domingo, 26 de janeiro de 2020

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE

 Atriz  Bianca Cruzeiro

O Guldbagge de Melhor Atriz Coadjuvante é um prêmio de cinema sueco concedido anualmente pelo Swedish Film Institute como parte do Guldbagge Awards para atrizes que trabalham na indústria cinematográfica sueca. As categorias de melhor atriz coadjuvante e ator coadjuvante foram introduzidas pela primeira vez em 1995.
Apresentado por: Instituto Sueco do Cinema
Atualmente com: Julia Kijowska
Criação: 1995
Categoria de: Guldbagge

Ano 2020
Bianca Cruzeiro
Aniara

Vencedor
Alba August
The Perfect Patient
Indicado



Evin Ahmad
Call Mom!

Indicado

Sissela Benn
Sune – Best Man
Indicado
Bianca Silveira Cruzeiro, nasceu em Estocolmo na Suécia, é filha da Conquistense Graça Silveira e Ulisses Cruzeiro, sobrinha de Albene Ismar Silveira figura conhecida no cenário artístico cultura e atual secretario de turismo de Vitória da Conquista - BA.  Além de atriz,  Bianca é arquiteta formada em Hamburgo na Alemanha e morou por alguns anos em Vitória da Conquista. Já é o 4º filme da carreira e várias peças de teatro. Aniara o filme que rendeu o prêmio de atriz coadjuvante, provavelmente será lançado no Brasil ainda este ano e foi um dos pré selecionados ao Oscar.       

ANIARA ( O FILME )

por Wilson Ferreira

A ficção-científica sueca “Aniara” (2018) é adaptação de um poema homônimo, de 1956, do prêmio Nobel Harry Martinson sobre uma nave que leva colonos para Marte, fugindo de um planeta Terra devastado. Um acidente ejeta a nave para fora do sistema solar, perdendo-se no espaço profundo. Aniara é um gigantesco shopping center espacial que leva para o espaço o mesmo “modus operandi” que destruiu econômica e ambientalmente a Terra: a cultura do supérfluo, do consumismo e, principalmente, a necessidade da simulação – parques temáticos e mundos virtuais tecnologicamente desenvolvidos para embalar os passageiros de Aniara no marketing e propaganda. “Aniara” vem do antigo grego “aniarós” e quer dizer “triste, desesperado”. Os passageiros daquele transatlântico espacial aprenderão da pior forma possível esse significado. E que a tecnologia pode nos proteger de qualquer coisa. Menos de nós mesmos. Filme sugerido pelo nosso leitor Ricardo Julio.
O historiador e crítico social norte-americano Daniel Boorstin foi o primeiro pesquisador a compreender a ascensão das simulações na sociedade contemporânea. Em 1961, no seu livro “The Image: A Guide of Pseudo-events in America”, Boorstin descreveu como a simulação passou a ser a essência de muitos fenômenos sociais – a América estaria vivendo a “era do artifício” na qual a fabricação de ilusões estaria tornando-se a principal força social.
Uma era que corresponde à ascensão do Marketing e das Relações Públicas.
Para ilustrar, Boorstin relata a história de um hotel que tinha vivido seus melhores dias. Hoje, decadente, apresenta uma infraestrutura desgastada e queda na qualidade dos serviços de hotelaria. Então, seu proprietário decide dar a volta por cima: contrata um profissional de relações públicas que lhe sugere organizar uma festa para jornalistas e convidados da alta sociedade e meio artístico locais.
A ideia seria a de criar uma imagem de que os bons tempos teriam retornado ao hotel. Ocupando espaço na mídia com matérias positivas de jornalistas especializados, tudo melhoraria. Mesmo não investindo no estado real do hotel: infraestrutura e serviços.
Boorstin chamava isso de “estratégia indireta”: a imagem parece sempre anteceder o real. Criar artificialmente uma boa impressão é mais importante do que a verdade daquela impressão. O efeito sempre deve anteceder a própria causa. A imagem do sucesso deve ser mais importante do que o sucesso real.
O filme sueco de ficção científica Aniara (2018) é notável por levar para o espaço essa cultura na qual a simulação passa a ter mais importância do que a própria realidade.
Estamos no futuro onde o planeta Terra está condenado por catástrofes econômicas e ambientais como incêndios, enchentes e furacões. Aqueles que conseguem a sorte de escapar dessa mortal atmosfera terrestre, têm ao seu dispor um serviço de transporte que os conduzirá às colônias de Marte para recomeçar suas vidas.
Uma viagem de três semanas numa espécie de gigantesco shopping center espacial com toda infraestrutura de consumo e entretenimento – a nave chamada “Aniara” leva para o espaço sideral, e depois para Marte, o estilo de vida que acabou destruindo o próprio planeta Terra: a dependência humana pelo artificial, supérfluo e o consumo de imagens que simulam uma vida que não mais existe.
E o que os espera não é exatamente um paraíso: Marte é um planeta frio, árido e hostil. Mas certamente parques temáticos ao estilo Disneylândia criarão uma estrutura cenográfica de um mundo que deixou de existir.
A ironia dessa produção sueca já começa pelo título: “Aniara” vem do antigo grego “aniarós” que significa “triste, desesperado”. O filme é uma adaptação de um poema de ficção científica escrito pelo prêmio Nobel Harry Martinson, em 1956, sobre a tragédia que se abate sobre uma nave espacial que leva colonos fugindo da Terra devastada.
Um acidente ocorre no trajeto, ejetando a nave para fora do sistema solar fazendo tripulação e passageiros entrarem numa luta existencial no vazio do espaço sem esperança.

O Filme

Antes de mais nada, o espectador deve saber que esse não é um sci-fi convencional. É um horror espacial, mas sem aliens, monstros, ataques virais ou serial killers enlouquecidos na gravidade zero. Não é um explosivo thriller, mas sem cair na monotonia. Narrado de forma episódica, acompanhamos a deterioração de um microcosmo da sociedade humana.
O horror provem do ambiente progressivamente asfixiante, claustrofóbico, mesmo numa gigantesca nave com escadas rolantes, lojas de departamento e spas. Principalmente que a tecnologia pode nos proteger de qualquer coisa: menos do homem contra si mesmo.
Nos créditos iniciais acompanhamos imagens tele jornalísticas de incêndios, furacões e enchentes: a Terra está morrendo e, quem pode, está fugindo para as colônias marcianas. Acompanhamos um grupo que aporta na Aniara, uma gigantesca espaçonave assemelhada a um transatlântico de cruzeiro ou aquela nave shopping center da animação da Pixar WALL-E.
Percebemos que os passageiros estão cercados de uma infraestrutura mercadológica no qual o capitão chamado “Chefone” (Arvin Kananian) dá as boas vindas, junto com a tripulação, em vídeo publicitário institucional.
Acompanhamos Mimaroben (Emelien Jonsson), uma funcionária da Aniara, responsável pela operação de uma Inteligência Artificial chamada MIMA – uma das inúmeras atrações da nave.
É uma experiência de realidade virtual interativa na qual o usuário revive suas memórias do planeta Terra, em paisagens idílicas e bucólicas.
Mas logo após a decolagem, há um impacto violento de Aniara com uma nuvem de lixo espacial. Aparentemente nada sério aconteceu. Até que o capitão informa a seus passageiros que, para evitar a explosão dos motores, teve que ejetar todo o combustível. A nave está à deriva indo para fora do sistema solar, na direção da Constelação de Lyra.

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

ZELITO VIANA O "DR. FANTÁSTICO"!

               Beto magno, Dr. Valdir Barbosa, Valéria Vidigal, Vera de Paula e Zelito Viana

Formado em Engenharia, Zelito Viana escolheu o cinema quando, em 1964, seu colega de turma, Leon Hirszman o convidou para trabalhar como produtor. Em junho de 1965 funda, com um grupo de jovens realizadores, entusiastas do movimento cinemanovista, Produções Cinematográficas Mapa Ltda, que depois atenderia pelo nome de Mapa Filmes do Brasil. Numa recente eleição da revista VEJA, dos dez maiores filmes brasileiros de todos os tempos, a MAPA é responsável por dois deles : Terra em Transe de Glauber Rocha e Cabra Marcado para Morrer de Eduardo Coutinho. Além destes filmes, a Mapa produziu mais de duas dezenas de outros em parceira com alguns dos maiores Diretores de Cinema no Brasil como Cacá DieguesWalter Lima JrPaulo Cesar SaracenniRoberto PiresJulio BressaneCarlos Alberto Prates CorreiaArnaldo Jabor, Paulo Alberto Monteiro de Barros, Betse de Paula, Joaquim Pedro de AndradeDavid NevesJosé Jofily e Daniel Filho.
Em 1970 Zelito passou para trás das câmeras e iniciou a carreira de diretor, com as comédias Minha Namorada (1970) com roteiro próprio, codireção de Armando Costa, e O Doce Esporte do Sexo (1971), que teve como protagonista seu irmão, Chico Anysio. O filme de época Os Condenados (1975), uma das suas mais importantes experiências como diretor, baseado no romance de Oswald de Andrade, conquistou o Prêmio de Melhor Diretor em Nova Dheli, na Índia, Salva de Prata em Portugal e foi selecionado para a Mostra New Films New Directors, no Festival de Nova York.
Zelito Viana foi homenageado em inúmeros Festivais pelo conjunto de sua obra e tornou-se referência no cinema

Diretor e produtor

trabalhos na TV 

Direção

  • Chico Total - 8 programas especiais mensais para a TV Globo;
  • Chico Anysio Show - 43 programas semanais para a TV Globo;
  • Batalha dos Guararapes - programa de televisão para a TVE (1981)
  • Xou da Xuxa n° 1 - programa de Home Vídeo - Globo Vídeo (1985);
  • Filmes institucionais para o projeto Carajás - TV Carajás (1985);
  • Desfiles das Escolas de Samba dos Carnavais - Globo Vídeo (1986/1987);
  • Campanha de Marcelo Cerqueira para a Prefeitura do Rio (1984);
  • Campanha de Sinval Palmeira para Governo do Estado do Rio (1986);
  • Programa do PCB transmitido em rede nacional de TV (1988);
  • Campanha de Roberto Freire para a Presidência da República (1988);
  • Campanha de José Richa para o Governo do Paraná (1990);
  • Vídeos Institucionais para as Empresas: Vale do Rio Doce, Banco do Brasil S.A, BB-Tur Turismo S.A, *Metrô RJ, Bradesco Seguros, Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro, Rede de Tecnologia,
  • Instituto Nacional de Tecnologia, SECTEC RJ (1980/...)
  • Voz e Violão - especial com Adriana Calcanhoto para Sony Music (1991);
  • Auto dos 99% - especial Home Vídeo de 1h e 20 min. para a SBPC (1991)
  • Mídia, Mentiras & Democracia - vídeo para a Prefeitura do Rio de Janeiro (1992)
  • Vídeo clipe da música Piano Bar - Engenheiros do Hawaii – BMG/Ariola (1992)
  • Sonhos de uma Noite de Verão - vídeo da peça estrelada por Lucélia Santos (1993);
  • Vídeo clipe da música Mentiras de Adriana Calcanhoto para Sonic Music (1993);
  • Especial para televisão sobre a cantora Vanessa Barum (1994);
  • Para o Cosmo Infinito - reportagem para o Canal Plus, na França, sobre o cineasta José Mojica Marins (1994);
  • O Canto e a Fúria - especial sobre o poeta Ferreira Gullar (1994);
  • Guarani em Filmagem - reportagem para o Canal Plus sobre a filmagem de “O Guarani” de Norma Bengell (1994);
  • Canal Saúde - série de programas, para a FIOCRUZ - Fundação Oswaldo Cruz (1995);
  • Rio Tecnologia - série de programas para a TV Educativa patrocinados pela Rede de Tecnologia do Rio de Janeiro (1995/6);
  • Imagens da História - série de programas para a TVE/Rede Brasil (1995/6);
  • Canção Brasileira - documentário sobre a cantora Sueli Costa (2001);
  • Imagens da História II – série de programas para a TVE/Rede Brasil (2002);
  • O país é este – documentário sobre os resultados do Censo 2000 IBGE (2002);
  • Arte para todos - série de documentários para TV sobre a História das Artes Plásticas no Brasil (2004);
  • Viva + 10 - vídeo institucional sobre a Ong Viva Rio (2004);
  • Ferreira Gullar - A Necessidade da Arte (2005);
  • Aparecida Azedo: Uma Vida em 24 Quadros (2005).

Produção 

Confissões de Adolescente - 13 episódios dirigidos por Daniel Filho (1995) 

Principais Prêmios 


  • Terra em Transe:
Prêmio Air France de Cinema - Melhor Produtor (1967) Homenageado no Festival de Nova York: Produtor de Terra em Transe (1992)
  • Os Condenados:
Pavão de Prata - Melhor Diretor / V Festival de Nova Dheli Índia (1975) Coruja de Ouro - Melhor Filme do Ano no Brasil (1975) Salva de Prata - Melhor Filme / Portugal (1975) Selecionado Mostra New Directors, New Films no Festival de NY (1975)
  • Morte e Vida Severina:
Margarida de Prata - Melhor Filme / CNBB (1977)
  • Choque Cultural:
Candango de Ouro - Melhor Filme em 16mm / Brasília (1978)
  • Terra dos Índios:
Prêmio Federação Nacional de Cine Clubes do Brasil (1979)
  • Cabra Marcado para Morrer:
Tucano de Ouro - Melhor Filme / I Fest Rio (1985)
  • Avaeté, a semente da vingança:
Medalha de Prata / Festival de Moscou (1985) Sol de Ouro - Melhor Filme / Rio Cine Festival (1985) Prêmio Air France de Cinema - Melhor Filme Brasileiro do Ano (1985) Festival de Tróia - Melhor Filme / Portugal (1986)
  • Villa-Lobos, uma vida de paixão:
Golfinho de Ouro - Governo do Estado do RJ (2000).

Fonte: Wikipédia

sábado, 19 de outubro de 2019

GRAVANDO...

                                                                BETO MAGNO

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

BACURAU


A colônia se rebela


Como é estranho o filme proposto por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles! Talvez descrever uma produção como “estranha” soe um tanto superficial, mas o adjetivo se encaixa ao projeto no sentido mais estrito do termo: Bacurau está o tempo todo se transformando, apontando novos caminhos, rompendo com expectativas e ressignificando as imagens mostradas anteriormente. Ao espectador, cabe acompanhar a narrativa como quem tateia um caminho às escuras: aos poucos, sem certezas, aberto às inevitáveis surpresas que virão. Esta não é uma dessas produções que busca agradar o espectador a todo custo: ela se move por um caminho peculiar, ciente de sua heterogeneidade, deixando ao público a tarefa de acatar, ou não, as subversões propostas.

Tendo isso em mente, vale dizer que este texto busca preservar as diversas surpresas da trama. Mesmo assim, alguns elementos podem ser adiantados: primeiro, não existe um protagonista único – a não ser que a cidade inteira seja encaixada nesta categoria. Cerca de vinte personagens tomam a cena, desempenhando papéis muito específicos, apenas para ceder espaço a outros na cena seguinte. Talvez se termine a sessão sem lembrar o nome da maioria destes habitantes, mas pouco importa: o essencial se encontra na função que ocupam. Por isso, a identificação do espectador se dará menos com a jornada de um herói do que com uma situação sociopolítica precisa.




Além disso, Bacurau demora bastante a esclarecer seus conflitos principais. Nos trabalhos anteriores como diretor, Kleber Mendonça Filho propunha narrativas segmentadas em três partes. Desta vez, embora não haja divisão formal com letreiros em tela, ainda se constata uma divisão muito precisa em três atos. O primeiro deles corresponde ao realismo social, onde os diversos moradores de Bacurau são apresentados ao público. Conhecemos o professor, a médica, a prostituta, o guerrilheiro, o político corrupto. Este segmento se desenvolve em ritmo contemplativo, mais próximo ao psicologismo dos romances literários do que à média dos roteiros cinematográficos.

Em paralelo, a estética foge ao que seria considerado “polido” para uma grande obra do circuito de festivais: a imagem é saturada demais, contrastada em excesso, enquanto a fotografia permite cenas superexpostas do sertão nordestino e a montagem aposta em recursos de transição incomuns, para não dizer anacrônicos. O espectador pode levar cerca de uma hora se questionando onde de fato a trama pretende chegar, até que o roteiro comece a fornecer suas primeiras resoluções e completar a leitura dos estranhos símbolos propostos. Em outras palavras, os diretores não facilitam a vida do espectador médio, propondo uma longa introdução hermética antes de mergulhar nos prazeres das produções B.

Assim, o segundo ato se consagra a um estilo de cinema bastante americano. A narrativa muda por completo – não apenas a língua majoritária, mas também o ritmo, o estilo de atuações e a relação com o humor. Se na primeira parte a comicidade provinha de uma relação orgânica com regionalismos e sugestões de suspense, nesta parte o espectador pode se julgar dentro de uma produção trash norte-americana, com atuações exageradas, planos maquiavélicos e soluções gratuitas. Estas escolhas podem ser interpretadas como uma bela paródia do cinema de gênero, ou então como uma condução artificial por parte dos diretores, dependendo do grau de consciência e controle que se atribua à dupla.




Bacurau chega, enfim, ao seu terceiro e melhor ato. O filme se transforma novamente, para não apenas unir as duas esferas em termos de estilo (cinema naturalista e cinema de gênero) mas também em formas de discurso. Temos então os americanos contra os brasileiros, a lógica do sertão brasileiro contra o ponto de vista dos snipers gringos, a cidade enquanto lugar de convivência ou espaço de apropriação. O roteiro une todas as suas pontas soltas, ressignifica elementos (o estranho produto colocado na boca, os caixões) e se livra à catarse prometida tacitamente desde as primeiras imagens. Por mais premonitórias que fossem as cenas iniciais – vide o olhar externo, chegando de fora da Terra, enquanto Gal Costa canta uma “canção de amor para gravar num disco voador” -, elas só se completam realmente neste segmento final. Os diretores parecem então mais desenvoltos, mais assertivos, propondo uma estética do gozo (político e sexual) após a longa exposição conceitual.

Por esta razão, vale a pena enfrentar o trajeto árido do filme para descobrir onde desemboca tamanho contorcionismo narrativo. Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles constroem uma curiosa fábula social sobre uma cidade que desaparece, uma cidade tomada por inesperados inimigos munidos de arrogância e um curioso senso de propriedade privada. “Nada justifica melhor a condição burguesa do que acreditar que se merece ocupá-la”, afirmavam os sociólogos Pinçon, num raciocínio bem exemplificado pela trama. Enquanto isso, os moradores de Bacurau vivem numa comunidade solidária, horizontal e progressista, tendo aprendido a desaparecer quando necessário, a transformar sua invisibilidade em força e estratégia, desde o encontro com o prefeito até as cenas finais.

A relação deste conto com o cenário brasileiro se faz ao mesmo tempo metafórica e evidente: nos tempos em que se questiona com frequência porque o povo brasileiro tem aceitado calado tamanha opressão, sem se unir e se revoltar, o filme propõe uma revolução simbólica da classe trabalhadora contra as classes dominantes, uma revanche histórica dos brasileiros contra o colonizador. “Se alguém tem que morrer, que seja para melhorar”, afirma a canção final, sustentando o preceito revolucionário segundo o qual, para se construir algo, é preciso destruir o sistema preexistente. A incitação à revolta pode ser apenas alegórica, ou então concreta, de acordo com o ponto de vista. Mesmo assim, a ideia está lá, clara até demais.

PS: Ao invés de organizar um protesto político no tapete vermelho do Festival de Cannes, como tinha feito alguns anos anteriormente com Aquarius, Kleber Mendonça Filho, Juliano Dornelles e sua equipe deixaram que a obra se tornasse um discurso por si própria. E acrescentaram, nos letreiros finais, que este projeto gerou mais de 800 empregos, movendo a indústria nacional. Isso serve de aviso cristalino àqueles que não enxergam o empenho nem o valor (cultural e econômico) do cinema nacional.



domingo, 13 de outubro de 2019

IRMÃ DULCE SERÁ RECONHECIDA COMO SANTA NESTE DOMINGO.


Por Gilberto Costa – Repórter da Agência Brasil  Brasília

Neste domingo (13), às 5h da manhã em Brasília (10h em Roma), a soteropolitana Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes (1914–1992), nominada como Irmã Dulce desde 1933, torna-se a primeira santa nascida no Brasil reconhecida pela Igreja Católica Apostólica Romana. Torna-se Santa Dulce dos Pobres.
A canonização ocorre nove anos após o colegiado de cardeais e bispos da Congregação para a Causa dos Santos, da Cúria Romana, atestar o primeiro milagre atribuído à Irmã Dulce descrito no processo de beatificação da religiosa iniciado pela Arquidiocese de São Salvador da Bahia. A decisão do colegiado é baseada em avaliação de peritos de saber científico (como médicos) e teólogos.
O milagre que levou à beatificação foi a intercessão da freira, a pedido de orações de um padre, para salvar a vida de uma mulher que deu à luz a um menino e estava desenganada por causa de uma hemorragia depois do parto, que os médicos não conseguiam conter. O caso ocorreu nove anos após a morte de Irmã Dulce (2001), em uma cidade do interior de Sergipe.
Para a canonização, a Constituição Apostólica exige a comprovação de um segundo milagre e semelhante ritual processual e comprobatório. A segunda graça, conforme publicado pela Arquidiocese de Salvador, foi a recuperação da visão do músico e maestro José Maurício Bragança Moreira, após 14 anos sem enxergar por causa do glaucoma.
“Eu fui paciente de glaucoma muito grave que me cegou durante 14 anos. No dia do milagre, 10 de dezembro de 2014, o meu coral ia cantar, mas a minha esposa nem me deixou sair de casa por causa do derrame que eu tive nos olhos devido a uma conjuntivite viral. Eu passei a noite sem conseguir dormir e por volta das 4h eu peguei a imagem de Irmã Dulce, que fica na cabeceira da minha cama, a coloquei nos meus olhos e pedi que ela aliviasse a minha dor”, descreve Moreira em relato publicado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
De acordo com o músico, após colocar o santinho impresso sobre os olhos, sentiu sono e adormeceu. “Quando eu acordei de manhã, a minha esposa me deu umas compressas de gelo e foi quando eu comecei a enxergar o gelo e a ver a minha mão, e aos poucos a visão foi voltando. O momento que começou o retorno da visão foi pouco tempo depois da oração. É um milagre”, afirma. Após o reconhecimento do milagre pela Igreja, o Papa Francisco anunciou a canonização de Irmã Dulce.

Vocação social

A vocação religiosa de Irmã Dulce é revelada ainda na adolescência sob influência de uma tia paterna. Ela tornou-se freira no começo da década de 1930 pela Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, em São Cristóvão (Sergipe).
Formada como professora, teve como primeira missão ensinar a crianças em colégio de sua congregação em Salvador. A vocação para as causas sociais teve início naquela década quando passou a prestar assistência à comunidade pobre de Alagados, e a participar da União Operária São Francisco.
Em 1937, funda o Círculo Operário da Bahia, juntamente com Frei Hildebrando Kruthaup. Em 1939, Irmã Dulce inaugura o Colégio Santo Antônio, escola comunitária voltada para operários e filhos de operários.
Dez anos depois, ocupa um galinheiro ao lado do Convento Santo Antônio de Salvador para acolher 70 doentes. Em 1959, é instalada oficialmente as Obras Sociais Irmã Dulce (Osid) e no ano seguinte é inaugurado o Albergue Santo Antônio.

Celebração

O Santuário de Irmã Dulce, em Salvador, ao lado da sede das Osid permanecerá aberto durante toda noite de sábado (12) e a madrugada de domingo para a vigília à espera das canonizações que o Papa Francisco presidirá no Vaticano.
Junto com a santa brasileira, serão canonizados os beatos John Henry Newman (1801-1880), cardeal, fundador do Oratório de São Filipe Néri na Inglaterra; Giuseppina Vannini, Madre Josefina (1859-1911), italiana, fundadora das Filhas de São Camilo; a Maria Teresa Chiramel Mankidiyan (1876-1926), indiana, fundadora da Congregação das Irmãs da Sagrada Família; e Margherita Bays (1815-1879), suíça, da Ordem Terceira de São Francisco de Assis.
A primeira missa em honra à Santa Dulce dos Pobres ocorrerá em Roma na igreja San't Andrea della Valle, segunda-feira(14), 24 horas depois da canonização. No dia 20 de outubro, domingo, em Salvador, haverá a celebração pela canonização da Santa. Será no estádio de futebol Arena Fonte Nova, com abertura dos portões ao meio-dia. Os ingressos gratuitos estão à disposição nas diversas paróquias da Arquidiocese de Salvador e começaram a ser distribuídos no início deste mês.

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

O MUNDO DO MENINO IMPOSSÍVEL

                                                                     Beto Magno

Jorge de Lima

Fim da tarde, boquinha da noite
com as primeiras estrelas
e os derradeiros sinos.

Entre as estrelas e lá detrás da igreja
surge a lua cheia
para chorar com os poetas.

E vão dormir as duas coisas novas desse mundo:
o sol e os meninos.

Mas ainda vela
o menino impossível
aí do lado
enquanto todas as crianças mansas
dormem
acalentadas
por Mãe-negra Noite.
O menino impossível
que destruiu
os brinquedos perfeitos
que os vovós lhe deram:
o urso de Nürnberg,
o velho barbado jagoeslavo,
as poupées de Paris aux
cheveux crêpes,
o carrinho português
feito de folha-de-flandres,
a caixa de música checoeslovaca,
o polichinelo italiano
made in England,
o trem de ferro de U. S. A.
e o macaco brasileiro
de Buenos Aires
moviendo da cola y la cabeza.

O menino impossível
que destruiu até
os soldados de chumbo de Moscou
e furou os olhos de um Papai Noel,
brinca com sabugos de milho,
caixas vazias,
tacos de pau,
pedrinhas brancas do rio...

“Faz de conta que os sabugos
são bois...”
“Faz de conta...”
“Faz de conta...”
E os sabugos de milho
mugem como bois de verdade...

e os tacos que deveriam ser
soldadinhos de chumbo são
cangaceiros de chapéus de couro...

E as pedrinhas balem!
Coitadinhas das ovelhas mansas
longe das mães
presas nos currais de papelão!

É boquinha da noite
no mundo que o menino impossível
povoou sozinho!

A mamãe cochila.
O papai cabeceia.
O relógio badala.

E vem descendo
uma noite encantada
da lâmpada que expira
lentamente
na parede da sala...

O menino pousa a testa
e sonha dentro da noite quieta
da lâmpada apagada
com o mundo maravilhoso
que ele tirou do nada...

Chô! Chô! Pavão!
Sai de cima do telhado
Deixa o menino dormir
Seu soninho sossegado

domingo, 6 de outubro de 2019

MUSEU DE KARD

Lilian Moraes, Ivan Cravo e Beto Magno
Gravando depoimentos de artistas baianos sobre a importância do Museu De Kard para o Brasil. Na foto com Lilian Moraes (Artista Plástica) e Ivan Cravo (Filho e curador da obra de Mário Cravo).