os filmes dessesurto, destacam-se Meteorango Kid, o herói intergalático (1969), de André Luiz de Oliveira, Caveira my friend (1969), de Álvaro Guimarães, A construção da morte (1968), de Orlando Senna, Voo interrompido (média metragem) e O anjo negro (1972), ambos de José Umberto, Akpalô (1970), de José Frazão.
A rigor, o cinema baiano (se assim pode ser chamado) entre os anos 80 e os anos 2000 (com seu último longa Abrigo nuclear (1980), de Roberto Pires – alguns acham que é O mágico e o delegado (1983), de Fernando Cony Campos, – praticamente vive de curtas metragens até que, com o advento dos editais governamentais, dá-se início à feitura de longas, dando, ao alvorecer do novo milênio, muitas perspectivas de se por, na praxis, o ato criador pela imagens em movimento. O filme adventista, inaugural, da nova fase, a que se denomina Novíssima Onda Baiana, é 3 Histórias da Bahia, que reúne três curtas: Agora é cinzas, de Sérgio Machado, Diário de um convento, de Edyala Igresias, e O pai do rock, de José Araripe Jr.
3 Histórias da Bahia é fruto de uma decisão a posteriori, porque constituído de três curtas independentes eleitos em concurso patrocinado por edital governamental. A idéia de selecionar um trio de filmes de pequena duração, para a transformaçãomágica em um longa, proporciona a ausência de um denominador comum no discurso cinematográfico, como é praxe em filmes de episódios. O que há, na verdade, é uma inorgânica estrutura que se compõe de concepções estéticas e linguagens bem diversas entre si. Enquanto o filme de Sérgio Machado toma como ponto central a agonia de um Rei Momo provecto, o de Edyala Iglesias tenta penetrar num diário conventual, e dispõe o tempo cinematográfico numa linguagem zip. Já O pai do rock é uma reverberação que se pensa humorística da transformação de músicos em áulicos do axé-music.
Considerando que o cinema é uma estrutura audiovisual, com um elo sintático (a linguagem) e um elo semântico (a produção de sentidos), um olhar sobre os filmes baianos que começam a aparecer a partir dos anos 2000 constata, neles, defeitos estruturais como se não houvesse uma preocupação com a estrutura narrativa, com a simbiose expressiva entre os dois elos fundamentais para a urgência criadora. Por outro lado, há uma quase obsessão por assuntos enraizados, por assim dizer, como o candomblé, os retratos da gente humilde, o pitoresco, a exploração do décor. Claro que tais assuntos são importantes, mas precisam de uma nova abordagem e o que se percebe é uma repetição do clichê na hora de contemplá-los. É sempre o mesmo discurso cinematográfico que se repete quase ad infinitum. E uma outra muleta que cai como luva para quem quer fazer cinema e se dizer cineasta: o documentário musical.
Assim, logo após a estréia de 3 Histórias da Bahia, Samba Riachão (2001), de Jorge Alfredo, documentário centrado na figura do sambista Riachão, apesar dos prêmios conquistados (chega a ganhar, ex-aequo com Lavoura arcaica, de Luis Fernando Carvalho, o principal prêmio do Festival de Brasília), o filme, ainda que envolvente pela presença do retratado, tem a pretensão de “contar a história do samba”, quando deveria se restringir a ser um registro apenas sobre Riachão.
O problema dos filmes baianos produzidos nesta década está na estrutura, na inexpressiva simbiose dos elos sintáticos e semânticos o que sinaliza para um problema de linguagem. O cinema pernambucano, neste particular, é mais desenvolto, a exemplo dos filmes de Cláudio Assis (Amarelo manga, O baixio das bestas), de Lírio Ferreira (O baile perfumado, Árido movie...), entre outros. Os cineastas de Pernambuco sabem explorar os seus aspectos culturais mais pungentes com uma linguagem bem de acordo com a expressão de suas idéias. O baixio das bestas, seco,despojado de figuras retóricas, é exemplar nesse sentido. Já o cinema baiano puxa mais pelo folclore (no mau sentido da palavra).
Costa-Gavras disse, no seminário de cinema de 2005, quando esteve presente em Salvador, que o cinema nunca pode deixar de ser um espetáculo, tem que, obrigatoriamente, envolver o espectador, sob pena deste abdicar do que está a ver. No itinerário longametragista baiano, os filmes se preocupam mais com o tema nobre, com uma preocupação de realismo social no qual, muitas vezes, o que se vê são propostas anacrônicas. Esses moços (2006), de José Araripe Jr, sobre ser um filme sem pretensão, assemelha-se a uma obra do neorrealismo italiano sem o poder de envolvimento desta corrente cinematográfica. A busca do realizador é pelo registro da realidade dos bairros periféricos, envolvendo duas adolescentes e um velho, párias da vida à procura de uma redenção. De qualquer maneira, há uma coerência temática, porque um tema centrado nas coisas simples da vida, e uma tentativa de fazer, delas, a emergência de uma poética que nunca é encontrada (ver os curtas Mister Abrakadraba, Rádio Gogô, O pai do rock, este último pertencente a 3 Histórias da Bahia).
Eu me lembro (2005), de Edgard Navarro, célebre por suas diatribes superoitistas (O rei do cagaço, Lin e Katazan, Exposed…) e, principalmente, por O Superoutro (1989), tem diminuído o seu volume de iconoclastia para uma incursão nos arcanos de sua memória cujo resultado é uma espécie assim de Amarcord soteropolitano, ainda que desenvolvido com o humor característico do autor, mas, definitivamente, sem a virulência dos filmes anteriores e com desequilíbrio estrutural a partir do meio de sua narrativa. Navarro sabe usar o humor no olhar que estabelece sobre os comportamentos humanos, revelando-os em suas ambiguidades, nas situações bizarras observadas, não desprovidas, no entanto, em Eu me lembro, de humanismo. Há um olhar de piedade sobre a condição humana, quando em estado de desgraça.
Realizado em 2004, mas somente exibido em 2008, Cascalho, de Tuna Espinheira, baseado no romance homônimo de Herberto Salles, é uma prova das dificuldades que enfrenta o dito cinema baiano. Com o filme pronto, mas sem o Dolby Stereo, o realizador amarga quatro anos de espera até que consegue um recurso extra para dotar o seu filme da aplicação sonora sem a qual não poderia ter exibição no mercado exibidor. A questão maior reside justamente no tripé produção-distribuição-exibição. O filme baiano, premiado em editais, consegue, a duras penas, ser realizado, mas nunca é distribuído no circuito nacional e, quando o é, fica restrito a pequenas salas e nunca é visto.
O jardim das folhas sagradas, de Pola Ribeiro, fecha um ciclo, o ciclo de uma geração que começa a fazer cinema com o boom superoitista. Se o Ciclo Baiano de Cinema tem uma preocupação com o drama social do homem brasileiro, o cinema que se faz na Bahia nos anos 2000, e que se está a considerar um ciclo, tem características muito diversas, pois suas temáticas são díspares, inexistindo, como naquele, um enfoque social como objetivo precípuo na abordagem temática. Mas se pode considerar o que se chama Novíssima Onda como um terceiro ciclo, na verdade, pois há o surto underground, entre 1968 e 1972, cujo denominador comum, um cinema de angústia individual, de crise de seus autores diante de uma falta de perspectivas, determina uma abordagem não apenas temática, mas também estilística, a exemplo dos citados Meteorango Kid, Caveira my Friend, A construção da morte, de Orlando Senna, que se completa, mas os negativos são destruídos, Akpalô, de José Frazão e Deolingo Checcucci, O anjo negro, de José Umberto.
O jardim das folhas sagradas, bem intencionado (embora o inferno está cheio de boas intenções) sofre de hipertrofia temática e didatismo, com tom professoral e um tanto politicamente correto. Cascalho é uma tentativa de trazer para o cinema o romance regionalista de Herberto Salles, com tropeços narrativos. Pau Brasil dá continuidade à filmografia de Fernando Beléns (mas fica uma pergunta atrás da orelha: se realizado por Cláudio Assis, não seria mais louvado e mais estimado?).
Pau Brasil (2008), de Fernando Beléns, trata a realidade miserável de duas famílias habitantes de um lugarejo pobre, que se enfrentam e moram uma em frente da outra. As valências ocultas de cada personagem emergem no desenrolar da narrativa até um pathos surrealista, uma explosão de delírio. O cinema belensiano é um cinema quase anêmico como construção narrativa, mas a secura de sua linguagem funciona dentro dos parâmetros do olhar grotesco e bizarro que caracteriza a sua filmografia desde os anos iniciais do Super 8.
O cinema baiano atual, portanto, é um cinema que se preocupa mais com o oportunismo temático (inclusive para ganhar nos editais, que funcionam como uma espécie de autocensura) do que com um cinema de imagens, a considerar a separação estabelecida por Marcel Martin entre um cinema de imagens e um cinema figurativo. À exceção de Edgard Navarro, um realizador que se impõe por um estilo já plasmado, os cineastas baianos se limitam à figuração de suas idéias, subtraindo-se diante da realidade, fazendo surgir de sua representação direta e objetiva a significação que querem obter. Para eles, a elaboração da imagem tem menos importância do que sua função natural de figuração do real. Estas, por sua vez, necessitam de uma boa execução para se tornarem convincentes e cinematográficas.

John Adams Visual FX (HBO)



Cenários Virtuais. É esse que vamos usar no filme 2 de JUlho.

OS MELHORES FILMES DE 2011


Beto Magno e Emilton Rosa

25 Dezembro 2011 Os melhores filmes de 2011



1.) TETRO (Tetro), de Francis Ford Coppola. Expiação de seus tormentos familiares, de suas relações pretéritas com a sua família, obra de soberba autoral com resultado mais que perfeito. Rapaz ingênuo, ainda adolescente, chega a Buenos Aires para encontrar o irmão mais velho, que abandonou os familiares e vive com outro nome. Coppola, realizador notável, amplia, aqui, a sua dimensão como artista em filme de reflexão. O melhor do ano, de longe e, nem de perto, pode-se compará-lo aos outros.

2.) CÓPIA FIEL (Copie conforme), de Abbas Kiarostami. Este realizador iraniano, desta vez em produção fora de seu país, filmada na belíssima Toscana, através do relacionamento de um casal (Juliette Binoche e o cantor lírico inglês William Shimelli) provoca um jogo de ambiguidades, de verdades e mentiras, um discurso amoroso sobre a autenticidade e a mentira com uma pessoal maneira de filmar os seres e as coisas. E, com isso, confirma que é um realizador acima da média e o filme um dos mais curiosos do ano.

3.) HOMENS E DEUSES (Des hommes et des dieux). Detentor do prêmio especial do júri no Festival de Cannes deste ano, Des hommes et des dieux, de Xavier Beauvois, é inspirado em fatos ocorridos na Argélia em 1996, quando monges católicos são sitiados em seu mosteiro por fundamentalistas islâmicos. Beauvois traça com rigor o perfil de cada monge e sustenta, com vigor, a tensão da crônica de uma morte anunciada. Momento sublime: quando os monges ouvem o Lago dos cisnes de Tchaikovsky.

4.) O MÁGICO (L'illusionniste), de Sylvain Chomet. Delicadeza e sensibilidade na abordagem da decadência de um ilusionista cujo desenvolvimento narrativo, em sua maior parte, é feita pela visualidade em detrimento dos diálogos. Baseado num roteiro inacabado de Jacques Tati, a diretora Chomet, premiada em As biciletas de Belleville, confirma, aqui, o seu talento e a sua predisposição poética de ver e olhar o mundo. E bate na tecla de uma constante temática de Tati: o embate entre a tradição e a modernidade (vista com tanta arte e inventiva em Meu tio/Mon oncle, 1958

5.) ALÉM DA VIDA (Hereafter), de Clint Eastwood. Este conceituado diretor, que dá continuidade à tradição do grande cinema americano, não realizou em Hereafter, como muitos pensaram, um filme espírita, mas se valeu de uma abordagem sobrenatural como um recurso de sua fabulação para falar de sentimentos, culpa, e a capacidade de superação dos traumas. O filme acompanha três personagens: Matt Damon, que tenta deixar para trás uma promissora carreira de médium; em Londres, um menino sofre com a trágica morte do irmão gêmeo; e, em Paris, a jornalista Cécile De France vê sua vida mudar radicalmente após sobreviver ao tsunami de 2004. Os três personagens acabam por se encontrar e estabelecem ligações. Obra bela e envolvente.

6.) AS PRAIAS DE AGNÈS (Les plages d'Agnès).Documentário memorialístico, Les plages d'Agnès utiliza, na sua estrutura narrativa, materiais de origens diversas: fotografias, fragmentos de filmes, entrevistas, pequenas encenações. Por meio desse sensível documentário, Agnès Varda realiza uma espécie de autobiografia, recorda momentos, instantes de felicidade: sua meninice, seus passeios pela Bélgica, nos tempos de criança e, quando chega adulta a Paris, a descoberta e o assombro pela possibilidade criadora através das imagens em movimento. Apesar de realizado em 2009, somente no ano em curso foi lançado em Salvador.

7.) MEIA-NOITE EM PARIS (Midnight in Paris), de Woody Allen. Consagrado autor do cinema contemporâneo dotado de estilo próprio e constantes temáticas, Allen entra no túnel do tempo para refletir sobre as ilusões que temos sobre a existência. Paris sempre fascinou cineastas, escritores, e artistas em geral.Midnight in Paris, sobre ser um canto à sua beleza, é um filme que nos permite pensar acerca do tempo como fator existencial e que determina as circunstâncias do aqui e do agora. Um momento, entre outros, antológico: quando o personagem fala a Buñuel sobre O anjo exterminador e o aragonês acha o argumento confuso.

8.) MELANCOLIA (Melancholia), de Lars Von Triers. A melancolia deste rebelde cineasta dinamarquês da terra de Carl Theodor Dreyer é uma melancolia que reflete sobre o mal estar da civilização. O cinema de Von Tries é um cinema agressivo e de imagens fortes, mas sempre com o condão de nos levar à reflexão. Nele, não há piedade na exposição das fraturas expostas da civilização. Enquanto um planeta chamado Melancolia está prestes a colidir com a Terra, uma mulher se prepara para a sua festa suntuosa de casamento. Interpretações notáveis de Kirsten Dunst e Charlotte Gainsbourg.

9.) O DISCURSO DO REI (The king's speech), de Tom Hopper. Com a abdicação de seu irmão, George assume o poder real na Inglaterra como George VII.O filme é um duelo interpretativo entre Colin Firth e seu instrutor Geoffrey Rush para que este consiga curar a gagueira crônica do aspirante ao trono. Criticado por uma estrutura narrativa convencional, The king's speech justamente por isso consegue um equilíbrio perfeito entre os seus diversos elementos de composição: a excelência interpretativa, a cenografia apurada, um ritmo envolvente e um espetáculo grandioso.

10.) A PELE QUE HABITO (La piel que habito), de Pedro Almodóvar. A ação se passa no ano de 2012, e assinala a volta de Antonio Banderas aos filmes do cineasta, como o bem-sucedido cirurgião plástico Richard Legrand que, após a trágica morte de sua esposa (que tem seu corpo completamente incinerado em um acidente), parte em busca de uma "pele perfeita", que poderia tê-la salvado. Sem limites em sua insaciável busca, Richard é capaz de tudo para tentar reescrever a história e evitar o inevitável. O cinema de Almodóvar é uma mescla de gêneros e aqui, assumindo o thriller, faz um trabalho primoroso como cinema e a obsessão pelo cinema. Influência notória de Os olhos sem rosto (Les yeux sans visage, 1960), de Georges Franju.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

STAND UP & MÚSICA



Anselmo Vasconcellos,Jaqueline Adans,Beto Magno, Rada Rezedá e Wilton Sabá no teatro casa do comercio em Salvador

sábado, 17 de dezembro de 2011

DAWSON - FILME DE MIGUEL LITTIN


O ator baiano Bertrand Duarte em Dawson - Ilha 10, de Miguel Littin, que mostra a agonia dos presos políticos na ditadura Pinochet



Dawson -Ilha 10, de Miguel Littin, premiado cineasta chileno que tem em sua filmografia obras de grande impacto do ponto de vista político, encontra-se, a partir desta sexta, também em exibição no Espaço Glauber Rocha (Sala 4 somente às 15 horas) e no Cine Vivo (Sala 2 também somente às 20 horas e 10 minutos). Trata-se de um filme importante e que não deve ser perdido. É a melhor pedida para este fim de semana.

sábado, 10 de dezembro de 2011

STAND UP & MÚSICA

Beto Magno e Anselmo Vasconcellos na sede da CAP Escola de TV e Cinema da Bahia

STAND UP & MÚSICA

Show em pró do NTN Núcleo de Teledramturgia do Nordeste, realizado no dia 05/12/11 no teatro da Casa do Comercio em Salvador...com a presença da banda Batifun, Ludmilla Anjos, Belpa Mariani, Muguel Vieira , Guga Walla, Paulo Prazeres, Rafael Medrado, Rada Rezedá e o padrinho do projeto o ator Anselmo Vasconsellos da Rede Globo.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

EM BREVE NOS MELHORES CINEMAS DO BRASIL

A cineasta Betse de Paula acabou de rodar seu terceiro longa, “Vendo ou Alugo”, que conta com a produção de Mariza Leão e Heloisa Rezende. O filme narra o dilema de uma família de classe média alta do Rio de Janeiro que está toda endividada e só tem uma solução: vender ou alugar o casarão onde moram. No elenco, Marieta Severo, Nathália Timberg, Silvia Buarque e Bia Morgana – filha de Betse – fazem as quatro gerações da família. Com pretensão de grande público, a comédia deve chegar aos cinemas em 2012.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

ENCONTRO DE CINEASTAS COM O0 GOVERNADOR


13 Novembro 2011

Cineastas baianos conversam com Jaques Wagner


Recebi uma mensagem do presidente da Associação de Produtores e Cineastas da Bahia (APCB) na qual contém a carta dirigida pelos realizadores baianos ao governador Jaques Wagner e um relatório da reunião escrito por Olavo. Seguem abaixo os dois textos como os recebi. E abrindo aspas:


Salvador, 9 de novembro de 2011
Excelentíssimo Senhor Jaques Wagner
Governador do Estado da Bahia Senhor Governador:


A Associação de Produtores e Cineastas da Bahia - APCBahia, aqui representada por cineastas e produtores, inicialmente manifesta o agradecimento por sua gentileza em nos receber neste dia. Consideramos este encontro por demais oportuno, visto que estamos vivendo um momento histórico. Quatro filmes baianos estão sendo exibidos simultaneamente em salas do circuito comercial na Bahia e no Brasil, além de vários outros circulando em festivais nacionais e internacionais.


A nossa vocação para o cinema vem se consolidando ao longo de décadas, onde foi construída uma significativa filmografia, que precisa ser mais conhecida e valorizada. Em 10 anos produzimos 32 filmes longa metragem. Esta frondosa lavra, que vem obtendo tão ampla receptividade de público, crítica e premiação em festivais, precisa de um apoio mais intenso do Estado para manter uma continuidade e ampliar seu desenvolvimento. Não podemos mais voltar aos tempos dos filmes “bissextos”. Compreendemos o audiovisual como um segmento com alto potencial de comunicação e de forte impacto econômico no mundo. Mas, é sobretudo o cinema que lhe dá o fundamento de linguagem e investe em abordagens não convencionais, na busca constante de processos de identificações e interatividades, fatores de suma importância na discussão de problemas relacionados às questões culturais, comportamentais, tecnológicas e ideológicas. O cinema se desenvolve a partir do discurso político dessas contradições levando personagens e situações ao furacão existencial do cotidiano numa época onde intensas transformações acontecem na vida de jovens em busca de novos paradigmas. Trama de utopias revolucionárias no mundo das idéias e das práticas. É através do cinema que (re)escrevemos a nossa cultura na sua destinação histórica de universalidade e (re)ligamos os nossos costumes mestiços com as vertentes culturais das nações e dos povos fundadores, provocando novos encontros, novos conflitos, novas soluções e o consequente surgimento de novos signos culturais. E para isso, faz-se necessária cada vez mais uma política de fomento à produção de filmes, da preservação da nossa memória, das promoções de mostras e seminários reflexivos sobre o nosso cinema.

O cinema é uma legitima expressão artística e cultural do nosso povo, mas também um instrumento destacado na cadeia produtiva da economia estadual. O cinema carrega consigo toda uma vertente econômica, sendo capaz de gerar emprego, renda e ser um dos mais eficientes canais de difusão da imagem da Bahia para o Brasil e o Mundo. Com isso atraímos investimentos, turistas e negócios, que significam recursos financeiros para o Estado, fortalecimento do mercado interno e a consequente ampliação da arrecadação tributária. Em qualquer lugar do mundo onde for exibido um filme baiano, a imagem da Bahia estará despertando interesses: políticos, econômicos ou culturais.Reconhecemos que as mudanças operadas na política cultural baiana nesses últimos cinco anos representam o primeiro impulso no sentido de retomar o contato do Estado com as forças criativas profundas que caracterizam a nossa história. Mas, por outro lado, a nossa atividade vive em permanente insegurança na medida em que a dependência de editais e programas de fomento cujos valores são decididos a cada ano impedem a cadeia produtiva de planejar suas atividades e dificultam a comercialização e difusão dos filmes realizados. Por conta disto, apresentamos como uma das nossas principais reivindicações a implantação de Editais de cinema, como a mola mestra propulsora de uma política para o audiovisual que necessita dar suporte à continuidade de produção de filmes longa metragem na Bahia.

Queremos Editais de cinema que incorporem recursos para as etapas iniciais de realização (pesquisa, roteiro e elaboração do projeto), produção (execução do projeto), finalização (complementação de longas) e distribuição. Isso necessariamente irá fortalecer o mercado estadual para profissionais de cinema em todas essas áreas. E consideramos fundamental que sejam adotadas as providencias adequadas para introduzir na legislação ordinária do Estado, a obrigatoriedade de Editais anuais, garantindo a continuidade e renovação permanente do cinema na Bahia.

Queremos Editais como Politica de Estado, não politica de uma gestão, de secretário ou governador. Assim como é indispensável a criação de marcos legais que contemplem as especificidades do campo da cultura e que regulem o fomento ao setor audiovisual, de modo a favorecer a sustentação da atividade para as empresas produtoras locais. Através de Editais dos mais diferentes elos que unem a carpintaria da construção cinematográfica, o cinema brasileiro desde 2003 vem experimentando um novo ciclo criativo e vigoroso. Na Bahia, mesmo tendo sido lançados apenas cinco Editais nos últimos 13 anos, a produção local vem se destacando nacionalmente.

A consolidação dos Editais anuais, a partir do início de 2012, muda qualitativamente este quadro, com o inevitável crescimento da nossa produção baiana. Para nós, os Editais são instrumentos estimuladores, democráticos e confiáveis. Acreditamos que adotando os Editais anuais de cinema, definidos em lei, como centro de uma Política de Audiovisual na Bahia, a partir deles outras ações e qualificações poderão se agregar no entorno, como o estímulo a produção de eventos sobre cinema, a criação de uma Revista de Cinema, a implementação de um Programa de Difusão de Filmes e de um Circuito de Exibição de Filmes Baianos dentro e fora da Bahia, a estruturação de núcleos que deem suporte as produções cinematográficas, a formação de mão de obra qualificada para o mercado profissional, a formalização de convênios entre o governo da Bahia e instituições baianas e nacionais buscando uma maior abrangência na captação de recursos para a produção e difusão do cinema na Bahia etc. Governador, queremos que o Senhor se aproxime do cinema baiano e o eleja como uma das prioridades estratégicas do seu governo. Precisamos de Editais anuais, definidos em lei. Queremos seu envolvimento direto na formalização de convênio entre o Governo da Bahia e instituições como Ancine, Petrobras, CHESF, FIEB, Polo Petroquímico, Polo de Informática etc, objetivando a injeção de recursos na produção e difusão do cinema na Bahia. Queremos também seu apoio e intermediação entre as Secretarias de Cultura, Planejamento, Turismo, Educação, Comunicação e Indústria & Comércio, para que possamos construir de forma transversal, apoios e suportes ao fomento do cinema baiano. Por fim, desejamos exibir filmes baianos para o Senhor e consideramos muito importante a sua presença nas nossas pré-estreias, sentimos falta disto, pois sua presença amplia a dimensão simbólica do cinema baiano. Isso fortalece nosso cinema. Afinal, a imagem da Bahia também está no cinema. Associação de Produtores e Cineastas da Bahia (APCBahia)


Jorge Alfredo Guimarães
Presidente


Relatório da reunião da APCBahia com o Governador Jaques WagnerA reunião na governadoria começou as 17h 55. Além do governador Jaques Wagner, estavam presentes os representantes da APCBahia: Jorge Alfredo, Sylvia Abreu, Antonio Olavo, Edgard Navarro e João Rodrigo. Pela Secult estavam o secretário Albino Rubim, Sofia Federico, Nehle Franke e Fátima Froes.
Jorge abriu a reunião falando que há muito tempo desejávamos ter esse encontro com o governador e nossa expectativa é muito positiva, por conta disso estar ocorrendo em um momento muito especial que estamos vivenciando no cinema baiano, com a exibição simultânea de quatro filmes nas salas do circuito comercial: Filhos de João, de Henrique Dantas, Bahêa Minha Vida, de Márcio Cavalcante, Jardim das Folhas Sagradas, de Pola Ribeiro e Capitães da Areia, de Cecília Amado. Ressaltou ainda o fato que não somente estes filmes estavam em cartaz simultaneamente, algo de importância histórica, como também, todos eles estavam tendo excelente receptividade de público. Citou os números mais recentes de Bahêa Minha Vida (72 mil), Capitães de Areia (150 mil), Filhos de João (17 mil) e Jardins (que em apenas um final de semana chegou a 3.300 espectadores).


O governador interveio perguntando o que significavam estes números? Qual era seu comparativo e relevância?
Houve então várias pequenas intervenções de Jorge, Sylvia, Edgard, João e Olavo, expressando dados e informações que ressaltavam a importância desses números, levando em conta a média de público dos filmes nacionais. Falou-se em casos como Tropa de Elite, Dois Filhos de Francisco etc, filmes que ultrapassaram 1 milhão de espectadores, mas estes são exceções no cinema nacional.


João falou do êxito de Filhos de João, de Henrique Dantas, que continua circulando nas salas comerciais do Brasil e já percorreu vários países do mundo, tendo na semana passada estado em Barcelona e esta semana estava sendo exibido em Berlim. Isso era importante porque era a música e a cultura baiana que estavam sendo vistas no mundo.
Jorge falou que nos últimos 10 anos a Bahia produziu 32 filmes e destes, muitos estão a espera de uma distribuição digna. E nós gostaríamos que o governador elegesse o cinema, como uma das prioridades estratégicas do seu governo.


Wagner respondeu que uma das prioridades estratégicas do seu governo é a cultura, e que evidentemente cada segmento da cultura busca atrair mais recursos para sua área, todos querem mais dinheiro, porém, ocorre que o cobertor é curto: “puxa de um lado, falta de outro”. Mas reconhece que o cinema tem suas particularidades, pois realmente é caro fazer cinema. Criticou as leis de incentivo, afirmando que os empresários precisam botar dinheiro próprio na cultura e não ficar apenas se valendo da renúncia fiscal.


Após esse preâmbulo, foi lida por Olavo a Carta/Documento que a APC elaborou para ser entregue ao Governador (reproduzida ao final do Relatório).


Logo após a leitura da carta, o governador perguntou sobre quais as empresas que estão promovendo editais para cinema e se estes eram nacionais ou estaduais.


Sylvia falou sobre os editais e os apoios das empresas nacionais. Citou a Petrobras, dizendo ser a maior patrocinadora do cinema no Brasil, e que tem um edital nacional. Falou também da Chesf que não investe praticamente nada na cultura da Bahia e foi complementada por Olavo que disse que a Chesf embora gerisse grandes recursos hídricos na Bahia, praticamente somente investe em projetos culturais de Pernambuco.

Sylvia falou também dos Editais do BNDES / Eletrobras etc. Jorge complementou dizendo que este momento vigoroso do cinema nacional, também está relacionado com a ação do Minc a partir da gestão Gil/Juca, que potencializou os Editais BO de apoio ao cinema e a descentralização dos recursos, abrangendo o Nordeste, principalmente Pernambuco, Bahia e Ceará. Na Bahia, esperávamos que esta tendência também se estabelecesse, com a consolidação e continuidade dos Editais anuais, e não foi isso que ocorreu. O Governo Wagner tem o Fundo de Cultura, FazCultura muito mais complementando os nossos filmes que já foram contemplados em editais nacionais.


Wagner perguntou quanto seu governo investiu em cinema.
Sylvia informou os valores do investimento do governo baiano desde 2007.

Ao que Jorge entregou ao governador uma tabela preparada por Sylvia, que sistematizava esses dados por ano de investimento em filmes longa metragem: 2007 (R$ 1.537.992,03);

2008 (R$ 000,0000);

2009 (R$ 1.971.988,47);

2010 (R$ 1.579.136,36);

2011 (855.000,00).

A seguir, Jorge falou da importância do Polo de Camaçari, chamado por ele de “a nossa Paulínia”, investir no cinema baiano e clamou o governador para abrir mais esta frente de captação de recursos.
Wagner fez algumas somas dos valores apresentados, enquanto Albino e Sofia intervieram com alguns outros dados. O governador tomou a palavra, e se dirigindo a Albino, disse que evidentemente qualquer decisão que ele venha a tomar será encaminhada junto com a SECULT, mas o que ele pensava, destacando os Editais como ponto central das nossas reivindicações explicitadas na Carta, era que poderia haver um processo de Edital, que assegurasse sua realização anual, por um período de tempo maior, por exemplo, 4 anos. Assim as produtoras e proponentes poderiam se planejar melhor. Isso precisaria ser melhor analisado, mas ele achava que essa forma facilitaria mais a realização dos Editais.


Jorge falou que os realizadores também precisam de um tempo mais longo para a concretização de seus filmes. E que muitas vezes um governo colhe um fruto que um outro governo plantou. Também falou sobre a Caixa 100 anos de cinema na Bahia, uma iniciativa importante, mas que poderia ter tido uma maior difusão e repercussão. Albino respondeu que a caixa foi uma iniciativa boa, no que foi reforçado por Sofia, dizendo que a Caixa foi distribuída para mais de 1.000 instituições (pontos de cultura e cineclubes etc.)


Wagner, mais uma vez se referindo à nossa Carta, disse que algumas coisas poderiam ser melhor ajustadas, se, por exemplo, toda a parte de divulgação dos filmes fosse para a Secretaria de Comunicação, com a utilização da verba de publicidade do governo. Jorge respondeu que considerava isso muito complicado, pois poderia alterar o equilíbrio de um Plano de Trabalho da produção de um filme, que tem suas regras e caminhos próprios, com tempos e formas especificas de conduzir seus projetos.


Edgard interveio falando sobre a importância deste encontro com o governador, recordando que em 1996 um grupo de cinco cineastas, entre os quais ele estava presente, tiveram uma audiência com o governador Paulo Souto e aquele encontro também teve um significado simbólico muito grande para o cinema baiano. Disse também que o filme Eu me Lembro, foi projeto de grande envergadura no cinema baiano, porquanto mais de 300 pessoas se envolveram diretamente com a produção.

Este filme obteve várias capas dos cadernos de cultura dos jornais do Sul (FSP, O Globo, Estadão etc), quanto vale tudo isso? São coisas que ficam para a história. Enfatizou que essa prática cinematográfica na Bahia não pode sofrer descontinuidade. Destacou o quanto seria bom a presença do governador nos lançamentos dos filmes baianos e revelou que durante a pré-estreia de O homem que não dormia, no TCA lotado, ele cobrou a presença do governador, que não estava.


Wagner, disse que muitas vezes tem dificuldades de agenda e há todo uma logística a considerar quando se trata da presença do governador. Ele pessoalmente gosta de andar em ambiente público, e faz isso com frequência, mais até no interior do que na capital, mas que muitas vezes não pode estar onde gostaria. Considerou importante a presença do governador nestes momentos de pré-estreia, pois reafirmava o valor simbólico do cinema baiano para a população, mas que muitas vezes não dava pra ir...


Neste momento Jorge interveio e disse: “Então faça como o presidente Lula, traga o cinema baiano para dentro do seu gabinete. Vamos programar sessões de filmes em sua sala”. O governador sorriu com a sugestão.


João citou uma pesquisa realizada pela CNN, que apontou o Porto da Barra, como uma das mais belas praias do mundo. O seu filme Trampolins do Forte foi filmado basicamente no Porto da Barra. Isso aponta o potencial que tem o cinema de difundir mundo afora aspectos positivos da Bahia. Essa questão deveria interessar à Secretaria de Turismo.

Aproveitando a deixa, Sylvia falou sobre a importância de conseguirmos que as companhias de aviação pudessem exibir nossos filmes durante os voos e lembrou que a AIR FRANCE já exibiu o filme Esses Moços, de Araripe, quando da existência da linha direta Salvador/Paris. No vôo da TAP Lisboa/Salvador, completou Jorge, bem que poderia ser disponibilizados nossos filmes no menu. E sugeriu uma Ação inicial de resolver os problemas de algumas produções que estão precisando de 200, 300, 500 mil para serem lançadas. E citou Pau Brasil, de Fernando Belens, Antonio Conselheiro, de Walter Lima, entre outros.


Wagner disse que poderíamos escolher 4 a 5 itens indicados no documento, independente do aspecto financeiro e os eleger como prioridades para serem resolvidos pelo governo. Chamando novamente a participação de Albino que pouco antes da reunião lhe falou do PEF (Programa Imagens da Bahia) convênio que foi celebrado entre o Irdeb e a Ancine, e está aguardando a captação de recursos nas empresas privadas, ele disse que não vê problema em ligar para as empresas e abrir o processo de captação. Sobre a solicitação de intermediação entre as secretarias citadas (Planejamento, Turismo, Industria e Comércio, Educação etc) disse que não vê dificuldade alguma em viabilizar isso e lembrou que o Secretario de Planejamento é irmão de um cineasta (Pola Ribeiro), e disse que também Leonelli (Turismo) era próximo dá gente... Falou também que não há problema em ligar para as companhias de aviação, como TAP e American Airlines, para negociar a exibição de filmes baianos. E citou também a importância de se constituir e consolidar um circuito de exibição de filmes no interior, aproveitando a estrutura do governo.

E até mesmo nas praças esses filmes poderiam serem exibidos. Albino disse que isto já se faz presente nos centros e pontos de cultura do interior. Jorge disse que isso era importante, mas que se deveria levar em conta a qualidade de projeção dos filmes, que não poderia ser exibidos com qualidade baixa, como é feito atualmente. Centros Culturais como o João Gilberto, em Juazeiro, assim com o de Itabuna, e até mesmo em praça pública podemos fazer projeções de alta qualidade, de imagem e de som.


Buscando evitar a discussão de aspectos técnicos, os quais confessou que não tinha conhecimento, o governador reafirmou que deveria ser selecionados 4 a 5 propostas e definir quem as encaminharia, “quem faz o quê”. Ressaltou acreditar ser importante o estabelecimento de um prazo para o encaminhamento das questões.

Provocado por Olavo: “então o Senhor é simpático aos Editais?” Wagner respondeu que o Edital é o melhor processo de encaminhar as demandas que vem da sociedade. Disse que o governo já faz isso em muitas outras áreas e ele não vê problemas em se adotar para o cinema.
Jorge, falando sobre o somatório de nossas produções e a existência de editais, declarou que no governo Wagner somente houve dois editais, e a seguir, fez uma analogia com a construção do metrô, cujo planejamento atual é, até 2014, ano da copa, construir o dobro do que foi construído até agora: “Queremos o mesmo para o cinema, até 2014, o dobro de filmes longa metragens, que até então já produzimos”.


Por fim o governador disse que deveríamos formar um grupo para estudar e definir as prioridades do cinema baiano, definir um prazo para seus encaminhamentos e lhe entregar. E peremptório declarou:


“Eu sou disciplinado, alguém deve chegar pra mim e dizer: sua parte é esta, você tem que fazer isso. Vamos definir um prazo e vocês podem cobrar; nem sempre estou disponível, mas se tiver algum projeto encalhado, liguem cobrando que vamos desencalhar; liguem pra minha secretária Regina Afonso, falem com ela”. (grifos do relator)
Albino concordou em criar um grupo de trabalho com integrantes da APC e da Secult para estudar as propostas prioritárias sobre o cinema baiano e posteriormente entregá-las ao governador.


Por fim, o governador deu por encerrada a reunião.
Na saída do prédio da governadoria, os cinco representantes da APCBahia, em breve conversa, consideraram muita positiva a reunião.
Forte abraço a todos.


Olavo