terça-feira, 21 de agosto de 2012

Robert Altman: humor ácido e requintado

Em inícios dos anos 70, a comédia americana - que teve seu apogeu nos anos 30, 40 e 50, a Idade de Ouro de Hollywood - dava mostras de esgotamento, principalmente por causa da aposentadoria de alguns de seus próceres, e os que ainda a continuavam não conseguiam renová-la. É neste despertar dos 70 que aparece no panorama internacional uma comédia diferente, satírica, ácida, irreverente: "M.A.S.H.", de Robert Altman. Localizada a ação na Guerra da Coréia, tem uma clara referência à do Vietnã que então se encontra no auge e no clamor dos protestos da sociedade americana. Conta a película a vida de soldados no front bélico, onde dois cirurgiões (Elliot Gould e Donald Sutherland) fazem o diabo para costurar os feridos. Tudo feito na base da anarquia criativa, com um dinamismo estrutural, rapidez de diálogos, que muitos críticos consideram que, neste filme, há uma renovação na comediografia cinematográfica. Sally Kellerman se revela como a oficial séria e ríspida que tem sua cortina devassada quando toma banho numa sequência memorável. Altman, por "M.A.S.H.", e apenas por este, se torna, logo, um "cult" de uma hora para outra, ainda que já com uma filmografia cujo início se dá muito antes, em 1957, com "Os Delinqüentes" ("The Delinquents") e, neste mesmo ano, "The James Dean Story", um documentário sobre o mito que há poucos anos tinha sido vitima de um acidente automobilístico. Os produtores não gostam de "Os Delinqüentes" e, quanto ao documentário, não o consideram palatável comercialmente. De pires na mão, Altman procura um produtor - naquela época não se usava a famigerada captação de recursos - e, desempregado, custa a arranjar, e mesmo assim na televisão, um emprego como diretor de fitinhas sem importância - que os críticos franceses, dando uma busca nos arquivos televisivos, conseguem encontrar, nestas fitinhas, o "touch altmaniano". Dez anos se passam até que Altman encontra um produtor com mania de risco, de investir em projetos condenados. E realiza "No Assombroso Mundo da Lua" ("Countdown", 1968), ficção-científica que rende alguns trocados na bilheteria e faz os produtores acreditarem que Altman "era diferente" e, assim, deviam lhe dar uma segunda chance. Esta foi um sucesso, ainda que relativo de público, mas entusiasmado da crítica: "Uma Mulher Diferente" ("That Cold Day in the Park", 1969), um thriller de extremado rigor sobre a solidão de uma mulher (Sandy Dennis) numa grande cidade (Nova York). Filme marcante, com uma mise-en-scène baseada nos acordes musicais e no silêncio. A seguir, o estrondo de "M.A.S.H." Espera o diretor quarenta e cinco anos para se ver reconhecido como cineasta (nasce em 1925, morre em 2006, aos 81). Após a sátira devastadora sobre o Vietnã travestido de Coréia, os produtores começam a lhe oferecer projetos. Altman, como sempre muito exigente e muito à margem do "sistema" hollywoodiano, procura construir uma carreira de autor. Tem tanta presença a sua assinatura que mesmo quando pega um roteiro alheio, e do qual não gosta, o resultado é sempre um filme de Robert Altman. O que constrói o cineasta após "M.A.S.H."? A resposta vem no mesmo ano: "Voar é com os pássaros" ("Brewster McCloud"), com Bud Cort - o menino que contracena com Ruth Gordon em "Ensina-me a Viver". Fracasso. Humor sofisticado demais. Um garoto tem o desejo de voar como Ícaro. E parte para a ação num aparelho de madeira complicado. Apesar de rejeitado pelo público, é um grande filme, difícil, é verdade, pois de configuração diferente dos padrões de Hollywood. Em seguida, "Quando os Homens São Homens" ("Mc Cabe and Mrs Miller", 1971), com Warren Beatty e Julie Christie, um anti-western, pois sem a essência do gênero, o conflito em movimento. Altman opta pela inação, e, ainda por cima, numa paisagem cheia de neve. Outro fracasso. Mas a crítica recebe os filmes de braços abertos. E os produtores arrancam os cabelos de raiva. Mostra ser um cineasta temperamental, difícil, incapaz de se dobrar às solicitações de uma platéia convencional. Os filmes seguintes dão ao realizador um passaporte para a rua da amargura. "Imagens" ("Images", 1972), reavaliação do terror como componente do "impulso cinemático", com Suzannah York, e após este, um estudo crítico de gêneros, desmistificando-os como fórmulas: o filme noir em "Um perigoso adeus" ("The long goodbye", 1973), com Elliot Gould, e o thriller com a tônica no gangsterismo em "Renegados até a última rajada" ("Thieves like us", 1974), com Keith Carradine. Desse modo, a revisão de gêneros, que a chamada pós-modernidade se apodera, tem em Altman um precursor. Um estilo que se caracteriza pela preocupação em desmontar a lógica que precede o discurso cinematográfico, subvertendo, sempre, o diapasão de seu itinerário. A grande arma de Altman é o humor, ácido, por vezes cruel, mas sempre refinado, requintado, um humor para o sorriso interior, mas, quase nunca, para a explosão de gargalhadas - exceto em "M.A.S.H." Sua linguagem se concentra num "texto" e num "subtexto", em tons e subtons. Altman, definitivamente, não pode ser admirado pela horda selvagem multiplexiana, pela patuléia que comanda o espetáculo de horror - que é ir a uma "matinê" numa das salas dos complexos dominantes. Por causa dos apupos da crítica, um produtor, que não tem medo de negócios arriscados, banca Altman. E, ainda em 1974, faz "Jogando com a sorte" ("Califórnia split"), com Elliot Gould, ator preferido na época, e George Segall, uma viagem altmaniana sobre os deserdados da sorte e a "feérie" da jogatina. Mas até o produtor, que lhe banca os filmes, quis dar o fora, pois o dinheiro investido não retorna a contento. Mas Altman arranjou produção e, num golpe de sorte, acerta em "Nashville" (1976), que muitos consideram sua obra-prima. Retrato da América, o filme se concentra num festival de música country. Segue outro anti-western, com Paul Newman: "Oeste Selvagem" ("Buffalo Bill and the indians or Sittings Bull's history lesson", 1976), celebrado em Berlim. O sucesso de "Nashville" compensa as perdas internacionais. "Sittings Bull" é outra desmistificação, desta vez do heroísmo de Buffalo Bill, tão cultuado nos Estados Unidos, mostrando-o como um homem de caráter duvidoso e comportamento ambíguo. A paisagem do oeste, selvagem, como diz o título original, e a ausência total de uma "clicheria" não contentam os amantes do gênero. Um estudo da alma feminina feita com sensibilidade e emoção neste filme que considero um de meus preferidos do realizador de "Assassinato em Godsford Park". Janice Rule, Sissy Spacek e Shelley Duvall estão inexcedíveis como as personagens de "Três mulheres" ("Three Women", 1977), criaturas atormentadas pela angústia do existir e que se debatem no inferno de suas existências. Obra rara e severa, mas difícil de encontrar para uma revisão. O espaço chegando ao fim e eu, aqui, ainda com Altman na década de 70. Que fazer? É dizer logo que "Cerimônia de casamento" ("A Wedding", 1978), afresco notável sobre os comportamentos hipócritas numa festa de casamento burguesa, é um sucesso. Elenco fabuloso, que inclui Vittorio Gassman e Lillian Gish e Carol Burnett. Nunca a burguesia é tão bem radiografada quanto neste "A Wedding". Grande filme, mas também assinala o começo de sua decadência nos anos 80 cuja reabilitação somente se dá em 1992 com "O Jogador" ("The Player"). Se em 1970 tem início o culto a Altman, 1980 assinala a sua descida ao inferno com "Popeye", com Robin Williams e a magricela Shelley Duvall como Olívia. Os produtores são, literalmente, enganados. Ao invés de um filme para agradar as platéias populares, Altman prefere a caricatura, a desmistificação - como sempre o olhar irônico, o riso que se multifaceta nas entrelinhas. O público quer gargalhar com Williams no papel de Popeye e se depara, sem entender nada, a piada oculta. Antes deste elabora um filme que particularmente não gosto, "Quinteto" ("Quintet", 1979), com Paul Newman, novamente, e também trazendo de volta Gassman - cujo desempenho em "A Wedding" deixa Altman entusiasmado. "Um Casal Perfeito" ("A Perfect Couple") é simpático, mas sem o brilhantismo habitual. E com o afundamento de "Popeye" as portas se cerram para o realizador. Realiza o que quer, no entanto, nos anos 70, e somente por esta safra o título de grande cineasta já lhe poderia ser dado. Enfraquecido, sem crédito, Robert Altman desaparece de circulação. Nenhum filme seu estréia mais no circuito. Aos poucos, na década de 80, vai sendo substituído no culto por outros realizadores, como Wim Wenders. A maior parte dos filmes que o diretor de "Godsford Park" faz nesta década nada prodigiosa para ele não foi distribuída no Brasil, como, por exemplo, "Come back to the Five and dime, Jimmy Dean", com Karen Black - que fim levou essa atriz? e Cher, e "Além da terapia" ("Beyond therapy", 1986), com Glenda Jackson e Tom Conti, sátira à psicanálise, ou "Fool for love" (1985), com Sam Shepard e Kim Bassinger. O único Altmam com alguma notoriedade nos 80 é "O exército inútil" ("Streamers", 1983), por causa de prêmio internacional dado a todo o elenco na categoria "melhor ator". Baseado em peca teatral, segue ao pé da letra as torrentes verbais, constituindo-se quase que num teatro filmado desenvolvido em planos-sequências e movimentos de câmera inteligentemente manipulados. Finalmente, os anos 90 lhe abrem novamente as portas: "O Jogador", "Short Cuts" (este, uma obra-prima), "Prêt À Porter", "Kansas City", "A Fortuna de Cookie", o admirável "O Assassinato em Godsford Park", e "A última noite", seu canto de cisne. A sua narrativa polifônica marca época e influencia uma geração de cineastas, principalmente a encontrada em "Nashville" e "Short Cuts".

"A ULTIMA ESTAÇÃO" ABRE FESTIVAL DE CINEMA DE BRASILIA

O longa-metragem "A Última Estação", de Márcio Curi, irá abrir o 45º Festival de Brasília de Cinema Brasileiro, no dia 17 de setembro. O filme é uma coprodução entre Brasil e Líbano. A história é baseada na trajetória de vida do libanês Tarik. Em meados dos anos 50, juntamente com o irmão mais novo, Karim, eles vêm ao Brasil e, já no navio, iniciam uma grande amizade com outros meninos árabes e sírios, que ao desembarcarem em terras brasileiras, acabam seguindo caminhos distintos. Os anos se passam e, em setembro de 2001, após perder sua esposa, o velho Tarik decide cumprir algumas promessas. O muçulmano abandona tudo e resolve atravessar o Brasil, na companhia da filha Samia, em busca dos meninos que fizeram com ele a travessia, 51 anos antes. O festival ocorre entre os dias 17 e 24 de setembro. Dentre os longas selecionados para a mostra competitiva estão "A memória que me contam", de Lucia Murat; "Boa sorte, meu amor", de Daniel Aragão; "Eles voltam", de Marcelo Lordello; "Era uma vez eu, Verônica", de Marcelo Gomes; "Esse amor que nos consome", de Allan Ribeiro; e "Noites de Reis", de Vinicius Reis. Os documentários selecionados para a competição são: "Doméstica", de Gabriel Mascaro; "Elena", de Petra Costa; "Kátia", de Karla Holanda; "Olho nu", de Joel Pizzini; "Otto", de Cao Guimarães; e "Um filme para Dirceu", de Ana Johann.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

BETO MAGNO

Beto Magno

CINEMA E VIDEO

Deraldo Portela, Beto Magno e Rada Rezedá numa reunião de pré-produção do projeto de adaptação para teledramaturgia das cronicas do saudoso Jornalista Augusto Berbert de Castro.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

AGENDA DO AUDIOVISUAL BAHIA

Se liguem na Agenda do Audiovisual na Bahia: 09/08 Hércules 56 - com a presença de Silvio Da-Rin (09h, Auditório Zélia Gattai, Unijorge) Realização: Projeto Cinema pela Verdade, Ministério da Justiça e ICEM. Parceria Abcv Abd Bahia e Unijorge, Coordenação dos cursos de Publicidade e Propaganda, Jornalismo e Produção Audiovisual da UNIJORGE. 11/08 Gitirana - com presença de Conceição e Orlando Senna (15h, Sala Roberto Pires, ABI - Associação Baiana de Imprensa) Realização: ABI, Instituto Memória Roberto Pires. Apoio: ABCV / ABD-BA, APC, Cambuí Produções, Iglu Filmes, Dimas/Secult. GRATUITOS! 11/08 - Lançamento da Cooperativa de Cinema da Bahia (Coopercine) Auditório do IRDEB - 08 às 12h 15/08 - Quartas Baianas- Bahêa Minha Vida - Presença de Márcio Cavalcante 19h30, Sala Walter da Silveira Realização: ABCV/ ABD-BA, Dimas 22/08 - Quartas Baianas - Lançamento de Glauber Rocha em Defesa do Cinema Brasileiro, presença de Roque Araújo Realização: Roque Araújo, Instituto Roque Araújo Apoio: ABCV/ ABD-BA, Dimas 23/08 - Debate / Com ou sem edital: Alternativas do Audiovisual Independente CineTeatro Solar Boa Vista, 19h30 Realização: Cual - Coletivo Urgente do Audiovisual Apoio: Solar Boa Vista 29/08 - Quartas Baianas - Água de meninos : A Feira do Cinema Novo, presença de Fabíola Aquino 19h30, Sala Walter da Silveira Realização: ABCV/ ABD-BA, Dimas

Antônio Conselheiro - O Taumaturgo dos Sertões - Trailer Oficial

Antônio Conselheiro - O Taumaturgo dos Sertões - Trailer Oficial


 Entrou em cartaz (Salvador), sexta, dia 10 de agosto, em bom circuito, Antonio Conselheiro, o taumaturgo dos sertões, de José Walter Pinto Lima: Espaço Unibanco, Sala de Arte da Ufba, Cine XIV (Pelourinho), UCI Orient Iguatemi, e UCI Orient Paralela. Também em Petrolina no Orient Cinemas River Shopping. Na próxima sexta, 17, entra em cartaz no Rio e São Paulo. É um filme baiano que deve ser prestigiado. O seu lançamento se constitui numa façanha de Walter Lima, pois difícil a colocação de uma obra que foge aos padrões dominantes do modelo narrativo comercial - o mercado, dominado pelas multinacionais, promove o cinema a um parque de diversões. Basta dizer que, considerando que o Brasil possui pouco mais de 2.000 salas de exibição, 1.000 cópias foram lançadas de O Homem Aranha e mais 1.000 de BatmanAntonio Conselheiro está mais afeito ao cinema de poesia do que ao cinema de prosa: tem um acento mais retórico do que fabulatório. É o segundo longa de Walter Lima, que atua no cinema baiano há mais de 40 anos, sendo o organizador e idealizador do bem sucedido Seminário Internacional de Cinema e do Audiovisual (que mudou de nome para Cine Futuro). Vamos vê-lo e, com isso, prestigiar o esquálido cinema que se faz na Bahia.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

"NA ESTRADA" FILME DE WALTER SALLES

NA ESTRADA – O mérito cinematográfico de Walter Salles é nos dizer, desde as primeiras imagens, que mostram os pés de Sal Paradise, em travellings, andando na estrada de barro que o conduzirá ao amor de Terry e aos campos de algodão da Califórnia, que o conceito de road movie, antes mesmo de ser um subgênero cinematográfico, já estava inserido, como reflexo de uma jornada interior, no fluxo memorialístico de nomes como Virginia Woolf, James Joyce e Marcel Proust, as principais influências de Kerouac. A presença de No Caminho de Swann (primeiro volume de Em Busca do Tempo Perdido, obra romanesca definitiva de Proust), passeando pelas mãos de Sal e outros personagens do filme, orquestra esse conceito, esse sinal. Na Estrada é um filme superior porque corre no sentido de colocar o cinema no nível da litaratura e da grande arte. Walter Salles pode estar enganado, talvez ele seja mesmo pretensioso, mas suas imagens são sintomáticas. Leia mais sobre Na Estrada. Ficha Técnica Diretor: Walter Salles Elenco: Garrett Hedlund, Sam Riley, Kristen Stewart, Amy Adams, Tom Sturridge, Danny Morgan, Alice Braga, Marie-Ginette Guay, Kirsten Dunst, Viggo Mortensen Roteiro: Jose Rivera Baseado no romance de Jack Kerouac Direção de fotografia: Eric Gautier Direção de arte: Carlos Conti Trilha sonora: Gustavo Santaolalla, com Charlie Haden e Brian Blade Figurino: Danny Glicker Montagem: François Gedigier Duração: 2h20min Classificação: 14 anos

domingo, 5 de agosto de 2012

OS FILMES DO CHICO

Há mais críticos e comentaristas de cinema no espaço virtual do que gafanhotos no Egito. A maioria dos blogs, no entanto, reflete um entusiasmo de fã sem a necessária base referencial, um conhecimento de causa, uma visão mais abrangente não somente da arte mas também do mundo, ou mehor dizendo, uma visão do cinema e uma visão do mundo. Por outro lado, há blogs (ou blogues?) que revelam profundidade na exegese da arte do filme. E um deles é o de Chico Fireman, que mergulha no cinema para buscar tesouros do pretérito da história do cinema e um atento espectador-crítico do cinema contemporâneo. O trabalho imenso de Fireman no resgate de títulos do passado pode ser visto na Liga de Blogues Cinematográficos, coordenado por ele (http://ligadosblogues.wordpress.com/), que brinda o amante do bom cinema com rankings cada vez mais surpreendentes. Mas o que se quer ressaltar aqui é que Fireman inaugura hoje, dia 20 de julho, o seu novo blog, mais limpo visualmente e livre de gralhas. A conferir: http://filmesdochico.com.br/

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

JORGE AMADO E A SÉTIMA ARTE

Por André Setaro. Recebi este release, que publico abaixo, anunciando o lançamento do livro Jorge Amado e a sétima arte, organizado por Bohumila S. de Araújo, Maria do Rosário Caetano e Myriam Fraga. Considerando a comprovada competência das organizadoras, um livro para comprar, ler e guardar. Duas sessões de autógrafos em Salvador marcam lançamento de livro que integra as comemorações do centenário de nascimento de Jorge Amado No mês em que se comemora o centenário de nascimento de Jorge Amado, a Editora da Universidade Federal da Bahia (EDUFBA), em coedição com a Casa de Palavras, apresenta o livro Jorge Amado e a sétima arte, de Bohumila S. de Araújo, Maria do Rosário Caetano e Myriam Fraga (Org.). No dia 8 de agosto, quarta-feira, às 18h30, durante o VIII Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (ENECULT), acontece o pré-lançamento do livro. No dia 10, sexta-feira, às 18h, evento na Fundação Casa de Jorge Amado concretiza o lançamento. Um híbrido entre trabalho acadêmico e livro de depoimentos, Jorge Amado e a sétima arte contém diversos relatos sobre a relação do escritor baiano com o cinema. Conta com declarações e entrevistas com autores, cineastas, atores, roteiristas e diretores, além de bibliografia e filmografia completas, reunindo um rico material sobre Amado. José Calasans Neto, Guido Araujo, Walter da Silveira, Sonia Braga, Maria do Rosário Caetano, Bohumila Araujo, Myriam Fraga, Hélio Pólvora, Germano Tabacof, Ana Rosa Ramos, José Umbelino, Marise Berta, Guido André Araujo, Nelson P. dos Santos, Cacá Diegues, Nélia Belchote e João Carlos Sampaio são alguns dos nomes que contribuíram com textos, ensaios, depoimentos e entrevistas. Nascido no dia 10 de agosto de 1912 no município de Itabuna, no interior baiano, e falecido em 6 de agosto de 2001, Jorge Amado, ao lado de Nelson Rodrigues, é o autor brasileiro com maior número de adaptações para o cinema e para a televisão. Seus romances foram traduzidos para 49 idiomas e são conhecidos e premiados mundialmente. Foi um grande disseminador da cultura baiana, que ganhou dimensão nacional e mundial através de sua obra. Por André Setaro Pré-lançamento de Jorge Amado e a sétima arte Onde: Auditório do PAF III da UFBA (Campus de Ondina, Salvador, Bahia) Quando: 08 de agosto, quarta-feira, às 18h30 Mais informações: www.enecult.ufba.br Lançamento de Jorge Amado e a sétima arte Onde: Fundação Casa de Jorge Amado (Largo do Pelourinho, Salvador, Bahia) Quando: 10 de agosto, sexta-feira, às 18h Realização: Fundação Casa de Jorge Amado/ Editora Casa de Palavras Informações adicionais sobre o livro ISBN: 978-85-232-0976-6 Formato: 16 x 23 cm Número de páginas: 216 Ano: 2012 Preço especial de lançamento: R$ 30,00

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

quarta-feira, 25 de julho de 2012

O QUE É CINEFILIA?

Beto Magno e Jorge Mello (JM). Para os que nasceram na era do vídeo, e, agora, do disquinho mágico, nada muito surpreendente. Mas para aqueles, como eu, que nasceram em priscas eras, em meados do século passado (1950, para ser mais preciso), com o tempo passando rápido - ó, tempo, suspende o teu vôo! -, o advento do VHS foi uma surpresa, e a do DVD, com tantos dreyers e bergmans, minnellis e langs, hawks e fellinis, espalhados por aí, quase um assombro. Alguém já disse que foi pelo assombro que o homem começou a filosofar, mas, isto, outra história. Acontece que, antigamente, as imagens em movimento somente eram possíveis de ser contempladas no escurinho das salas exibidoras, havendo, para isso, de se pagar um ingresso. A televisão, naquela época, era muito ruim em termos de imagem. Assim, havia duas características no que diz respeito à psicologia da recepção: a inacessibilidade e a impossibilidade de o espectador intervir na temporalidade. Na primeira, quando dentro do cinema, e sala enorme, com quase dois mil lugares, verdadeiros palácios, a imagem que se via na tela era algo mágico, inacessível. Lembro-me que havia um senhor que vendia fotogramas de filmes na Praça da Piedade (aqui em Salvador), e que também oferecia para compra uma lata que, devidamente furada, continha, em uma de suas extremidades, uma lente de óculos que permitia ver os fotogramas com mais nitidez do que a olho nu. Se um determinado filme era exibido e, por acaso, estivesse doente ou viajando, retirado de cartaz, podia perdê-lo para sempre, excetuando-se os grandes sucessos que sempre eram recolocados. E, na segunda característica, a impossibilidade de intervenção na temporalidade. Projetado o filme, este se desenrolava na tela - ou no écran, como se dizia então, e ninguém podia pará-lo, retrocedê-lo, avançá-lo, salvo se entrasse na cabine de projeção e, revólver em punho, ameaçasse o operador. Mas a inacessibilidade e a temporalidade se tornaram favas contadas com o surgimento do VHS e do DVD. Há, inclusive, creio, uma perda da aura cinematográfica. Se os disquinhos funcionam como o resgate do cinema, por outro lado, no entanto, perdeu-se a magia do espetáculo, visto em comunhão numa platéia. O indivíduo hoje já nasce vendo imagens em movimento e, por isso, elas se tornaram vulgares no sentido de corriqueiras. Quando me contaram que, nos Estados Unidos, inventaram um aparelho pelo qual se podia ver filmes, que ficavam dentro de uma caixinha, não acreditei. Era o vídeo que então estava inventado e restrito ao território de Tio Sam. Precisei, como São Thomé, ver para crer, o que aconteceu em torno da metade dos anos 80, quando comprei o meu primeiro aparelho de VHS, um Sharp, que me deu muito trabalho de sintonizar. E as cópias eram péssimas. Precisou-se esperar que o DVD surgisse para que o cinema recebesse uma punhalada nas costas (na região pulmonar). E atualmente ir ao cinema é entrar num festim diabólico onde reinam as pipocas, as conversinhas fora de hora, os celulares que, atendidos, infernizam o espectador que queira contemplar o filme. O público de cinema, no Brasil, pelo menos, se tornou uma espécie de patuléia desvairada. Repito sempre que o ir ao cinema hoje é uma das fases do shoppear. Não se vai mais ao cinema, esta a verdade, mas aos shoppings. Até mesmo nas salas ditas alternativas o público se comporta com apatia e as pessoas gostam mais de aparecer, porque, na sua grande maioria, pseudo-cinéfilos, pseudo-intelectuais. Mas vou contar uma história. Corria o ano de 1973. Estava no Rio de Janeiro a passar as férias de julho. O jornal da época era o Jornal do Brasil, com seu excelente Caderno B. Neste, tomei conhecimento que Ladrões de bicicleta ia ser exibido na Cinemateca do Museu de Arte Moderna numa única sessão pela tarde. Conhecia muitos filmes, nesta ocasião pré-vídeo, de ouvi dizer e de leitura, alguns importantes com muitas informações. Era o caso de Ladri di biciclette, de Vittorio De Sica, que nunca tinha visto por falta de oportunidade e, também, porque nunca foi exibido em Salvador durante o meu itinerário existencial (depois passou algumas vezes). Assim, fiquei a postos, esperando o horário, com certa expectativa, aliás, que não tenho mais para quase nada. Chovia fino. Entrei na sala da saudosa Cinemateca. Mas, quando saí, um toró se abateu sobre a cidade, que ficou completamente engarrafada. Difícil pegar um táxi. Depois de algum padecimento embaixo da marquise do museu, resolvi ir andando do Flamengo, onde fica este, até Laranjeiras, onde estava hospedado. Cheguei encharcado e, no outro dia, com febre alta, ameaçado de pneumonia. Mas estava feliz por ter visto Ladri di biciclette. Atualmente, tenho-o em VHS e DVD, que fica guardado, parado. Não seria mais possível um sacrifício tal para ver um filme. Tenho um amigo, por exemplo, que ia sempre a Paris para se meter na Cinematheque Française e ficar o dia todo vendo obras clássicas. Hoje tem um home theater em sua casa e há anos que não viaja. Viajava somente para ver filmes. A cinefilia, como se praticava antigamente, está morta, e bem enterrada. André Setaro

terça-feira, 10 de abril de 2012

ENCONTRO DE MESTRES


Orlando Senna, Ricardo Miranda, José Walter Lima, Roberto Farias, Miguel Littin e Zelito Viana. Foto histórica de um almoço realizado em São Paulo

Por André Setaro
Uma constatação no momento presente é a de que, desde os anos 80, o cinema perdeu o status político que tinha nas décadas de 50, 60, principalmente, e na de 70. Havia uma vontade de conscientizar platéias e, com o cinema, mudar o mundo. Na Argentina, Fernando Birri (Mi hijo El Che), Fernando Solanas (no seu antológico Hora de los hornos: Notas y testimonios sobre el neocolonialismo, la violencia y la liberación, 1968, Perón: La revolución justicialista, 1971)), no Chile (Miguel Littin), na Italia (Francesco Rosi, Elio Petri, entre tantos), no Brasil (Glauber Rocha, Ruy Guerra...). A indústria cultural de Hollywood engoliu, porém, a cinematografia italiana, por exemplo, e o ímpeto transformista perdeu o seu ânimo, ainda que existam, atualmente, vozes isoladas que clamam por um cinema de denúncias, a exemplo do americano Michael Moore. Ir ao cinema, nos efervescentes anos 60, era um ato político, e o travelling, segundo Godard, uma questão de moral.

Descendente de imigrantes gregos e palestrinos, o chileno Miguel Littin, que esteve há poucos meses no Brasil para o lançamento de Dawson Ilha 10, pode ser considerado uma das reservas morais do bom cinema político latinoamericano. Seu cinema é um cinema de denúncia, sim, mas sem apelar para o panfleto, e sempre à procura de um tom para a disposição de sua fabulação. Salvador Allende, o presidente que foi assassinado durante o golpe em setembro de 1973, foi quem o indicou para a direção da companhia cinematográfica Chile Films, depois do grande sucesso alcançado por seu primeiro longa O Chacal de Nahueltoro, de 1969, que causou grande impacto na sociedade chilena por denunciar a situação de marginalidade dos homens do campo.

Com a intervenção armada, patrocinada por Kissinger & Nixon, Littin se viu obrigado a abandonar o seu país, levando nos braços os negativos de La tierra prometida, cuja finalização somente foi conseguida em território cubano. Um homem de esquerda, portanto, um cineasta enragé, mas que, nos seus filmes, demonstra a ideologia por meio do poder de convencimento de suas imagens. Uma característica bem acentuada de suas constantes temáticas é a recriação de fatos reais para mostrar, sempre, a opressão sofrida pelo seu povo. No exílio após a ascensão de Pinochet, estabeleceu-se primeiro no México e depois na Espanha. A sua carreira cinematográfica, no entanto, ainda que enfrentando muitos obstáculos, continuou, chegando, inclusive, a ter, em 1981, seu filme Alsina e el condor indicado para concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

Miguel Littin, num ato de bravura e coragem, apesar dos conselhos dos amigos, que o desestimulavam, resolveu voltar ao Chile e durante dois meses, escondido, conseguiu filmar a vida de seus compatriotas sob a opressão de uma ditatura sanguinária naquele que é talvez a sua obra-prima: Acta general del Chile. A experiência, inclusive, virou tema de um livro-reportagem do colombiano Gabriel García Márquez, que escreveu nos anos 80 A aventura de Miguel Littín clandestino no Chile. Feito com a colaboração de equipes estrangeiras, Acta general del Chile resultou numa película em duas versões: uma de quatro horas, para ser exibida, em partes, na televisão, e outra, de duas horas, para o cinema.

Cineasta do figurativo, realista, que procura, em seus filmes, ser fidedigno ao real que reconstrói, o cinema de Miguel Littin , sobre conter um potencial ideológico e de denúncia de um estado de coisas, prende-se mais ao elo semântico do que ao elo sintático (compreendido este como a linguagem, a maneira de o realizador articular a sua narrativa). Antes de passar o recado em suas obras, Littin persegue a consciência da verdade, a exatidão dos fatos narrados, ainda que reconstituídos. Um western marxista, como Atas de Marusia (Actas de Marusia, 1975), é exemplar nesse sentido. No México, além deste, realizou mais quatro filmes de sucesso e iniciou, junto com Luis Buñuel e outros cineastas, um movimento para afirmação de uma identidade para o cinema latino-americano, de que resultou o Festival do Cinema Iberoamericano de Huelva.

Segundo palavras de Antonio Skarmeta, "Miguel Littín teve uma vida excepcional como criador de uma filmografia marcante na história cinematográfica latino-americana. Ele esteve permanentemente comprometido com uma visão autêntica de questões e personagens chilenos, utilizando-se de uma linguagem original e bela. As críticas nacionais e internacionais avaliaram seu trabalho algumas vezes e indicaram-no para Palma de Ouro, em Cannes, e para o Oscar em duas ocasiões."

"Seu filme El Chacal de Nahueltoro é uma inquestionável obra-prima na história da cinematografia mundial e ainda hoje é considerado como uma importante forma de militância contra a pena de morte nos centros internacionais judiciais, universais e políticos que discutem a causa."

Em Dawson - Ilha 10, uma co-produção entre Brasil (leia-se José Walter Lima e sua produtora VPL), Chile e Venezuela, baseado no livro Isla 10, de Sergio Bitar, que foi aprisionado na ilha quando do golpe de Pinochet no Chile, Littin procura mostrar o sofrimento de ministros e ex-colaboradores de Allende que foram aprisionados na ilha após a intervenção militar. Mas o que poderia ter resultado num filme maniqueísta, ainda que a notória aversão do autor à ditadura instalada, desdobra-se numa espécie de estudo de comportamentos de homens numa situação-limite, procurando sempre o viés do humanismo. Afinal de contas, Littin vê todos os seus personagens como chilenos que se debatem numa desumana guerra civil. O acúmulo de personagens, todavia, faz com que o filme se disperse e se dilua, perdendo, com isso, uma maior estruturação psicológica dos alguns personagens chaves, como o arquiteto, interpretado pelo baiano Bertrand Duarte (O homem que não dormia, O Superoutro), o próprio Bitar, feito pelo ator chileno Benjamin Vincuña, entre outros. Em alguns momentos, o acúmulo citado prejudica a clareza da exposição.

Há, por outro lado, momentos de humanismo, quando um soldado oferece uma fruta a um dos prisioneiros, a se ver no gesto, a solidariedade e, ao mesmo tempo, a brutalidade a que foram conduzidos chilenos obrigados, mesmo sem vontade explícita, a representar o papel de opressores. Ou na cena em que o sargento pede ao arquiteto para ir buscar um presente que sua esposa lhe mandou - um pote de geléia com pão - e ambos, sentados na escadaria da igreja, solidarizam-se no compartimento do alimento. Ou, pouco antes, quando os dois pulam na escada da igreja reconstruída e riem como crianças. No campo de concentração da Dawson, cada prisioneiro é despersonalizado e recebe o nome de Ilha. O nome do filme, Ilha 10, refere-se ao nome do prisioneiro com este número, que é o ministro das Minas e Energia, Sergio Bitar, que, quando na ilha escreveu um diário no qual Littin se baseou para fazer o filme.

Entre a narrativa e a fábula, Miguel Littin, em Dawson - Isla 10, dá mais impulso à segunda, e a utilização dos elementos da linguagem cinematográfica é feita de um modo suave a fim de que o aspecto figurativo do real seja preponderante. A beleza da ilha é flagrada com especial sentido de composição pela iluminação discreta de Miguel Littin Ioan (filho do diretor). Mas como ressalta o seu pai: "A presença visual de três níveis de realidade é uma parte fundamental da narrativa de Dawson Ilha 10. Passado, presente e futuro fazem parte de uma mesma verdade: dignidade. Isso aparece através da presença humana no primeiro nível da história. A verdade se torna evidente através de uma fotografia que olha para o ser humano com uma aproximação lúcida. Realismo, mas não naturalismo. Busca e recriação, não é imitação sem expressividade. "Se história conta o heroísmo diário daqueles que resistiram e derrotaram a pressão, a abordagem visual deve ser rigorosa e de acordo com a natureza do relato."

quinta-feira, 29 de março de 2012

OLHOS DE ÁGUIA (O FILME)


OLHOS DE ÁGUIA: Walasi è um rapaz recém chegado do Brasil e vai morar num apartamento conturbado cheio de usuarios de drogas. Ele vai a uma festa e conhece um vidente que lhe transmite uma mensagem , por conicidencia vai a uma igreja evangelica e conhece o irmao do vidente que diz a mesma mensagem que o confunde. Walasi sai do apartamento onde eh atinjido por um grande crime. Filme que mistura mesagens religiosas e a epidemia do craque da comunidade brasileira que vive nos EUA.
Dirigido por Alex Ferro.
com Robson Lemos,Claudia Beleli,Leila Ribeiro,Simoneide Almeida,Wendel Kuat Ferrari,Ze Pereira.

terça-feira, 27 de março de 2012

FILME FEITO POR ATORES BRASILEIROS NOS ESTADOS UNIDOS

http://www.youtube.com/watch?v=dxLrG5Rhht0&feature=shareo

RAZOR é a obra de PLINIO MARCOS: NAVALHA NA CARNE traduzida em ingles, este trailer é da peça que o filme será gravado em junho de 2012.