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sábado, 10 de abril de 2010
Florisvaldo Rodrigues
quarta-feira, 24 de março de 2010
O SÉTIMO SELO
Não apenas um cineasta, mas um autor completo, um pensador que se vale do cinema para refletir suas angústias, suas dúvidas, refletir sobre a condição humana, Ingmar Bergman é um dos maiores realizadores cinematográficos de todos os tempos. Houve uma época, nos idos dos 60 e 70, que o seu nome despertava imensa curiosidade e, por causa dela, formou-se um verdadeiro culto ao diretor, que alguns chamaram de bergmania. Se na primeira fase de sua carreira não conheceu o sucesso nas bilheterias, considerado pelos exibidores um cineasta maldito, a partir dos meados dos anos 60 um mercado se abriu para suas obras. Principalmente na sua fase psicanalítica - Cenas de um Casamento, Face a Face, Sonata de Outono... Os filmes de Bergman que mais aprecio, no entanto, exceção se faça a A Paixão de Ana (1970), e, também a O Silêncio, são aqueles da primeira fase, notadamente O Sétimo Selo Morangos Silvestres, A Fonte da Donzela, Noites de Circo, (nunca o tema da humilhação foi tão bem exposto) Mônica e o Desejo, Sorrisos de uma Noite de Verão, Juventude, entre outros. No frigir dos ovos, entretanto, posso dizer que admiro a todos os seus filmes.
O Sétimo Selo, obra-prima da primeira fase do cineasta, ainda que produzido em 1956, somente em 1976, vinte anos depois de sua realização, foi lançado no Brasil através da distribuidora "Cinema 1" e, aqui na Bahia, apresentado neste mesmo ano no antigo cine Nazaré da Praça Almeida Couto. Já Morangos silvestres obteve estréia ainda na segunda metade do decurso dos 50, conseguindo grande impacto e estupefação na época de seu lançamento.
Alegoria tragicômica em forma de mistério medieval, com um desenvolvimento livre do imaginário da Idade Média, O sétimo selo (Det sjunde inseglet) tem sua fábula estruturada na volta de Antonius Blok (Max Von Sydow) à Suécia após dez anos de luta na cruzada e o jogo que estabelece com a Morte num tabuleiro de xadrez. Antonius e seu lacaio Jons (Gunnar Blornstrand) se dirigem, por uma longa jornada, ao castelo onde moram, e, no caminho, contemplam uma terra arrasada pela peste. Este itinerário de Blok, do erro inicial à Verdade final, é conduzido com extrema maestria por Ingmar Bergman, que se utiliza, aqui, do cinema, como um veículo "filosofante" e reflexivo acerca da condição humana. No percurso, Blok e Jons encontram vários personagens mas apenas um casal de artistas mambembes se constitui num remanso de paz e tranquilidade, longe da mesquinharia e da hipocrisia dos outros. Blok, entretanto, continua o jogo de xadrez com a Morte (impressionante caracterização de Bengt Ekerot), mas esta, de repente, ganha partida. Vencedora, precisa levar consigo todos os personagens, deixando na vida somente o casal de cômicos (Bibi Andersson e Nils Poppe), o único capaz de desfrutá-la de maneira pacífica e feliz.
O Sétimo Selo, antes da consagração definitiva que se daria, um ano depois, em Morangos silvestres, já coloca Bergman, no panorama internacional, como um dos grandes cineastas do século XX. Trata-se de um filme, a rigor, gnoseológico em que se estuda a origem e a possibilidade do conhecimento por parte do homem. Por autor, os filmes de Bergman se constituem, na verdade, em variações sobre um mesmo tema. Em todos eles, presentes: a incomunicabilidade dos seres, a angústia do estar-no-mundo, a inevitabilidade e o mistério da morte, os tormentos da relação amorosa...
O sétimo selo volta às raízes do cinema nórdico de Victor Sjostrom e Mauritz Stiller, à floração sueca, quando a natureza tinha uma forte influência no comportamento das personagens. Assim, Det sjunde inseglet pertence à série de filmes que Bergman realizou e que possuem um decór histórico, ainda que o fato de a ação localizada na Idade Média não tira a esta obra magistral seu caráter contemporâneo. O homem que Bergman estuda é o homem do aqui e do agora.Veja-se o caso dos dois protagonistas principais, o Cavaleiro e seu lacaio, que formam, a seu modo, um binômio no qual se debate o tema das fontes das possibilidades de conhecimento - não somente o conhecimento de Deus mas de tudo aquilo que escapa à constatação estrita dos sentidos.
Elementos de mistérios - a bruxa, a peste, a procissão penitencial.., simbolismos e participações insólitas, como a personagem da Morte, criam, em O sétimo selo, um clima tenso ao qual contribuem uma planificação e uma iluminação ( do artista Gunnar Fischer antes de Bergman trabalhar com o iluminador Sven Nykvist) cuidadas com esmero.Aposentando-se antes dos 70 anos, com o filme-síntese "Fanny e Alexander", Ingmar Bergman despediu-se do cinema prematuramente para se retirar e viver em sua ilha particular. Depois do ensaio, filme que realizou para a tv, não é considerado pelo autor sueco obra "para cinema". A ausência de Bergman apresenta uma lacuna para o cinema contemporâneo, pois a escassez de cineastas-pensadores é, muito mais que impressionante, assustadora. A visão de O sétimo selo, em sua versão restaurada e íntegra, surge, portanto, como uma grande oportunidade de se entrar em contato com um dos mestres supremos da sétima arte nestes derradeiros momentos do século XX.
Em O sétimo selo, como a afirmar a condição de autor do cinema moderno, Bergman mostra uma constância temática e estilística, um universo ficcional próprio e um estilo - que faz o artista! - pessoalíssimo. À guisa de um pequeno exemplo, que se veja alguns personagens secundários, os quais, vêem se repetindo nos filmes de Bergman de filme a filme: o casal dos artistas ambulantes (presentes desde Noites de Circo até O Rosto; a controvérsia estabelecida entre o ferreiro e sua mulher - contraponto e complemento.
Nas palavras do ensaista Claude Beylie (no indispensável As obras-primas do cinema, Martins Fontes): "A mensagem é clara. Continuamos ameaçados pela peste, que se chama, hoje, guerra nuclear, e, diante deste perigo, não há outro recurso além dos corações puros. Bergman opõe ao fanatismo e à intolerância, "O leite da ternura humana". No entanto, seu filme nada tem de dogmático. Ele joga o jogo da ingenuidade iconográfica, desenvolve livremente o imaginário medieval. Faz-nos pensar em Durer, nas xilogravuras de Hans Beham, na "dança macabra" de Orcagna. A reflexão filosófica é irrigada sem cessar por um onirismo límpido e, até, por traços de humor, notadamente através do personagem do escudeiro.
quarta-feira, 10 de março de 2010
COPPOLA EM SALVADOR!
Por André Setaro
O cineasta baiano Tuna Espinheira, autor do longa Cascalho, baseado em livro homonimo de Herberto Salles, cochicha, em off, sobre a possibilidade de Francis Ford Coppola vir a Salvador para fazer um filme sobre a cultura negra. Estupefato, e, mesmo assim, meio assombrado, ouso o que ele diz. "Posso colocar no meu blog?", perguntei, mas ele diz que ainda é um "segredo de estado." Mas creio não estar a revelar os detalhes, que são, estes sim, significativos e provocaria, na certa, um certo trauma no corporativismo dos cineastas ditos baianos. E nada mais digo.Ler mais: http://setarosblog.blogspot.com/#ixzz0hkewavPl
quarta-feira, 3 de março de 2010
MANOEL DE BARROS " SÓ DEZ POR CENTO É MENTIRA"
ficha técnica:
título original:Só Dez por Cento é Mentira
gênero:Documentário
duração:01 hs 16 min
ano de lançamento:2010
site oficial:http://www.sodez.com.br/
estúdio:Artezanato Eletrônico / Vite Produções / Associação Jangada
distribuidora:Downtown Filmes
direção: Pedro Cezar
roteiro:Pedro Cezar
produção:Pedro Cezar e Kátia Adler
música:Marcos Kuzca Cunha
fotografia:Stefan Hessdesenho de produção: -->
direção de arte:Márcio Paes
figurino:
edição:Júlio Adler e Pedro Cezar
efeitos especiais:
domingo, 14 de fevereiro de 2010
O BANDIDO DA LUZ VERMELHA
Paulo Villaça e Helena Ignez (cena do filme O Bandido da Luz Vermelha)
Rogério Sganzerla (Joaçaba, 26 de novembro de 1946 — São Paulo, 9 de janeiro de 2004)
Desde cedo, Sganzerla manifestou sua vocação para o cinema. Casou-se com sua própria musa do cinema (a atriz Helena Ignez), viveu para o cinema e morreu fazendo cinema.
“Faltou linguagem depois do ‘Bandido’. Ninguém está se mancando. Naquele momento estávamos sintonizados.
PRIMEIRO DOCUMENTÁRIO DE ROGÉRIO SGANZERLA
Documentário é o primeiro filme de Rogério Sganzerla, um curta em torno de 10 minutos, realizado em 1966, já revelador de um estilo que colocou em prática principalmente no explosivo O bandido da luz vermelha, dois anos depois, em 1968 (que é um dos mais fascinantes filmes da história do cinema brasileiro em todos os tempos). Dois rapazes (um deles, Andrea Tonnacci, que se tornaria um dos nomes mais importantes do chamado cinema marginal - Bang Bang e, há alguns anos, realizou o premiado Serras da desordem), na capital paulista, andam pelas suas ruas à procura de algo para fazer. Durante o trajeto, conversam bastante sobre os mais variados asuntos, principalmente de cinema. Enquanto isso, cartazes de filmes vão sendo mostrados como as fachadas das mais sensacionalistas salas de exibição de SP. Nunca tinha visto este filme que inicia o autor de O bandido da luz vermelha nas imagens em movimento. A oportunidade surgiu agora via You Tube.
Ler mais: http://setarosblog.blogspot.com/2010/02/o-primeiro-filme-de-rogerio-sganzerla.html#ixzz0fYrYchzb
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
MORRE TIMO DE ANDRADE
Por André Setaro
Timo Andrade (1944/2010) in Memoriam
José Oswald Guerrini de Andrade, mais conhecido como Timo Andrade, foi levado pela Implacável semana retrasada aos 65 anos (faria 66 dia 1 de maio), deixando seus amigos e colegas consternados com o seu falecimento. Sobre ter sido um excelente técnico de som, Timo era uma pessoa gentil, de lhano trato e possuía um senso de humor bastante aguçado, que dava a impressão de estar a rir do absurdo da existência, da comédia humana. Além do profissional competente, Timo gostava muito de tomar umas e outras (e o dito aqui é um elogio). Sabia, como poucos, entornar, sem que, com isso, se transtornasse, mas, ao contrário, ficava sempre sóbrio na sua composição etílica, salvo, evidentemente, e ninguém é de ferro, em raras ocasiões. Quem, em sã consciência, pode suportar a dura realidade da vida sem tomar umas três doses de scotch? já dizia Humphrey Bogart. Ao contrário dos dias de hoje, egoísticos, individualistas, consumistas, era amigo de seus amigos. Conheci Timo lá pelos anos 70, e, vez por outra, encontrava-o, vermelho, com cara de felicidade, sorriso aberto, nos colons da vida.
Neto do famoso Oswald de Andrade, sobrinho de Rudá, que faleceu também, José Oswald Guerrini de Andrade largou São Paulo (onde tinha tudo para circular folgado nos meios artísticos e intelectuais) para adotar a Bahia como morada da felicidade. Em 1981, trabalhei como ator-canastrão em O cisne também morre, de Tuna Espinheira, no papel de um dono de funerária. O filme, retrato de um tempo boêmio que não mais existe, inspirado na figura etérea do grande poeta Carlos Anysio Melhor, é um dos poucos trabalhos de ficção do documentarista Tuna (o outro: o longa Cascalho, baseado no romance homônimo de Herberto Salles). Lembro-me bem que houve uma sequência numa funerária do Terreiro de Jesus que durou quase o dia inteiro a entrar madrugada adentro. Para esperar as tomadas, ficava com Timo e outros companheiros da equipe, a tomar cervejas num barzinho em frente. O cinema, para o ator (não sou ator, mas já participei de poucos filmes como tal) é esperar a próxima tomada.
Seu currículo é extenso. Foi som-guia, em 1975, de Tenda dos milagres, que Nelson Pereira dos Santos filmou na Bahia segundo o livro de Jorge Amado. Trabalhou muito com Agnaldo Siri Azevedo (O boca do inferno, Creio em ti São Jorge dos Ilhéus, Não houve tempo sequer para as lágrimas, Memórias de Deus e o Diabo em Monte Santo e Cocorobó, Suite Bahia, A volta do Boca do Inferno, As philarmônicas, entre muitos outros), Tuna Espinheira (Maculelê, Seca verde, A seca no lago de Sobradinho, o já citado O cisne também morre etc), Guido Araújo (A morte das velas do Recôncavo, Ilhas da esperança, O Raso da Catarina, uma reserva ecológica), Fernando Cony Campos (O box amador, Semana de arte e educação...), Ipojuca Pontes (Memórias de Canudos), Roberto Gaguinho (Casa de taipa, Os que dormem do lado de fora), Plácido Campos Junior (Curumim na terra do sol), João Baptista Reimão (Daniel, o capanga de Deus), Rino Marconi e Tasso Franco (O lixo), Chico Drummond (Regalia de balaio), Arnold Conceição (O rio da vida), Fernando Bélens (Fibra), Pola Ribeiro (A lenda do Pai Inácio), Gofredo da Silva Telles Neto (Brasilíndia), Rubens Rocha (O sertão dos tocós), Otávio Bezerra (A resistência da lua), Walter Pinto Lima e Carlos Vasconcelos Domingues (O império do Belo Monte), Chico Liberato (O boi Aruá, desenho animado baiano de longa metragem), Luis Celso Campinho (Riscada do mapa), Luis Wenderhausen (Ursula), Chico Botelho (Janette, como assistente de produção), Almir Freire (A palavra aretê), entre muitos e muitos outros. Trabalhou também em importantes agências de publicidade. E foi o organizador do livro Dia seguinte e os outros dias, de seu avô Oswald de Andrade (Editora Cótex)
Era um amigueiro profissional, bom de copo, dono de humor de boa cepa.
Tornou-se, em pouco tempo, em um baiano autêntico, com a marca emblemática, desta sua cidadania ter sido por obra e graça, com o Amem e a benção dos Anjos, da opção/devoção.
Aqueles que o conheceram nas aventuras cinematográficas, produções franciscanas, nesta renitente província, bem sabem do companheirismo, da presteza, deste membro de equipe, pau pra toda obra, sempre disposto, “sin perder La ternura jamás”.
Timo terá sempre um lugar no imaginário/memória, dos verdadeiros amigos, ele que, muitas vezes, desassombrado, rompia a barreira da amizade para se tornar um cúmplice.
Saudades e um brinde ao personagem Timo Andrade"
Tuna Espinheira
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
JÚRI DO FESTIVAL DE CINEMA DE TIRADENTES-MG
Não cheguei a tirar dentes
7) Na foto (clique na imagem para vê-la maior), o júri da crítica. Da esquerda para a direita, Denílson Lopes (RJ), Luiz Carlos Merten (SP), Luciana Corrêa de Araújo (SP), André Brasil (MG), e André Setaro (BA).
Ler mais: http://setarosblog.blogspot.com/2010/02/nao-cheguei-tirar-dentes.html#ixzz0eJdNiyhe
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
FILMES ESPERADOS PARA 2010
Quando falamos de filmes de 2010 que serão lançamentos relacionados à comédia, temos como exemplo: Kung Fu Kid e Como Cães e Gatos 2. Estes serão lançados dia treze de Agosto e também dia três de Setembro do próximo ano. Estas são apenas duas das comédias que farão parte da lista de filmes que serão lançados em 2010.
Já quando falamos de drama, os filmes que serão lançados em 2010 são: Salt e Brilho de uma Paixão, sendo este um dos mais esperados de todos os tempos. Grandes sucesso de Harry Potter e também da saga Crepúsculo também serão lançados no próximo ano, mas é necessário um pouco mais de paciência para conferir as novidades em detalhes.
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
MOSTRA DE CINEMA DE TIRADENTES - MG
Fui convidado para participar do júri de filmes de jovens cineasta, o Aurora, e devo estar ausente a partir de domingo, dia 14, quando viajarei para a paisagem de Guimarães Rosa, e, volto no outro domingo, dia 31. Já fui a Tiradentes há exatos quatro anos, quando participei, lá, de um seminário sobre crítica de cinema. A organização do evento é exemplar e tem à frente a dinâmica Raquel Hallak, que, com o sucesso alcançado em Tiradentes, já consolidou outros, como o de Ouro Preto e Belo Horizonte.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
UM GÊNIO DO CINEMA: ALAIN RESNAIS
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
ERICH ROHMER
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
PESQUISA
PÉS DUROS E MELETES
“Povo sem história é povo ignorado, povo esquecido, sem nome, sem valor”.
Aníbal Lopes Viana
Vitória da Conquista é um município brasileiro do estado da Bahia. Sua população, conforme o IBGE, em 1º de Julho de 2008, era de 313.898 habitantes, o que a torna a 3ª maior cidade do estado e também do interior do Nordeste (excetuando-se as regiões metropolitanas).
Possui um dos PIBs que mais crescem no interior desta região. Capital regional de uma área que abrange aproximadamente 70 municípios na Bahia, além de 16 cidades do norte de Minas Gerais. Tem a altitude, nas escadarias da Igreja Matriz, de 923 metros podendo atingir mais de 1.000 metros nos bairros mais altos. Possui uma área de 3.743 km².
História:
O Arraial da Conquista foi fundado em 1783 pelo sertanista português João Gonçalves da Costa, nascido em Chaves em 1720, no Alto Tâmega, na região de Trás-os-Montes que com dezesseis anos de idade, veio para o Brasil a serviço de D. José I, Rei de Portugal, com a missão de conquistar as terra ao oeste da costa da Bahia.
Anteriormente já havia lutado ao lado do Mestre-de-Campo João da Silva Guimarães, líder da Bandeira responsável pela ocupação territorial do Sertão, iniciada em 1752. A origem do núcleo populacional está relacionada à busca de ouro, à introdução da atividade pecuária e ao próprio interesse da metrópole portuguesa em criar um aglomerado urbano entre a região litorânea e o interior do Sertão. Portanto, integra-se à expansão do ciclo de colonização dos fins do século XVIII.
Quando se fala em história de um povo, a cidade de Vitória da Conquista possui uma das mais belas. Não é uma história simples, acomodada, pobre em acontecimentos. Mas, antes de tudo, uma história rica, contundente, marcada por fatos que não saem da cabeça das pessoas, principalmente daquelas de mais idade. Sangue, violência, bondade, sabedoria, benevolência, trabalho, poesia, fatos hilariantes, dinamismo, coragem, arrojo, visão, fé. São alguns dos ingredientes preponderantes na história de nossa cidade.
Não se trata de sermos saudosistas, preso ao passado. O que nos faz voltar ao passado para pesquisar nossa história ou qualquer outra história nos ajuda a compreender nosso presente e refletir, deduzir e produzir o nosso futuro. Entendo o porquê de ter escutado muitas pessoas dizerem que os anos 50, 60 e 70 foram os melhores anos para se viver, pois quando olhamos para uma fotografia antiga nós resgatamos aquele elo entre a foto e a emoção gerada por ela, relativa ao período vivido. Na grande maioria das vezes, são lembranças boas e positivas porque nos ligamos aos saudosos valores da época, momentos felizes, a paz da época, o encontro na praça ou nas portas das casas para um bate-papo descontraído no final da tarde, a música que marcou uma época, a serenata, o serão, uma brincadeira, a disciplina, o respeito. Enfim, nos lembramos de algo que era bom, mas que na época não valorizamos e que sentimos falta agora.
Alguém pode ver as fotos e achar que as informações são superficiais, mas a depender do interesse e da curiosidade de cada um, talvez cada foto seja apenas o ponto de referência para uma pesquisa mais aprofundada. Têm-se a possibilidade de se escrever vários livros com temas inspirados em várias fotos. Poderíamos analisá-las, tendo como base o que representava naquele momento e com certeza quem quiser aprofundar algum tema irá encontrar várias possibilidades.
Curiosidades:
Um Príncipe Alemão em Conquista. Como um príncipe veio parar aqui?
No ano de 1817, passou pelo então Arraial da Conquista vindo de Minas Gerais um príncipe Alemão Maximiliano Alexander Philip nascido no palácio de Wied Neuwied, em 1782. Chegou à Paraíba em junho de 1815, em julho desembarca no Rio de Janeiro. Em março de 1817 passou pelo Arraial da Conquista, naturalista e conhecedor de botânica, encontrou na região de Conquista espécimes raras da flora e fauna dos trópicos, que foram recolhidas e levadas para a Alemanha, onde foram depositadas em museus e universidades daquele país.
Ele conta que encontrou no Arraial o capitão-mor Antonio Dias de Miranda, filho de João Gonçalves da Costa que ficou alojado em sua casa. O Arraial de Conquista é quase tão importante quanto qualquer vila do litoral. Contando-se aí umas quarenta casas baixas e uma igreja em construção por conta de João Gonçalves da Costa e do capitão-mor Miranda, já que os moradores são pobres. A venda de algodão e a na geração de recursos para os moradores. Grande parte dos moradores do Arraial compõe-se de trabalhadores e de rapazes desocupados, que ocasionam muitos distúrbios, pois não há polícia nesta localidade. A malandrice e uma inclinação imoderada para as bebidas fortes são traços distintivos do caráter desses homens; daí resulta disputas e excessos freqüentes que torna detestável esse lugar, de má fama para as pessoas mais sérias e consideradas, que vivem em suas fazendas espalhadas em torno. Fomos freqüentemente incomodados por pessoas embriagadas que nos aborrecia. Trazendo cada um, como é perigoso costume da terra, um estilete ou um punhal na cintura, esses homens grosseiros e imorais, que nenhuma espécie de vigilância contém freqüentes assassínios e outras violências. Eis porque nunca será demais recomendar aos viajantes que procedam com a máxima cautela em Arraial da Conquista, para evitarem, para si e para o seu pessoal, aborrecimentos muito sérios.
Em novembro de 1817, retorna para a Europa, levando consigo o índio civilizado, de nome Quack, que o acompanhou durante sua expedição. Em 1840 foi eleito membro da Academia de Ciências Prussianas
Estes são alguns relatos do Príncipe sua passagem por Conquista. Visitando Mucugê me chamou a atenção a informação de que outros dois príncipes alemães que passaram por lá, então já era normal a visita deles aqui no Brasil na época.
Os índios:
As nações, Pataxó, Ymboré (Aimoré – Botocudos) e Mongoió foram os primeiros habitantes da uma vasta região denominada “Sertão da Ressaca” que era delimitada pelos rios das contas, Pardo e Jequitinhonha. Cada nação indígena tinha suas características:
Ymboré ou Botocudo:
Viviam em uma extensa faixa de terra entre Minas Gerais, Ilhéus, Porto Seguro e Espírito Santo. Tinham como característica a capacidade de se dividirem em inúmeros subgrupos e se dispersarem em extensas áreas, dando a impressão de serem em maior numero do que realmente eram. Ganhou dos portugueses o nome de Botocudo pelo fato de usarem nas orelhas e nos lábios um ornamento chamado botoque, que eram colocados em rituais. Eram considerados canibais, mas não há nada que comproves essa hipótese.
Segundo descrição do príncipe Maximiliano, eles tinham a cor avermelhada, cabelos fortes e pretos, duros e lisos, considerados bravos e muito temidos lutaram e resistiram até o seu extermínio, pela manutenção do seu território. Eram nômades, viviam da caça, pesca, frutos e raízes. Gostavam de pintar o corpo e usavam o urucum e o jenipapo, gostavam do vermelho e preto. Às vezes, usavam pinturas longitudinais, colorindo um lado de preto e deixando o outro sem pintura para representar a noite e o dia.
Pataxó:
Habitavam a área entre os rios Cachoeira e Pardo. Eram nômades, andavam em pequenos grupos sendo uma das últimas tribos a serem dominadas pelos portugueses após constantes ataques que provocaram a redução da tribo.
Não tinham aparência física diferentes, de estatura mediana, não se pintavam e quando pintavam faziam traços nas cores vermelho e preto. Ainda segundo o príncipe “os Pataxós se aliavam contra os Ymborés e tratavam os prisioneiros como escravos. Eram desconfiados e reservados, e não aceitavam que os filhos fossem criados entre os brancos, como as outras tribos o fazem prontamente”.
Viviam da caça e frutos e o animal predileto para sua alimentação era o macaco. Não davam muita importância para a pesca.
Mongoió:
Viviam entre os rios Pardo, Jequitinhonha e das Contas. Eram fortes de estatura mediana de pele morena. Também foram colonizados, porém, lutaram bravamente para defender seu território. Viviam da caça, da pesca e diferente das outras tribos, os Mongoiós praticavam a agricultura, plantavam batata-doce, feijão, banana, milho, melancia etc. O plantio era realizado no período das chuvas. Também gostavam de pintar-se com a s cores pretas e vermelhas. Com o contato com os missionários passaram a pintar a imagem da cruz na testa. Com o aumento da colonização os mongoiós passaram a vender seus produtos às tribos e as aldeias vizinhas.
As festas eram regadas a cauim bebida à base de milho, feita pelas mulheres. Curiosamente, elas tinham que mastigar o milho. Após a mastigação, o milho era cuspido em um recipiente feito do tronco da barriguda preparado para esta finalidade. Acrescentava-se água fervendo e levava ao fogo.
Banquete da morte:
Conta o príncipe que: “João Gonçalves depois de ordenar a seus homens que tivessem as armas prontas, convidou todos os índios para uma festa e, enquanto confiadamente se entregavam à alegria, foram cercados de todos os lados e quase todos mortos”.
Construção da Igreja Matriz:
A primeira Igreja Matriz foi iniciada por João Gonçalves da Costa em 1803. Foi coberta em 1806 conforme se conclui pelas inscrições com esta data, quando da sua demolição em 1932. Em 15 de agosto de 1809, ainda inacabada, foi realizada a primeira missa por um Padre da vila de Rio Pardo (Minas Gerais).
Em março de 1817, como registrou o Príncipe maximilian, ainda estava em construção. Foi inaugurada sem os altares e decoração em 1823. A pintura interna e decoração do teto foram terminadas em 1848, pelo pintor italiano João Pirasoli. Portanto, 45 anos depois. Por certo, a demora na construção se deve às dificuldades no transporte de materiais vindos da capital em lombo de burros.
Em 31 de maio de 1919, o intendente Ascendino Melo sanciona a lei de desapropriação da Igreja em função das rachaduras das paredes que causavam preocupação. No entanto, a demolição só aconteceu em 1932.
Em 15 de agosto de 1932 foi lançada a pedra fundamental para a construção da nova Igreja. Em edição de seis de agosto de 1944 o Padre Palmeira publicou no jornal “A Conquista” sob sua direção, o artigo “A Nova Igreja Matriz”. “É um templo soberbo cuja construção se deve a operosidade e tenacidade de um frade: Frei Egídio de Elcito”.
“Quando pode uma vontade que quer, quando essa mesma vontade, nos seus apelos insistentes, faz eco na consciência esclarecida do povo católico”.
“A futura Catedral de Conquista nasceu da energia de um homem alimentada pela generosidade de um povo”.
Cinema:
O cine Íris nasceu por conta de querelas políticas, na época se alguém fosse ligado a uma facção partidária e criasse uma filarmônica, por exemplo, logo era identificada como pertencente ao grupo tal e, assim, o adversário tratava logo de fundar a sua. Por isso, tínhamos a “Aurora”, interada ao Meletes, e a “Vitória”, dos Peduros. Se fosse jornal, acontecia a mesma coisa: “A Palavra” defendia os Peduros e “O Conquistense” aos Meletes. Com o cinema aconteceu assim: um senhor de nome Ubirajara chegou a Conquista e adaptou um cinema em um galpão existente no beco que hoje tem o nome de travessa Lima Guerra. Os freqüentadores levavam cadeira e bancos para se sentarem. Ubirajara aproximou-se dos Peduros e seu cinema tornou-se também Peduro. Maneca Moreira, chefe dos Meletes e muito rico, construiu o Cine Iris, com trezentos e cinqüenta cadeiras. Um luxo para a época, pois o prédio foi edificado para este fim, onde funcionava a Radio clube na Pç. Barão do Rio branco.
Mudanças de nomes:
Vitória da Conquista até chegar a este nome, passou por outros três nomes: em 1806 era conhecida como ARRAIAL DA CONQUISTA ou ARRAIAL DA VITÓRIA; em 09/11/1840 passou a ter o pomposo nome de IMPERIAL VILA DA VITÓRIA com a posse da primeira Câmara. Com a chegada da República em 1889, ficou proibido qualquer nome que lembrasse a época da Monarquia, por isso em 1891 passou a ser chamada de CIDADE DA CONQUISTA. Finalmente, em 1943 passou definitivamente a ser nossa “VITÓRIA DA CONQUISTA”.
Houve outra tentativa de mudar o nome para Saracota ou Conquistânea.
O saudoso historiador Mozart Tanajura conta em seu livro História de Conquista, que em 1945 foi criado o conselho Nacional de Revisão para fazer a revisão de nomes de cidades que tivessem dois nomes ou nomes que trouxesse insatisfação. Em Vitória da Conquista, foi criada uma comissão para esta finalidade que propôs ao então prefeito da época o Sr. Gerson Sales que mudasse o nome de vitória da Conquista para SARACOTA ou CONQUISTÂNEA. Graças à intervenção de Bruno Bacelar de Oliveira, que fez ver ao prefeito a origem e importância do nome de Vitória da Conquista conseguindo assim que o nome de nossa cidade fosse mantido. Em pesquisa sobre o significado do nome saracota, não obtive êxito. No entanto, a única cidade no mundo com este nome fica no Chile.
Passagens do Pe. Palmeira:
O padre Palmeira, nascido em Alagoas, político por vocação, de grande cultura humanista, orador nato, tanto sacro quanto profano, polêmico, tinha muita presença de espírito e raciocínio rápido e irreverência.
Foi Secretário de Estado em 1963 no governo de Lomanto Júnior, ocupando a pasta da Secretaria de Educação e Cultura. Com o Golpe Militar de 64, e a aproximação do governador das forças dominantes, acabou perdendo o cargo de secretário. Conta o Sr. Sebastião Leite, que após ser exonerado do cargo de secretário, o governador, que tinha muito apreço pelo Pe. Palmeira enviou um emissário até a casa do Padre, com a missão de convidá-lo para, na primeira oportunidade, comparecer no Palácio do Governo para tomarem um uísque. O emissário, após conversas de praxe, assim procedeu, fez o convite como o governador pedira. O Pe. Palmeira então respondeu da seguinte forma: diga ao governador que eu “uisqueci”.
João Torres me apresentou a crônica de Antonio José Nascimento contando sobre a polêmica e mais picante passagem do Padre Palmeira, foi com o Prefeito Edvaldo Flores. Em 1958, o Padre solicita do prefeito a retirada de um jumento morto em frente ao Ginásio de Conquista. Obteve como resposta que o jumento não seria retirado enquanto o padre não encomendasse o corpo; no dia seguinte fez a tréplica: “como posso benzer o corpo, se a família não pediu?”
Repetindo certo candidato a Deputado e ex-prefeito de uma cidade, saiu com esta: “Povo de minha terra, se aqui tem escolas criadas, foi eu quem as criôlas; se tem ruas calçadas, foi eu quem as calçoulas, mas se não me elegerem Deputado, eu saio da vida pública e volto para a privada”.
Quando candidato a Deputado Estadual, ao fazer um comício em Itambé, a esposa do candidato a Prefeito pediu sua orientação para falar em público alegando ser muito tímida. Num repente falou: “pegue o microfone e solte o verbo, basta falar igual e no mesmo tom de quando você está brigando com seu marido”.
Como homem público ganhou muitos apelidos saídos dos palanques dos adversários, como: Homem de saia, urubu de saia, agourento, corvo, etc. Mas revidava no mesmo tom, apelidando os adversários de: Engole ele paletó, Gavião de Penacho e outros.
De outra vez um vereador lançou um panfleto afirmando que o Pe. Palmeira era pai de um garoto e se recusava a aceitar a paternidade. O Padre Respondeu: “Dizem por aí que eu sou um homem de saia, mas estão enganados, debaixo desta saia tem um pijama, debaixo deste pijama tem uma cueca, e debaixo desta cueca tem uma PALMEIRA”.
Caixeiros Viajantes:
Vitória da Conquista, sempre foi um entreposto comercial, favorecida pela sua localização geográfica. Antes da construção da linha tronco da Rio-Bahia, os comerciantes (chamados de CAIXEIROS) já se destacavam no crescimento da cidade e as lojas eram supridas através de lombos de burros conduzidos pelos Caixeiros Viajantes, conhecidos no passado como Cometas, que foram de grande importância para o desenvolvimento da cidade, nos tempo difíceis. Por onde passavam, eram recebidos com todas as honras, eram questionados sobre as notícias da Capital, os coronéis queriam saber sobre a política, além de comprarem jornais, mesmo que atrasados. Cada viajem durava em média sessenta dias. Eles se apresentavam a rigor em todos os momentos, não abrindo mão do terno branco e bem engomado, além de chapéu e bengala.
As firmas fornecedoras ao contratarem os viajantes, procuravam os solteiros de boa aparência e bem falantes, por isso os cometas impressionavam as filhas solteiras dos ricos coronéis e acabavam se casando.
Com o tempo, passaram a acompanhar as mercadorias pela via férrea, a “Maria Fumaça”, até as cidades chaves onde passava o trem: santo Antônio de Jesus, Jequié, Brumado, Senhor do Bonfim, Juazeiro, etc., a partir daí seguiam com as tropas para atendimento dos clientes.
A festa dos cometas no final dos anos 40 foi um encontro dos caixeiros viajantes de caráter nacional, com a presença de muitos políticos e autoridades da época. Realizada no Clube Social, vizinho ao Hotel Albatroz, teve a presença da famosa cantora Emilinha Borba.
Marco: construção da Rio-Bahia. Era o sonho de todos. Após sua conclusão a população dobrou, o comércio tomou impulso, a cidade progrediu, o transporte ficou fácil, a ligação com o sul do país facilitou a chegada de produtos industrializados, e ganhamos o título de “Capital do Sudoeste da Bahia.
BATALHAS:
Barulho do Tamanduá:
No ano de 1895, Vitória da Conquista presenciou uma das lutas mais violentas de sua história entre as famílias do Cel. Domingos Ferraz de Araújo e da viúva Lourença de Oliveira Freitas, ambas com ligações de parentesco.
Um acontecimento fútil, a morte de uma vaca do Coronel, que teria sido morta pelos filhos de Lourença (Calisto, Sérgio e Gasparino), ou por causa de uma quarta de mandioca, não se sabe ao certo, foi o motivo inicial do conflito. Afonso Lopes Moitinho, genro de Domingos Ferraz, foi agredido pelos filhos da viúva. Tempos depois, investido de autoridade policial saiu em perseguição aos irmãos e acabou por matar Sérgio e Gasparino que se encontravam enfermos em sua casa, sob a legação de resistência à prisão.
Afonso e Calisto tinham temperamento violento e de muita coragem e não mediam as conseqüências de seus atos.
Assassinados os filhos, Lourença foi à cidade implorar por justiça conduzindo os corpos. Por não ter sido ouvida em testemunho policial, deixou-os insepultos no cemitério local, dizendo: “vocês mataram os meus filhos, agora coma-os.”
Nesse tempo Calistinho, como era conhecido, havia fugido para as Lavras Diamantinas, onde conseguiu a amizades de alguns jagunços que lhe seriam úteis na vingança. Trouxe-os consigo a Conquista. Hospedou-os em Campo Formoso na casa do Major Martins, que era seu parente. Conseguiu com ele 50 homens armados. Saíram à noite e chegaram ao amanhecer na fazenda Tamanduá onde o Coronel Domingos residia, atacando-a nas primeiras horas do dia 20 de outubro de 1895.
Pegado de surpresa, mas com alguns jagunços às suas ordens, o fazendeiro resiste durante todo o dia. Sem munição e cercada por todos os lados, a residência é invadida. O jornalista Aníbal Viana contou que “Calisto e seus companheiros aproximaram ferozmente da Casa Grande e invadiram assassinando a todos com tiros, facadas e facãozadas, encontravam no interior da casa cerca de 22 pessoas, ficando o chão coberto de sangue”.
Depois da tragédia em que morreram quase todos, já que dois conseguiram escapar, o casarão foi saqueado levando tudo o que encontraram de valor. O casarão da fazenda foi transformado em cemitério e lá estão, ainda hoje, as sepulturas e os restos mortais da família.
Calistinho após a vingança dispersou os jagunços e fugiu para Minas Gerais, onde foi perseguido e morto a mando de parentes da família que foi dizimada.
A tragédia do Tamanduá, como ficou conhecida na crônica sertaneja, teve repercussão regional, tendo sido lembrada durante muito tempo pelos poetas nordestinos que sobre o assunto escreveram Abcês e cantos romanceados.
Peduros e Meletes:
De 1916 a 1919, apesar das famílias se constituírem numa endogamia, eminentemente rural, houve vários desentendimentos entre o Cel. José Fernandes de oliveira Gugé, que liderava o poder dominante, e o Cel. Manuel Emiliano Moreira de Andrade, Maneca Moreira, que liderava a oposição.
A imprensa, surgida em 1910, ajudou a acirrar os ânimos com publicações políticas contundentes entre intelectuais, a exemplo de Manoel Fernandes de Oliveira, Maneca Grosso, que escrevia para o jornal “A Palavra”, e assim ia-se definindo os dois grupos de forma acirrada.
Com o falecimento do Cel. Gugé em cinco de agosto de 1918, tido como pacificador, as divergências aumentaram e briga armada foi difícil de ser evitada.
O Juiz de Direito da Comarca era acusado de agir de maneira imparcial, conduzindo as decisões sempre favoráveis aos Meletes, grupo do qual se achava ligado pelo diretório político.
A luta armada se deu na manhã do dia 19 de janeiro de 1919. Os homens do sobrade de Paulino Fernandes, foi demolido para a construção do Banco do Brasil, atiravam contra a trincheira dos Peduros em frente ao sobrado. O tiroteio durou o dia todo. Antes, houve troca de tiros onde morreu o fazendeiro Teotônio Andrade e saiu ferido Tibúrcio Freitas. Também morreram vários jagunços.
Como a luta continuava, um grupo de pessoas composto pelas Senhoras Laudicéia Gusmão, Henriqueta Prates dos Santos, Eufrosina Freitas Trindade, Fulô da Panela, e Joana Angélica Santos (viúva do Cel. Gugé) saíram em meio à contenda empunhando bandeira branca, apoiadas pelos Senhores Dr. Crescêncio Silveira, Dr. Nicanor Ferreira, Agripino Borges, José Maximiliano Fernandes Oliveira, Cel. Deraldo Mendes Ferraz e o Major Belizário Mendes, segundo narra Anibal Viana, intercederam aos combatentes e conseguiram por fim à luta mediante certa condição: a do Juiz “sair da cidade montado em um boi” como castigo às suas provocações. Novos pedidos demoveram os Peduros da humilhação imposta ao Juiz, e ele subiu a serra do Piri piri (Piri em Tupi significa brejo) montado em um cavalo rumo a Salvador. Maneca Moreira transferiu-se com todos seus familiares para a cidade de Poções onde ficou residindo, não antes de terem assinado um acordo de paz.
Pacto de não matar:
O ódio, no entanto, persistiu entre Peduros e Meletes por algum tempo, até que ambos resolveram fazer as pazes, assinando um acordo, em 21 de janeiro de 1919, de acordo transcrição abaixo, para que não houvesse mais entre as duas partes qualquer tipo de vingança.
Nós abaixo assinados temos firmados a bem da paz e tranqüilidade de Conquista, evitar toda espécie de vingança contra qualquer cidadão, ficando sujeito as penas da lei e sem ampara de nenhum de nós todo aquele que transgredir esta clausula.
Cidade de Conquista, 21 de janeiro de 1919.
Zeferino Correia de Mello, Manoel Fernandes de Oliveira, Deraldo Mendes Ferraz, Virgílio Mendes Ferraz, Manuel de Oliveira Santos, Antonio da Silva Lemos, José Correia de Mello Freitas, Ascendino dos Santos Mello, Plácido Mendes Gusmão, José Wenceslau dos Santos Silva, Justino Gusmão, Cornélio da Silva Gusmão, José da Silva Gusmão, Manoel Januário de Andrade, João Gusmão de Oliveira, Manuel Emiliano Moreira Andrade, Rogério Ferraz Gusmão, João Fernandes de Oliveira Santos, Pompílio Nunes de Oliveira.
Reconheço verdadeiras as dezenove firmas supra que dou fé. Cidade da Conquista, 22 de janeiro de 1919.
Tabelião de Notas intº Joaquim Martim Bastos.
Origem dos nomes:
Conta Anibal Lopes Viana, em sua Revista Histórica, que certo dia um amigo e correligionário de Cel. Maneca Moreira atravessava a antiga Rua Grande, montado em um cavalo, conduzindo um melete, espécie de Tamanduá. Partidários do Cel. Gugé começaram a vaiar o cavaleiro e este irritado gritou: “Os amigos do Cel. Maneca Moreira são como meletes que são bichos fortes, de coragem e quando agarram não soltam mais. Vocês são uns peduros de raça ruim, sem preço e sem valor”. Deste dia em diante quem era partidário do Cel. Maneca Moreira ficaram com o nome de “Meletes” e os do Cel. Gugé, com o nome de “Peduros”
Desenvolvimento:
A região de Vitória da Conquista, compreendendo os municípios de Barra do Choça, Planalto e Poções, devido à localização em uma altitude próxima de 1.000m acima do nível do mar e por não ter geadas, sempre foi um produtor de café.
Entretanto a partir do ano de 1975 esta cultura agrícola foi incrementada com financiamentos subsidiados pelos bancos oficiais, passando a região a ser a maior produtora do norte e nordeste do Brasil.
A partir do final dos anos 1980, o município realça sua característica de pólo de serviços. A educação, a rede de saúde e o comércio se expandem, tornando a cidade a terceira economia do interior baiano. Esse pólo variado de serviços atrai a população dos municípios vizinhos.
Bibliografia:
Ymboré, pataxó, Kamaka. A presença indígena no planalto da Conquista.
Tanajura, Mozart. História de Conquista: crônica de uma cidade.
Viana, Aníbal L. Revista Histórica
domingo, 3 de janeiro de 2010
EM BUSCA DE UM CINEMA ROMANTICO
Por André Setaro
O fato é que, com o surgimento dos novos suportes, com o avanço da tecnologia, que possibilita a visão de filmes “em qualquer lugar”, a magia das salas exibidoras desapareceu. As imagens em movimento se tornaram rotineiras. Nasce-se, hoje, vendo-as no televisor acoplado na parece do hospital enquanto ainda se está a sair para a vida. Todo mundo pode, atualmente, fazer um filme. Faz-se filmes como antigamente se fazia poesias. Mas isto não quer dizer que eles sejam poéticos (alguns podem sê-los).
Naquela época, difícil era se ver certos filmes, que ficavam restritos às cinematecas. O mercado exibidor se restringia aos lançamentos e as constantes reprises de filmes de sucesso. Como, nos anos citados, assistir aos filmes neo-realistas, aos do expressionismo alemão, às obras mais independentes de cinematografias desconhecidas, às obras do realismo poético francês, à vanguarda da estética da arte muda? O único jeito era a viagem e, assim mesmo, o mais certo seria ao exterior, às cinematecas de Nova York ou a de Paris, além de outras importantes da Europa. Aqui no Brasil, existiam, mas ainda incipientes, as cinematecas do Rio e de São Paulo (esta com um acervo mais versátil). Salvador não tinha nenhuma possibilidade de constituir uma cinemateca.
A importância de Walter da Silveira (que boa parte da nova geração não sabe quem foi, apesar de nome de sala alternativa nos Barris) foi justamente a de, com a fundação do Clube de Cinema da Bahia, trazer filmes especiais, essenciais à evolução da linguagem e da estética cinematográficas. Walter da Silveira fez ver, aos baianos de província (mas uma província muito agradável bem diferente da cidade engarrafada de hoje), que o cinema, além de um bom divertimento, era, também, a expressão de uma arte.
Atualmente, no entanto, com a facilidade existente, pode-se ver um raro filme antigo, a exemplo de "Ordet, de Carl Theodor Dreyer, famoso cineasta dinamarquês, em boa cópia em DVD. Este filme, há poucos anos, somente seria possível ser contemplado na cinemateca de Henry Langlois, em Paris. Outro dia, vim a saber, um conhecido baixou da internet, em cópia decente e legendada, "As estranhas coisas de Paris" ("Elena et les hommes", 1956), com a bela Ingrid Bergman e Jean Marais, filme difícil de se ver (nunca passa na televisão e não tem no disquinho).
Há dois anos, tentou-se implantar um cineclube na Faculdade de Comunicação. Com excelente programação. Retrospectivas de Kubrick, Buñuel etc. Mas os alunos, antes de entrar, perguntavam se os filmes estavam disponíveis em DVD. E davam meia-volta, volver.
Uma vez no Rio, ao saber da exibição de "Ladrões de bicicleta" na Cinemateca do Museu de Arte Moderna, em única sessão, ainda que mal tivesse chegado à cidade, corri para lá. Finda a exibição, chuva torrencial fiquei encharcado e voltei a pé para o hotel (a cidade engarrafada, tudo parado). Nos tempos atuais, faria o mesmo sacrifício? Claro que não, pois o DVD de "Ladri di biciclette" está disponível não somente para ser adquirido, mas também nas melhores locadoras da cidade.
Qual a função do cineclubismo nos dias atuais? Walter da Silveira, por exemplo, sobre ser um dos maiores ensaístas de cinema do Brasil (na Bahia ninguém nunca lhe chegou perto), era um homem, verdade se diga, à antiga, de tom grave, circunspeto, com uma gestualística bem diversa da juventude atual e, mesmo, dos menos jovens que atualmente constituem o meio circundante e intelectual, universitário. A figura de Walter faz lembrar aqueles antigos mestres universitários, principalmente os professores da Faculdade de Direito (no acento vocal, nas pausas, na maneira de expor o assunto, um "magister dixit").
Mas acontece que o mundo mudou e, com ele, a cultura. Houve um papel importantíssimo exercido por Walter da Silveira. Os realizadores que se aventuram na captação das imagens em movimento são contemporâneos de um cinema digital. Faz-se filmes até pelos telefones celulares. O Clube de Cinema da Bahia, portanto, não poderia existir - nem teria razão de ser - nesta chamada contemporaneidade. A própria psicologia de recepção da obra cinematográfica mudou. Bem, são reflexões ao acaso.
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
TOCAIA NO ASFALTO É RESTAURADO
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
TRUFFAUT: CINEASTA TERNO E AFETUOSO
Ao contrário do cinema de seus companheiros da Nouvelle Vague - Godard, Rohmer, Chabrol, Rivette, Resnais... racionalista e cerebral, o de François Truffaut é feito com a emoção e o coração, com extrema sensibilidade e uma simpatia incomum pelos seus personagens, que são tratados com ternura, generosidade e afeto. O crítico ferrenho, radical, intransigente, das revistas Cahiers du Cinema e Arts et Spetacules, que ataca em seus escritos o cinema clássico francês e o realismo psicológico de acadêmicos como Claude Autant Lara, Julien Duvivier, entre outros, sofre uma espécie de metamorfose quando passa a realizar filmes, transformando-se num cineasta terno e amável.
Os Incompreendidos (Les Quatre Cents Coups, cuja tradução literal é Os Quatrocentos Golpes), além de inaugurar a Nouvelle Vague – juntamente com Acossado, de Godard, Hiroshima, de Resnais... -, dá início à carreira de Truffaut como realizador de longas. E, neste 2009, a distância deste filme é de exatos 50 anos. Aqui também começa o ciclo dedicado a Antoine Doinel (sempre interpretado por Jean Pierre Léaud), um personagem com evidentes elementos autobiográficos, através do qual aborda o rito de passagem da infância à idade adulta. É a nostalgia da adolescência que Truffaut reflete nos filmes do ciclo Doinel, a fugacidade do tempo e a ânsia de amar, a chegada a idade adulta, o casamento... (Antoine et Colette, 1982, episódio de O Amor aos Vinte Anos/L’Amour a vints ans; Beijos Proibidos/Baisers Volés, 1968, Domicílio Conjugal/Domicile Conjugal, 1970, e; Amor em Fuga/L’Amour en Fuite, 1978).
(Em Os Incompreendidos, Truffaut, avant la lettre, considerando a época, alude à Nouvelle Vague e a seu amigo e colega Jacques Rivette, quando os pais de Antoine – que, por sinal, nos outros filmes do ciclo estão sempre ‘indo ao cinema’ – decidem ir ver Paris Nous Appartient, de Rivette, filme emblemático, apesar de pouco conhecido do movimento francês, e, de volta, no automóvel, consideram-no ‘muito bom’ – melhor homenagem impossível).
Romântico, sem, contudo, abandonar a visão irônica e dolorosa das relações afetivas, Truffaut tem a sua obra-prima já na terceira incursão longametragista: Uma Mulher para Dois/ Jules et Jim (1961), crônica de uma relação triangular (Oskar Werner, Jeanne Moreau...) baseada no texto literário de Henri Pierre Roché, autor que lhe serviria de inspiração para realizar, dez anos depois, abordando a mesma temática da dificuldade de amar, As Duas Inglesas e o Continente/ Les Deux Anglaises et le Continent (1971). O problema da comunicação no amor, aliás, do amor impossível, en fuite, é uma constante na filmografia de Truffaut, como revelam A História de Adele H/ L’Histoire de Adele H (1976), com Isabelle Adjani, A Mulher do Lado/ La Femme de la Cote (1981), entre outros.
Se seus colegas da Nouvelle Vague procuram elaborar uma linguagem que desconstrói o discurso cinematográfico tradicional, revertendo os cânones da lei de progressão dramática griffithiana, François Truffaut não pretende nunca em seus filmes dissolver a estrutura lingüística, mas, ao contrário, busca desesperadamente a fluência narrativa, o toque mágico capaz de envolver o espectador a fazê-lo pensar que não está no mundo’. É verdade que brinca com a metalinguagem, mas num sentido de reverência e ao cinema como em A Noite Americana/ La Nuit Americaine (1973), belíssima homenagem ao processo de criação cinematográfica onde Truffaut comparece como ele mesmo no papel de um diretor que faz um filme. O filme dentro do filme, portanto.
Outra vertente temática na obra truffautiana é a dominante policial, influência, na certa, de sua admiração por Alfred Hitchcock – seu livro de entrevista com este, Hitchcock/Truffaut, da Brasiliense (e, agora, em outra edição pela Cosac ou Companhia das Letras), é, simplesmente, uma aula magna de cinema. Há Hitchcock em Fareinheit 451 (1966), que faz na Inglaterra, com o mesmo Oskar Werner de Jules et Jim, baseado na ficção-científica de Ray Bradbury. Outra obra alusiva ao mestre é A Noiva Estava de Preto/ La Mariée Était em Noir (1967), com Jeanne Moreau ou, mesmo, Tirez sur le Pianiste, segundo filme (1960), e A Sereia do Mississipi/ La Sirene du Mississipi (1969), no qual declara, através das imagens em movimento, a sua paixão momentânea, Catherine Deneuve, que trabalha, aqui, ao lado de Jean Paul Belmondo. E no seu canto de cisne De Repente num Domingo/ Vivement Dimanche (1984), cujo ‘claro/escuro’, proposital, vem em auxílio de uma proposta estilística em função do film noir francês. Sem esquecer o elaborado, como mise-en-scène, Um só pecado (Le peau douce, 1963).Que, revisto agora, considero um dos melhores filmes do cineasta.
Autor, porque dono de um estilo próprio, marcante, ainda que com um universo temático diversificado, François Truffaut, na sua filmografia, envereda por assuntos diversos, a exemplo de O Garoto Selvagem/ L’Enfant Sauvage (1970), filme sobre a luta de um médico, no século XIX, para ‘domar’, um menino bárbaro criado sem contato com a civilização – influência possível para Werner Herzog em O Enigma de Kaspar Hauser. Na Idade da Inocência/ L’Argent de Poche (1976), experiência na qual, repetindo Jean Vigo (Zero de Conduite), o universo que retrata é constituído somente de crianças. Sem esquecer O Último Metrô/ Le Dernier Metro (1980), uma volta ao passado, Segunda Guerra Mundial na França ocupada, para valorizar, numa situação-limite, a importância dos pequenos gestos.
Em todos os filmes de François Truffaut, um denominador comum: a narrativa que sobrepuja a fábula, a doce fabulação que advém de um sentido preciso de mise-en-scène, o touch truffautiano, sempre terno, apaixonado, capaz de levar ao espectador o prazer do autor com o que está a filmar e o prazer, imenso, de se assistir ao que se está a ver.
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
NO TEMPO DO CINEMASCOPE
Se, com a entrada deste formato todos os cinemas tiveram que se adaptar a ele, com as lentes anamórficas e mudança de telas, os exibidores, no entanto, não modificaram as janelas dos projetores adequados para o Vistavision. Resultado: todos os filmes da Paramount (incluindo a maioria dos de Hitchcock) foram exibidos no Brasil cortados pelos lados. Somente agora, com as cópías em DVD é que, pela primeira vez, os brasileiros estão a ver os filmes em Vistavision na sua integridade.
Infelizmente, a maioria das pessoas tá pouco se lixando para o formato dos filmes. O que interessa é a história, a trama, a intriga. Fiquei estarrecido quando ouvi de um jovem que prefere ver os filmes dublados porque tem preguiça de ler as legendas. A incultura cinematográfica cresce a passos largos. O cinéfilo do pretérito virou um simples consumidor de filmes e, como já disse aqui, o ir ao cinema atualmente é diferente do ir ao cinema no passado. O ir ao cinema hoje é uma das fases do processo do 'shoppear'. Não se vai mais ao cinema, mas se vai ao shopping e, estando nele, ao cinema. Os consumidores, débeis mentais, não possuem, portanto, um propósito estabelecido a priori de ir ao cinema ver determinado filme. Entra-se numa sala 'multiplexada' por causa de um cartaz, de um rosto bonito, de determinado ator ou atriz ou pela sugestão da ação, violência e sexo.
Era uma outra cultura, uma outra época. O cinema como casa de espetáculos já morreu e está devidamente morto e enterrado.